27/07/2022 - 16:54
Dois estudos publicados nesta terça-feira (26/07) pela renomada revista científica Science concluem que a pandemia de covid-19 começou no mercado de animais da metrópole chinesa de Wuhan – e não em um laboratório chinês.
Um dos estudos é uma análise geográfica, que mostra que os primeiros casos, detectados em dezembro de 2019, estavam concentrados no mercado de Huanan, ao contrário dos registrados nos meses seguintes, que estavam espalhados por bairros altamente populosos. No outro estudo, os pesquisadores examinaram os dados genéticos dos primeiros casos do coronavírus SARS-CoV- 2 e seguiram duas linhagens do patógeno. Mais uma vez, os cientistas chegaram à conclusão de que o vírus provavelmente foi transmitido de animais no mercado de Huanan para humanos.
O primeiro estudo analisou os locais de residência dos primeiros 155 casos identificados de covid-19 em Wuhan e concluiu que eles estavam concentrados em comerciantes ou pessoas que compravam ou vendiam animais vivos no mercado de Huanan. Além disso, entre os casos estudados, havia pessoas não ligadas diretamente ao mercado, mas que viviam próximas a ele.
Os cientistas também analisaram amostras retiradas do mercado em janeiro de 2020, por exemplo, de uma gaiola e de carrinhos. As análises mostraram que as amostras positivas para o SARS-CoV-2 estavam concentradas no sudoeste do mercado, precisamente onde eram vendidos os animais vivos. No entanto, os pesquisadores não conseguiram determinar de qual espécie animal o vírus saltou para os humanos.
O segundo estudo é baseado na análise do genoma do vírus que infectou as primeiras pessoas. A análise conclui que duas linhagens do vírus, A e B, existiam antes de fevereiro de 2020 e que essas duas linhagens provavelmente resultaram de dois eventos separados de transmissão humana, ambos no mercado de Wuhan. Estudos anteriores sugeriram que a linhagem B havia evoluído da A. Segundo essa análise, é muito improvável que o vírus tenha circulado amplamente entre humanos antes de novembro de 2019.
Informações detalhadas
Mais de dois anos e meio após o começo da pandemia, segue o debate entre especialistas sobre a origem do vírus SARS-CoV-2. A China tem sido regularmente acusada de reter informações ou de não cooperar plenamente com investigações internacionais.
“As pandemias não exigem que nomeemos um responsável, mas exigem que as entendamos”, explica Kristian Andersen, um dos autores dos estudos.
Segundo os investigadores, embora permaneçam “áreas cinzentas”, as informações disponíveis sobre o início da pandemia são bastante detalhadas.
“Há um sentimento geral de que não há informação que possa nos dizer algo sobre a origem da pandemia de covid-19. Isso é simplesmente incorreto”, destaca Andersen.
Após os primeiros casos de covid-19, especulou-se que o vírus poderia ter escapado em um acidente no instituto de virologia em Wuhan, onde são realizadas pesquisas sobre coronavírus. Uma equipe de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) viajou à China 12 meses depois para investigar a situação e classificou a chamada teoria laboratorial como “extremamente improvável”.
Um dos autores dos estudos publicados nesta terça-feira, Michael Worobey, virologista da Universidade do Arizona, assinou uma carta em 2021 em que pedia que fosse seriamente considerada a hipótese de uma fuga de um laboratório em Wuhan.
No entanto, com os dados analisados desde então, ela agora considera “que simplesmente não é plausível que o vírus tenha sido introduzido de outra forma que não seja através do comércio de animais no mercado de Wuhan”.
le (Lusa, ots)