01/04/2011 - 0:00
● Patrimônio do Vale de Bamiyan segue processo de recuperação
Em duas reuniões realizadas no início de março em Paris, autoridades do Afeganistão e peritos internacionais delinearam os próximos passos para a preservação da paisagem cultural e das ruínas arqueológicas budistas do Vale de Bamiyan, destruídas há dez anos pelos extremistas islâmicos talebãs, que então governavam o país. Desde 2003 as ruínas estão na lista do Patrimônio Mundial em Perigo da Unesco. Entre as conclusões anunciadas, decidiu-se por ora não reconstruir totalmente uma das esculturas, em virtude de razões científicas e financeiras. O nicho oeste será consolidado e permanecerá vazio, como testemunho da violência ocorrida, enquanto um estudo de viabilidade determinará se uma remontagem parcial de fragmentos do Buda do nicho oriental pode ser uma opção para os próximos anos. Além disso, constatou-se a necessidade da construção de um museu central e de museus menores espalhados pelo vale, a fim de preservar e mostrar os achados locais dentro da área do Patrimônio Mundial.
Um plano será desenvolvido em estreita colaboração com as autoridades locais a fim de servir como referência para todas as intervenções futuras, sempre levando em consideração o objetivo de proteger e preservar toda a paisagem cultural do Vale de Bamiyan, respeitandose todos os elementos arqueológicos e arquitetônicos necessários para o desenvolvimento futuro da área. Com a concretização desses passos, o local deverá ser removido da lista do Patrimônio Mundial em Perigo daqui a dois anos.
Os participantes das reuniões concluíram ainda que a região – com sua história única, patrimônio tangível e intangível e suas comunidades – constitui um ambiente fértil para a aprendizagem de como transformar um ato destrutivo em uma oportunidade para reforçar a paz, a tolerância e o desenvolvimento por meio da cultura para as gerações futuras.
● Prêmio da Paz para Avós da Plaza de Mayo
Em reunião realizada em março em Paris, o júri do Prêmio da Paz Félix Houphouët-Boigny decidiu agraciar, pelo ano de 2010, as Avós da Plaza de Mayo, da Argentina, por sua luta “incansável pelos direitos humanos e pela paz, levantando-se contra a opressão, a injustiça e a impunidade”.
As Avós da Plaza de Mayo são uma organização não governamental que tem lutado para preservar e promover os direitos humanos por mais de 30 anos. Foi fundada em 1977 para localizar as famílias das crianças sequestradas durante a repressão política da ditadura militar na Argentina. Pretende-se assegurar que tais violações dos direitos das crianças não voltem a acontecer, exigindo o julgamento de todos os responsáveis pela tragédia.
Criado em 1989 e atribuído anualmente pela Unesco, o Prêmio da Paz Félix Houphouët-Boigny (nome do primeiro presidente da Costa do Marfim) homenageia pessoas, instituições e organizações que contribuíram significativamente para a promoção, a investigação, a preservação ou a manutenção da paz, levando em conta a Carta das Nações Unidas e a Constituição da Unesco. A lista de laureados anteriores inclui Nelson Mandela e Frederik W. De Klerk, Yitzhak Rabin, Yasser Arafat, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, e o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva.
A data da cerimônia de entrega do prêmio – que abrange a quantia de US$ 150 mil, uma medalha de ouro e um diploma – será definida entre a Unesco e as Avós da Praça de Mayo.
● Guerras roubam o futuro de 28 milhões de crianças
Conflitos armados estão tirando o futuro de 28 milhões de crianças, alerta o Relatório de Monitoramento Global 2011 da Unesco, lançado em março. Os autores do trabalho, intitulado A Crise Oculta: Conflitos Armados e Educação, afirmam que o mundo não está no caminho para atingir, em 2015, as seis metas de Educação para Todos que mais de 160 países se comprometeram a alcançar ao assinarem um tratado em 2000. Embora tenha havido progressos em muitas áreas, a maioria dos objetivos não será cumprida por uma larga margem – em especial nas regiões dilaceradas por conflitos.
“Os conflitos armados ainda são um grande obstáculo para o desenvolvimento humano em muitas partes do mundo, mas seu impacto na educação é altamente negligenciado”, disse a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova. “Esse relatório pioneiro documenta a escala dessa crise oculta, identifica suas causas básicas e oferece propostas sólidas para mudanças.”
Do número total de crianças do mundo em idade de cursar o ensino fundamental que não estão matriculadas em escolas, 42% – 28 milhões – moram em países pobres afetados por algum conflito.
O relatório deste ano (o nono) traz uma agenda abrangente para a mudança, incluindo ações mais duras contra as violações de direitos humanos, uma reforma das prioridades de auxílio global, direitos fortalecidos para pessoas deslocadas por guerras e mais atenção para as formas pelas quais as falhas na educação podem aumentar o risco de conflitos.
Entre 1999 e 2008, 35 países foram afetados por confrontos armados. Crianças e escolas estão na linha de frente desses conflitos, com salas de aula, professores e alunos sendo vistos como alvos legítimos. No Afeganistão, pelo menos 613 investidas contra escolas foram registradas em 2009, ante 347 em 2008. Insurgentes no noroeste do Paquistão fizeram vários ataques a escolas femininas. Em um deles, 95 meninas foram feridas. No norte do Iêmen, 220 escolas foram destruídas, danificadas ou saqueadas durante combates entre o governo e forças rebeldes ocorridos em 2009 e 2010.
Mais informações e acesso ao pdf do relatório: http:// www.unesco.org/new/en/education/themes/leading-theinternational- agenda/efareport/reports/2011-conflict/
● Radiografia da diversidade cultural nas pequenas ilhas
A noção de uma “pequena ilha” geralmente dispara várias associações na mente dos habitantes dos continentes. Remota, isolada, insular, paradisíaca são algumas das fantasias mais comuns sobre as ilhas. No entanto, os pequenos Estados insulares e suas populações estão longe de ser isolados ou culturalmente homogêneos. Pelo contrário, as ilhas têm sido lugares onde povos de diferentes culturas se encontram uns aos outros e vivem em estreita proximidade. As ilhas são mais bem entendidas como centros dinâmicos da interação cultural – como “encruzilhadas de culturas”.
Baseado nos resultados de um simpósio da Unesco realizado em 2007 nas Seychelles, o livro Islands as Crossroads – Sustaining Cultural Diversity in Small Island Developing States (Ilhas como Encruzilhadas – Mantendo a Diversidade Cultural em Estados em Desenvolvimento em Pequenas Ilhas), lançado em março, reúne estudiosos de várias disciplinas das três principais regiões insulares do mundo – o Caribe, o Oceano Índico e o Pacífico – para explorar as maneiras pelas quais as populações das pequenas ilhas viveram, e continuam a viver, e suas sociedades culturalmente diversas. Antropólogos, historiadores, economistas, arqueólogos e outros pesquisadores traduzem de forma didática a complexidade e a dinâmica das sociedades nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento.
Outras informações sobre o livro: http://publishing.unesco. org/details.aspx?Code_Livre=4799