12/03/2019 - 11:31
O que imaginamos quando pensamos nas Galápagos? Tartarugas gigantes, iguanas-marinhas, tentilhões, Darwin e sua teoria da evolução? Sim, claro. Mas as Galápagos são muito mais do que isso – são também uma comunidade de 28 mil habitantes espalhados por quatro ilhas: Santa Cruz, San Cristóbal, Isabela e Floreana. É graças ao seu povo, investido da gestão participativa e sustentável dos recursos do arquipélago, que cerca de 240 mil turistas podem visitar esse paraíso por ano. O Arquipélago de Colón (nome oficial das ilhas), no Equador, é Patrimônio da Humanidade desde 1978 e Reserva da Biosfera listada desde 1984 na rede global administrada pela Unesco.
Situado a mil quilômetros do continente, o arquipélago, lar de um dos mais ricos ecossistemas marinhos do mundo, inclui 13 grandes ilhas e 147 ilhotas e rochas formadas há 4 milhões de anos. A maioria delas são vulcões submarinos, alguns dos quais sobem a mais de 3 mil metros do fundo do Oceano Pacífico. Com área de 7.500 quilômetros quadrados, o Arquipélago de Colón – Reserva da Biosfera de Galápagos cobre toda a superfície terrestre do Parque Nacional de Galápagos.
Esse arquipélago é um dos melhores modelos de interação harmoniosa e mutuamente benéfica entre os humanos e seu ambiente natural. A estratégia de manejo da reserva da biosfera se concentra na produção de alimentos que beneficia a economia local, respeita os ecossistemas e evita a introdução de espécies invasoras que poriam em risco a biodiversidade endêmica.
No coração da reserva, o Parque Nacional de Galápagos é um exemplo bem-sucedido de gestão participativa, que permite à população local viver de forma sustentável dos recursos oferecidos por atividades como pesca, pecuária, turismo ou recreação, através de planos de manejo criteriosos que incluem produção local de alimentos e reciclagem de resíduos.
Em relação ao café, por exemplo, uma cooperativa foi criada em 2015 – reunindo fazendeiros, torrefadores e comerciantes – para melhorar a produção e comercialização das oito variedades de arábica cultivadas durante um século nas ilhas, a 250 metros acima do nível do mar. Famoso por seu sabor, o café de Galápagos é vendido a um preço sete vezes superior ao do café continental. A produção, a colheita e o processamento sem pesticidas cumprem regras de proteção ambiental – que em breve levarão à certificação dessas variedades como denominações de origem.
Educação ambiental
O governo municipal da ilha de Santa Cruz vem desenvolvendo e coordenando iniciativas para a reciclagem de resíduos sólidos nos últimos dez anos. Elas incluem o lançamento de programas de educação e conscientização sobre problemas ambientais, a proibição do uso de materiais de polietileno e o veto à importação de cervejas e refrigerantes em embalagens não recicláveis.
Mas todas essas iniciativas devem seu êxito sobretudo aos moradores, que se apropriam dos projetos de proteção ambiental e salvaguarda. Artesãos empregam materiais recicláveis para fazer objetos; pedreiros usam blocos reciclados ou telhas de vidro para erguer casas; pescadores estão se mobilizando para a proibição de redes de plástico e coletam pessoalmente os resíduos que poluem o mar, enquanto todos os habitantes se envolvem regularmente na limpeza das praias. Desde 2017, metade dos resíduos sólidos das ilhas foi reciclada através de um programa de seleção e recuperação de resíduos, no qual a população local está ativamente envolvida.
Por meio das reservas da biosfera como Ferramenta para a Gestão Costeira e Insular no projeto da Região Sudeste do Pacífico (Bresep, na sigla em inglês), o Programa Homem e Biosfera da Unesco (MAB) trabalha atualmente – em colaboração com o governo do Equador, o Parque Nacional de Galápagos e comunidades locais – para estender a reserva da biosfera a 133.000 km2, de modo que inclua a Reserva Marinha de Galápagos, um santuário para a vida marinha.
Financiado pelo governo flamengo da Bélgica, o Bresep apoia a criação de reservas da biosfera como ferramentas para práticas inovadoras e social, cultural e ambientalmente apropriadas. Também incentiva o estabelecimento de uma rede colaborativa para o intercâmbio de informações e experiências sobre perda de biodiversidade, gestão de zonas costeiras e desenvolvimento sustentável. O projeto envolve principalmente as costas e ilhas do Pacífico Sudeste, localizadas no Chile, Colômbia, Equador, Panamá e Peru.