25/08/2016 - 20:31
Há cerca de 25 anos fui convidada a trabalhar para a Associação Nordesta Reflorestamento & Educação. Essa organização não governamental foi fundada em Genebra, Suíça, em 1985, com o objetivo de salvar uma floresta nordestina, situada entre Alagoas e Pernambuco. Fui designada para trabalhar na área social e fiquei ali por 30 dias; logo depois, fui promovida a coordenadora do setor socioambiental.
Foi uma época muito difícil, de mudança para uma área bem diferente, mas aceitei o desafio. A primeira atividade sob minha direção foi o lançamento do projeto Efeito Multiplicador em 14 Estados, simultaneamente. O grande sucesso dele nos levou a fundar a ONG Nordesta Brasil.
Naquela época, tudo era complicado nessa área. Não se falava em reflorestar nascentes ou margens de rios. Quando propúnhamos o reflorestamento aos proprietários – e de forma gratuita –, eles logo pensavam que iríamos nos apossar das suas terras e desistiam. Tivemos um intenso trabalho para explicar que não queríamos a terra; fornecíamos um documento atestando isso. Esclarecíamos dúvidas sobre o Código Florestal e explicávamos que nossa atividade os beneficiaria no futuro, pois, de uma forma ou de outra, eles teriam de recuperar essas áreas. Também falamos sobre o problema da falta de água e o que mais ouvíamos dos fazendeiros era: “Não, a água não acaba nunca, sempre fizemos dessa forma”.
Com um trabalho intenso de conscientização ambiental, conseguimos aos poucos reverter esse cenário, direcionando nossos esforços – principalmente a partir de 2003 – para a bacia do rio São Francisco, que se encontrava intensamente degradada por décadas de exploração intensa e sem critérios.
De início fizemos projetos menores, para pequenas áreas. Em 2006, criamos nosso primeiro projeto de grande porte, e três anos depois fechamos com um importante parceiro, o Grupo Accor Hotels. Essa parceria continua até hoje e vem apresentando excelentes resultados, com mais de 500 mil mudas plantadas e uma área recuperada equivalente a 390 campos de futebol.
Em contraposto à dificuldade inicial para conseguirmos áreas para plantio, hoje existe uma grande demanda de proprietários interessados em recuperar suas áreas. Um fator que contribuiu para essa mudança de atitude foi uma grande seca que atingiu o Sudeste do Brasil nos últimos anos. Muitas das propriedades rurais dessa região ficaram com pouca ou nenhuma água, e aquela frase tão ouvida, “a água não acaba nunca, sempre fizemos dessa forma”, parou de ser dita. Os fazendeiros ficaram assustados e mais interessados pelas causas ambientais.
Outra decisão importante para o sucesso foi a de montar nosso próprio viveiro. Anteriormente as mudas eram adquiridas de viveiros terceirizados, inclusive de outras regiões do país, que nem sempre eram de boa qualidade – as perdas chegaram a ultrapassar 40%. Além disso, um aspecto que nos preocupava muito era a preservação da genética local: um erro nesse caso poderia acarretar um problema ambiental.
Desde a fundação das ONGs Nordesta e Nordesta Brasil, já plantamos mais de 5 milhões de árvores e recuperamos cerca de mil nascentes e 3 mil hectares de terras. Hoje temos vários parceiros, dentre os quais a agência Pur Projet, o Grupo Accor, a Metal Light Gôndolas, a linha de sabonetes Ushuaia, da L’Oreal, e a Cooperativa de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), além de diversas instituições de proteção ambiental, nacionais e internacionais. M
Neuza Falco Galvão, assistente social de formação, é presidente da Nordesta Brasil, sediada em Arcos (MG)