09/07/2025 - 8:01
A exploração na Foz do Amazonas provoca debate sobre o futuro do país, mas um acordo entre defensores e críticos parece impossível. A médio prazo, é provável que o lobby do petróleo saia vitorioso.Quase nenhum tema é tão debatido em Brasília como os prós e os contras da exploração de petróleo na Foz do Amazonas. O dilema se refere às possíveis reservas de petróleo na costa do Amapá e do Pará. Há uma grande probabilidade de que existam enormes reservas de petróleo sob o leito marinho nessa região. A vizinha Guiana está se tornando um dos novos exportadores globais de petróleo graças ao óleo extraído em sua costa. Geologicamente, há muitos indícios de que os depósitos se estendam até o território brasileiro.
Os defensores da exploração de petróleo offshore argumentam que o Brasil precisa urgentemente de novas reservas. Caso contrário, a produção da Petrobras e de outras empresas no Brasil entraria em declínio a partir de 2030. Até lá, os depósitos atuais, como os do pré-sal, teriam atingido seu pico de produção. O Brasil, que atualmente é um grande exportador de petróleo, teria então que importar cada vez mais combustível.
Os defensores do projeto ressaltam sua importância social. Ele criaria empregos, novos investimentos e infraestrutura em uma das regiões mais pobres do Brasil. As receitas do petróleo reduziriam a dívida pública e poderiam ser investidas em educação e saúde, por exemplo.
O Brasil também se tornaria menos dependente das flutuações dos preços do petróleo. Segundo os defensores, a extração também poderia servir como uma estratégia de transição. As receitas ajudariam a financiar a expansão das energias renováveis e, dessa forma, contribuiriam para a descarbonização do Brasil a longo prazo.
Os defensores contam com forte lobby no Congresso, no governo, nos sindicatos e também nos estados do Norte do Brasil. Até mesmo com o presidente Lula, um ex-sindicalista que sempre contou com a expansiva estatal Petrobras para impulsionar a economia durante seus dez anos no cargo.
Lula prefere proporcionar aos brasileiros pobres empregos, escolas, hospitais e uma rede de segurança social a abrir mão dessas coisas por causa de um possível risco ambiental na Amazônia. O que importa para ele é o que alivia a pobreza e garante apoio político interno. Prêmios ambientais internacionais não ganham eleições no Brasil, mas programas sociais e apoio eleitoral da indústria do petróleo, sim.
A Noruega e o Reino Unido também estão atualmente investindo pesado na produção de petróleo offshore, argumenta o lobby petrolífero. Por que um país com uma dívida social como o Brasil deveria abrir mão das receitas do petróleo?
Plano de emergência e COP30
Do outro lado, há uma frente de associações ambientais, cientistas, partes do governo – incluindo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva – e ambientalistas estrangeiros.
Eles alertam para riscos significativos a um dos ecossistemas mais importantes da América do Sul. Na Foz do Amazonas, encontram-se recifes de corais e manguezais pouco pesquisados, com enorme biodiversidade. Um derramamento de petróleo nessa zona de difícil acesso teria consequências catastróficas – especialmente porque os planos de emergência da Petrobras são atualmente considerados inadequados.
As comunidades indígenas costeiras também não foram consultadas de forma abrangente, embora isso seja exigido por lei. Por esse motivo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) rejeitou por enquanto o pedido da Petrobras para realizar testes de perfuração.
A aprovação também seria politicamente delicada internacionalmente, já que a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, será realizada em novembro de 2025 em Belém, perto da área de extração planejada. Isso colocaria em risco a credibilidade da política climática do Brasil. O país se comprometeu a reduzir significativamente suas emissões de gases de efeito estufa no âmbito do Acordo de Paris. A expansão da produção de petróleo na Foz do Amazonas é contrária às metas climáticas do Brasil.
Conclusão: posso entender e me identificar com os argumentos de ambos os lados. No entanto, acho que o lobby do petróleo prevalecerá no médio prazo. As audiências degradantes em comissões do Congresso deixaram claro o quanto Marina Silva está isolada. Sua agenda ambiental tem pouco apoio dentro do governo. Lula também está politicamente enfraquecido. O Congresso conservador é amplamente favorável à extração de petróleo. As eleições do ano que vem se avizinham. Lula dificilmente pode se dar ao luxo de alienar seus aliados restantes no Norte e Nordeste com uma política ambiental que ele próprio dificilmente apoia.
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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.