13/02/2022 - 13:34
Enquanto autoridades de muitos países optam por afastar manifestantes contrários a passaportes de vacinas e restrições usando gás lacrimogêneo e canhões de água, a Nova Zelândia lançou mão de uma estratégia curiosa.
O presidente do Parlamento, Trevor Mallard, recorreu a êxitos musicais antigos e hits grudentos para tentar acabar com um protesto em Wellington, a capital do país.
Neste sábado (12/02), mesmo após apelos e outras estratégias para afugentar as pessoas, centenas de manifestantes continuavam acampados em frente ao Parlamento pelo quinto dia consecutivo, num protesto que chegou a reunir cerca de 3.000 pessoas, segundo a polícia neozelandesa.
Para tentar encorajar os manifestantes a irem embora, Mallard recorreu ao sistema de alto-falantes do Parlamento para difundir músicas repetidamente, como “Macarena”, sucesso da década de 1990 do grupo espanhol Los Del Río, hits do cantor americano Barry Manilow, bastante popular nos anos 1970, e “Baby Shark”, música infantil extremamente popular na internet.
As músicas eram intercaladas com mensagens educativas sobre a covid-19 e a importância das vacinas, segundo as agências de notícias EFE e Associated Press.
Manifestantes respondem com mais música
Para tentar “abafar” o som do sistema do Parlamento, os manifestantes responderam tocando sua própria playlist em seus alto-falantes. Eles também apelaram à buzina de um caminhão para tentar manter o protesto, inspirado pelos caminhoneiros canadenses do movimento “Comboios da Liberdade”.
A lista musical dos manifestantes incluiu o tema “We’re Not Gonna Take It”, que pode ser traduzido por de forma literal como “Nós não vamos aguentar isso”, da banda americana de metal Twisted Sister.
A medida do presidente do Parlamento provocou várias reações nas redes sociais, incluindo a do cantor britânico James Blunt, que, numa mensagem irônica no Twitter, pediu para ser levado em conta na playlist do governo. No domingo à tarde, “You’re Beautiful”, de Blunt, foi adicionada à lista de reprodução.
Esforços frustrados
Apesar dos esforços, nem as músicas nem uma tempestade que tem assolado Wellington desde sábado, com chuvas fortes e ventos de até 130 quilômetros por hora, dissuadiram os manifestantes: mais de 400 pessoas continuavam acampados em frente ao Parlamento neste domingo.
O vice-primeiro-ministro, Grant Robertson, disse à imprensa local que havia um “elemento triste” no protesto. “Todo neozelandês tem direito a protestos pacíficos, o problema é que eles foram muito além disso”, disse. “Acho a retórica desses protestos altamente perturbadora. Há um elemento triste nisso, há um elemento de teoria da conspiração pelo qual as pessoas foram sugadas”, acrescentou.
Outras estratégias
Antes das músicas, outras estratégias não agressivas haviam sido usadas. Na quinta-feira, a polícia neozelandesa deteve 122 pessoas. Desde então, desistiu de fazer prisões e as autoridades tentaram encharcar o assentamento improvisado, ligando os aspersores de irrigação dos jardins.
No entanto, os manifestantes não se afugentaram e a estratégia serviu apenas para tornar o local um pântano lamacento antes mesmo da chegada do ciclone Dovi.
O superintendente Scott Fraser disse que a polícia continua “explorando opções” para resolver a situação”.
Com a chegada do ciclone, a polícia pediu aos cidadãos que evitassem todas as viagens não essenciais, já que muitas estradas estavam bloqueadas por deslizamentos de terra e enchentes.
Várias casas ao norte de Wellington foram evacuadas por causa de deslizamentos. Muitas residências ficaram sem eletricidade em várias áreas do país, e o corpo de bombeiros respondeu a vários chamados de quedas de árvores em casas e linhas de energia, bem como destelhamentos e inundações.
Regras rígidas
O governo da Nova Zelândia, da primeira-ministra trabalhista Jacinda Ardern, adotou uma das estratégias mais rigorosas do mundo para combater a pandemia de covid-19. O plano implicou o fechamento das fronteiras do país e a obrigatoriedade da vacinação para certos profissionais, incluindo professores, médicos, enfermeiros, policiais e militares.
Muitos manifestantes também se opõem à obrigatoriedade do uso de máscara em certas situações, como nas lojas ou nas salas de aula para crianças com mais de oito anos.
A estratégia do governo permitiu que o país de cerca de cinco milhões de habitantes registasse até agora apenas 53 mortes por covid-19, entre menos de 20.000 casos de infeção, e com 77% da população vacinada.
le (Lusa, EFE, AP)