17/07/2025 - 11:25
Método que usa DNA de três pessoas – pais e uma doadora – pode evitar que crianças nasçam com doenças mitocondriais graves herdadas da mãe. Graças a ele, pesquisadores anunciaram nascimento de 8 bebês saudáveis.Uma técnica experimental que usa DNA de três pessoas para impedir a transmissão de doenças raras devastadoras das mães para os filhos resultou no nascimento de oito bebês saudáveis, relataram nesta quarta-feira (16/07) especialistas das Universidades de Newcastle, no Reino Unido, e de Monash, na Austrália, em artigo publicado no jornal científico New England Journal of Medicine.
São quatro meninos e quatro meninas, incluindo um par de gêmeos idênticos, que nasceram com saúde e estão todos bem após o tratamento realizado por uma equipe em Newcastle. Uma das mulheres ainda está em período de gestação.
Dos oito bebês nascidos, três têm menos de seis meses, dois têm entre seis e 12 meses, um tem entre 12 e 18 meses, outro tem entre 18 e 24 meses e uma criança tem mais de dois anos. Todos são saudáveis e estão atingindo todos os marcos de desenvolvimento.
A maior parte do DNA – o material genético herdado da mãe e do pai – é encontrada no núcleo das células, mas também em estruturas chamadas mitocôndrias, localizadas fora do núcleo e herdadas exclusivamente da mãe.
O método científico, conhecido como transferência pronuclear, foi desenvolvido para evitar que crianças nasçam com doenças mitocondriais potencialmente fatais, capazes de danificar gravemente órgãos como cérebro, músculos, fígado, coração e rins.
DNA de três pessoas
A técnica tenta evitar o problema usando mitocôndrias saudáveis de um óvulo doado. Cientistas coletam material genético do óvulo ou embrião da mãe, que é então transferido para um óvulo ou embrião de uma doadora que possui mitocôndrias saudáveis, mas cujo DNA essencial restante foi removido.
Dessa forma, o uso desse método significa que o embrião tem DNA de três pessoas – do óvulo da mãe, do espermatozoide do pai e das mitocôndrias da doadora.
Foi necessária uma mudança na lei do Reino Unido em 2016 para que essa técnica pudesse ser posta em prática. O método também é permitido na Austrália, mas ainda é proibido em muitos outros países, incluindo os Estados Unidos.
Um dos oito bebês nascidos apresentou níveis de mitocôndrias anormais ligeiramente acima do esperado, disse Robin Lovell-Badge, cientista de células-tronco e genética do desenvolvimento do Instituto Francis Crick, que não esteve envolvido na pesquisa. Segundo o pesquisador, esse nível ainda não era considerado alto o suficiente para causar doenças, mas deveria ser monitorado à medida que o bebê se desenvolve.
“Triunfo da inovação científica”
Andy Greenfield, especialista em saúde reprodutiva da Universidade de Oxford, chamou o trabalho de “um triunfo da inovação científica” e disse que o método de troca de mitocôndrias seria usado apenas com um pequeno número de mulheres para as quais outras maneiras de evitar a transmissão de doenças genéticas, como testar embriões em estágio inicial, não eram eficazes.
Lovell-Badge disse que a quantidade de DNA da doadora é insignificante, observando que qualquer criança resultante não teria características da mulher que doou as mitocôndrias saudáveis. O material genético do óvulo doado representa menos de 1% do bebê nascido após essa técnica.
“Se você fez um transplante de medula óssea de uma doadora, terá muito mais DNA de outra pessoa”, explicou.
No Reino Unido, todo casal que deseja realizar a fecundação utilizando mitocôndrias doadas precisa ser aprovado pelo órgão regulador de fertilidade do país. Até este mês, 35 pacientes foram autorizadas a se submeter à técnica.
Impacto desconhecido nas futuras gerações
Os críticos alertam que é impossível saber o impacto que esse tipo de técnica inovadora poderá ter nas gerações futuras.
“Atualmente, a transferência pronuclear não é permitida para uso clínico nos EUA, em grande parte devido a restrições regulatórias sobre técnicas que resultam em alterações hereditárias no embrião”, disse o pesquisador Zev Williams, da Universidade de Columbia, nos EUA, que não esteve envolvido com o estudo.
Ele diz que a manutenção ou não das restrições “dependerá da evolução das discussões científicas, éticas e políticas.”
Por cerca de uma década, o Congresso americano incluiu disposições em projetos de lei anuais que proíbem as agências regulatórias de aceitarem solicitações para pesquisas clínicas envolvendo técnicas “nas quais um embrião humano é intencionalmente criado ou modificado para incluir uma modificação genética hereditária”.
Contudo, nos países onde a técnica é permitida, seus defensores dizem que ela pode ser uma alternativa bastante promissora para algumas famílias.
rc/ra (DPA, AP)