31/10/2025 - 14:40
Coach de relacionamentos e pastor diz ter descoberto ao ler artigo na Wikipédia que sua avó havia se relacionado e tido dois filhos com Heinrich Himmler, líder da SS e braço direito de Hitler na execução do HolocaustoO alemão Henrik Lenkeit diz que levou um susto ao ver na internet uma foto de sua avó em uma página sobre o líder nazista Heinrich Himmler. Aquela velhinha, que agradava o neto com chocolate quando ele a visitava na cidade de Baden-Baden, fora secretária pessoal e amante do segundo homem mais poderoso do Terceiro Reich depois de Adolf Hitler, e um dos principais arquitetos do Holocausto.
Era uma tarde de agosto de 2024 quando o alemão Henrik Lenkeit, um coach de relacionamentos e pastor evangélico, resolveu assistir no seu computador um documentário sobre Heinrich Himmler, o segundo homem mais poderoso do Terceiro Reich depois de Adolf Hitler, e um dos principais arquitetos do Holocausto.
Depois de ver o documentário, ele relatou que resolveu saber mais sobre o tema no verbete de Himmler na enciclopédia online Wikipédia. Foi quando se deparou no artigo com um retrato de uma jovem Hedwig Potthast, que fora secretária pessoal e amante de Himmler, e com quem teve dois filhos.
Ela tinha as mesmas feições e o nome de sua avó. Além disso, os dois filhos que Hedwig teve com Himmler se chamavam assim como seu tio de lado materno, Helge, e sua mãe, Nanette Dorothea. Nesse momento, não restava mais dúvidas.
“Totalmente chocado”
“Eu fiquei totalmente chocado”, conta Lenkeit à revista alemã Der Spiegel. Em julho passado, ele procurou a publicação por e-mail para contar sobre sua história, cuja veracidade o periódico afirma ter confirmado através de documentos, fotografias e consultas com historiadores.
Mas a publicação admite ser difícil comprovar se o coach de relacionamento só ficou mesmo sabendo do parentesco com Himmler havia cerca de um ano, como afirma, já que os outros descendentes do líder nazista não querem falar sobre o caso e recusaram as tentativas contato feitas pela revista. Os pais e o tio de Lenkeit já morreram.
O historiador militar Jens Westemeier, que estudou extensivamente a história dos membros da SS – organização paramilitar nazista chefiada por Himmler –, considera plausível que Lenkeit não soubesse mesmo de nada. “Esse é um comportamento típico em famílias assim”, afirma à Der Spiegel.
Lenkeit, que mora desde 2018 no sul da Espanha com sua mulher, mexicana, e três filhos, lembra que, diante do computador, precisou de alguns momentos para se recobrar do choque. E apesar das evidências, não conseguia acreditar no que tinha visto na internet. Diz que foi até a esposa e perguntou: “Então eu sou mesmo o filho desse cara?”. Ao que ela respondeu: “Bom, parece que sim”.
Ele conta que por um tempo tentou se convencer de que aquilo não era verdade, tinha esperança de que se tratava de um erro. Até que contatou a cientista política Katrin Himmler, sobrinha-neta de Heinrich Himmler, que havia pesquisado a história da família. Ela ajudou Lenkeit a conseguir a certidão de nascimento de sua mãe. O documento registra o então ministro de Hitler como pai.
“De repente, era descendente de um monstro”
“Minha avó se casou com um homem depois da guerra, adotou o sobrenome dele, e por 47 anos eu o considerei meu avô biológico. Agora eu levava um soco no estômago: meu verdadeiro avô era Heinrich Himmler”, desabafou Henrik Lenkeit em entrevista ao jornal austríaco Tagesanzeiger.
“De repente, me deparei com o fato de ser descendente de um homem que carregava na consciência a morte de milhões. Um monstro. Além disso, meus pais, que já haviam falecido, mentiram para mim sobre as origens da nossa família durante toda a vida. Meu pai sempre me dizia: ‘Você precisa ser íntegro, direto, honesto'”, recorda-se Lenkeit. “Eu cresci cercado por mentiras.”
Ele contou ao periódico que resolveu vir a público um ano depois porque “o processo de aceitação” levou tempo. E porque, nesse ínterim ele escreveu um livro para o qual busca uma editora.
“Aceitar o fato de que Heinrich Himmler era meu avô é comparável a um processo de luto. Choque, não querer aceitar como verdade, depressão. Minha fé cristã me ajudou a superar isso”, diz o pastor evangélico.” À medida que escrevia, capítulo por capítulo, me tornava cada vez mais consciente do erro que havia sido reprimir tudo isso”, ressalta.
Lenkeit diz que deseja voltar à Alemanha para falar sobre sua história e a de sua família, dar palestras, falar em comunidades religiosas e escolas, além de organizar conferências. Ele afirmou ao semanário Der Spiegel querer fazer de sua própria história uma missão de vida, para ajudar os alemães a aceitar o legado nazista em suas famílias e conseguir repelir as forças de extrema direita no país.
“A ideologia nazista nunca foi erradicada. Isso me incomoda profundamente”, afirma. Para ele, essa é uma das razões pelas quais o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) se tornou o segundo maior partido do parlamento alemão.
