Lado a lado, aparecem aqui duas imagens de um planeta do tipo de Júpiter que orbita a estrela AF Leporis. As imagens desse planeta foram obtidas com o auxílio do instrumento SPHERE montado no Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, por dois grupos independentes de astrônomos. Eles publicaram artigos sobre a descoberta na revista Astronomy & Astrophysics.

Porque essa estrela em particular foi observada? Duas equipes de investigadores, lideradas por Dino Mesa (INAF, Itália) e Robert De Rosa (ESO, Chile), estudaram catálogos de estrelas compilados pelos satélites espaciais Hipparcos e Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA). Ao longo dos anos, essas duas missões calcularam com precisão as posições e movimentos de estrelas da nossa galáxia usando astrometria. Os planetas exercem uma atração gravitacional sobre as suas estrelas hospedeiras, perturbando por isso a sua trajetória no céu. As duas equipes descobriram que a estrela AF Leporis apresenta uma trajetória perturbada, sinal de que poderia existir um planeta em sua órbita.

Quando observaram esse sistema mais detalhadamente, com o auxílio do VLT, os dois grupos conseguiram obter imagens diretas do planeta que orbita a AF Leporis. Ambos usaram o instrumento SPHERE, com o qual é possível obter imagens corrigidas dos efeitos de desfocagem causados pela turbulência atmosférica, por meio de óptica adaptativa, e também bloquear a luz emitida pela estrela com uma máscara especial, o que permite observarmos o planeta perto dela.

Exoplaneta leve

Os cientistas descobriram que a massa desse exoplaneta é apenas algumas vezes maior que a de Júpiter, o que o torna o exoplaneta mais leve a ser detectado, até esta data, com o uso combinado de medições astrométricas e imagens diretas.

O sistema AF Leporis possui várias características similares ao nosso Sistema Solar. A estrela tem aproximadamente a mesma massa, tamanho e temperatura do Sol e o planeta descreve uma órbita semelhante à órbita que Saturno descreve em torno do Sol. O sistema possui também um cinturão de destroços com características semelhantes ao Cinturão de Kuiper. Uma vez que o sistema AF Leporis tem apenas 24 milhões de anos, — cerca de 200 vezes mais jovem que o Sol –, estudar esse sistema poderá ajudar-nos a compreender melhor como é que o nosso próprio Sistema Solar se formou.