11/04/2025 - 12:00
Não há limite de velocidade em cerca de 70% das autoestradas alemãs, as Autobahns. Limitação era defendida por social-democratas, mas não aparece no programa da nova coalizão de governo liderada por conservadores.A nova coalizão de governo da Alemanha não contempla a imposição de um limite geral de velocidade em todas as autoestradas federais do país, as Autobahns.
O programa de governo da coalizão, divulgado na quarta-feira (11/04) não faz nenhuma menção a planos para impor limites, uma antiga bandeira de grupos ambientalistas e especialistas em mobilidade.
Atualmente, não há limite de velocidade em cerca de 70% das autoestradas alemãs, com exceção de alguns trechos próximos de áreas urbanas ou de trânsito intenso. Na maioria vigora apenas uma “velocidade recomendada” de 130 km/h.
Dessa forma, não é incomum observar carros trafegando a mais de 200 km/h em diversos trechos. A falta de limite é até mesmo tratada como atração turística por locadoras de automóveis esportivos que propagandeiam seus serviços no exterior.
Líder conservador celebra falta de limitação
Há anos a limitação da velocidade gera debates acalorados na Alemanha, que se refletem também na política.
Vencedor da última eleição do país, o bloco conservador CDU/CSU, hoje liderado pelo futuro chanceler federal Friedrich Merz, sempre se posicionou contra iniciativas de limitação. Já o Partido Social-Democrata (SPD), que fechou uma aliança com os conservadores para compor o novo governo, vinha se posicionando como favorável.
No entanto, como mostrou o programa do novo governo, que deve tomar posse em maio, os conservadores parecem ter prevalecido na questão.
O líder da CSU, o governador bávaro Markus Söder, chegou a celebrar na rede X que a falta de limite deve ser mantida.
“Cumprimos nossa promessa: continuaremos sem limite de velocidade geral no trânsito das rodovias alemãs. Em vez de proibições generalizadas, confiamos no bom senso, na tecnologia moderna e na segurança rodoviária direcionada. Conosco, a Alemanha continuará sendo a terra da mobilidade – rápida, segura e sustentável, porque o progresso precisa de liberdade – mesmo na estrada”, escreveu Söder.
Limitar ou não?
Nas últimas décadas, diversas tentativas por um limite de velocidade generalizado têm fracassado. Isso, apesar de mais da metade da população ser a favor.
Organizações ambientalistas, sindicatos da polícia e associações de ajuda às vítimas de acidentes de trânsito estão entre os que reivindicam um limite de velocidade na Alemanha, também pleiteando um máximo de 80 km/h nas estradas rurais, em vez dos atuais 100 km/h. Segundo estimativas do setor de seguros, tal medida de fato favoreceria a segurança nessas vias.
De acordo com cálculos divulgados ano passado pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, um limite de 120 km/h nas rodovias alemãs pouparia o equivalente a 4,6 milhões de toneladas de CO2 por ano. Em relação às emissões de 2018, seria uma redução de 2,9%.
Os defensores da medida também argumentam que haveria menos acidentes, pois carros que rodam mais devagar freiam mais rápido.
Na prática, 77% dos motoristas já trafegam voluntariamente a menos de 130 km/h na autobahn.
Segundo uma consulta da seguradora Allianz, os opositores do limite são sobretudo homens, motoristas que percorrem mais de 50 mil quilômetros por ano e jovens abaixo de 24 anos, alegando temer mais engarrafamentos e viagens mais alongadas. Alguns opositores também argumentam que o custo de um impacto ambiental mínimo seria a forte restrição à mobilidade da população.
Há ainda discrepâncias sobre até que ponto uma velocidade máxima reduziria de fato os acidentes. Segundo o automóvel-clube ADAC, atualmente, na Alemanha, não ocorrem proporcionalmente mais acidentes graves nas rodovias federais do que em países onde há limites.
jps (ots)