Após um estudo publicado no New England Journal of Medicine, um medicamento para combater a obesidade grave deixou os cientistas entusiasmados. Além de fazer o paciente emagrecer, a droga ainda serve como uma ferramenta contra os problemas subjacentes relacionados à obesidade, como diabetes, hipertensão, apneia do sono e articulações artríticas dolorosas.

A medicação, chamada semaglutida (comercializada como Wegovy), é uma droga que deve injetada semanalmente. O estudo publicado em 2021, que envolveu 1.961 indivíduos com índice de massa corporal na faixa de obesidade ou logo abaixo dessa faixa, mas com problemas de saúde relacionados ao peso, descobriu que, em média, as pessoas que tomaram semaglutida perderam 14,9% de seu peso corporal inicial em 68 semanas, em comparação com apenas 2,4% para um grupo que recebeu injeções de placebo.

Esses resultados são quase o dobro do que as drogas mais antigas para perda de peso alcançam, de acordo com Robert Kushner, da Northwestern University, um dos principais investigadores do estudo. As evidências da pesquisa sugerem que, junto com a perda de peso, ocorrem reduções na pressão sanguínea, glicose no sangue e lipídios não saudáveis, bem como proteína C-reativa (uma medida da inflamação).

Kushner ressaltou que a droga não é apenas direcionada para perda de peso, mas para reduzir o risco associado de doenças crônicas. “Queremos ter certeza de que nossos pacientes estão ficando mais saudáveis, não apenas mais magros”, afirmou ele.

A semaglutida é amplamente vista como um avanço. O medicamento imita um hormônio intestinal chamado peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), que atua no pâncreas para aumentar a produção de insulina, no estômago para retardar o esvaziamento e no cérebro para diminuir o apetite e sinalizar a saciedade.

Os pacientes podem comer menos e não serem incomodados pela fome e pelos desejos. Outros medicamentos estão em desenvolvimento que combinam dois ou três hormônios envolvidos no apetite.

O problema é que essas drogas devem ser usadas ao longo da vida, assim como os medicamentos para diabetes, ou então os benefícios são perdidos. De fato, um estudo de 2021 liderado por Domenica Rubino, diretora do Washington Center for Weight Management and Research em Arlington, Virgínia (EUA), descobriu que as pessoas que tomam semaglutida recuperam o peso quando o medicamento é interrompido.

A premissa de tais tratamentos é que a obesidade grave não é uma condição transitória relacionada principalmente ao comportamento e a fatores ambientais, como muitas pessoas a veem. Em vez disso, na visão dos Institutos Nacionais de Saúde e da Associação Médica Americana, é uma doença crônica e recidivante, que perturba múltiplos sistemas fisiológicos.

Ainda assim, a perspectiva de uma vida inteira de injeções semanais para manter a perda de peso levanta uma série de questões, começando pela segurança. Qualquer coisa que altere funções tão fundamentais quanto o metabolismo e o equilíbrio energético pode ter efeitos colaterais significativos. A pílula dietética Fen-Phen, agora proibida, causou danos às válvulas cardíacas, por exemplo.

A maioria das pessoas que tomam semaglutida sente náuseas e diarreia, mas elas geralmente são mitigadas iniciando-as com uma dose baixa. No estudo do New England Journal of Medicine, apenas 4,5% dos receptores de semaglutida desistiram devido a sintomas gastrointestinais.

Kushner também aponta que uma versão de dose mais baixa de semaglutida, comercializada como Ozempic, tem sido usada para diabetes tipo 2 há mais de quatro anos, e o perfil de segurança é bom, segundo ele. Mas uma dose mais alta tomada ao longo de muitas décadas pode ser outra questão.

A pressa em adotar uma droga injetável vitalícia deixa alguns pesquisadores da obesidade nervosos. “Como alguém que estuda intervenções no estilo de vida, sinto que nosso sistema de saúde está focado apenas no tratamento e não na prevenção. Apenas esperamos que as pessoas fiquem doentes para podermos vender-lhes coisas como drogas”, afirmou Krista Varady, professora de nutrição da Universidade de Illinois, Chicago (EUA).

Os especialistas concordam que prevenir, sem dúvida, seria melhor, mas Rubino afirma que muitos de seus pacientes já estão doentes. Sua equipe sempre promove uma dieta mais saudável e mais exercícios, segundo ela, e os medicamentos fornecem suporte fisiológico para essas mudanças.