31/10/2018 - 8:11
O que tem a ver a alma de uma pessoa, seus pensamentos, emoções e comportamento, com seu sistema imunológico, esse importante guardião da saúde? Ainda há pouco essa questão era ridicularizada pelos especialistas. Durante décadas foram concentrados esforços internacionais em desvendar, passo a passo, os segredos das células imunes (as responsáveis pela defesa do organismo, como os glóbulos brancos). No fim, os especialistas concluíram que, depois do cérebro, o sistema imunológico é o mais complicado do corpo e desenvolveu, relacionando-se com milhares de germes hostis, uma precisão letal. De resto – assim se pensava –, ele era autônomo. Todas as células entendiam tão bem seu serviço que nenhuma precisava de conselhos. Pensamentos, emoções e tudo que acontecia na cabeça nada tinham a ver com o sistema imunológico – assim parecia.
Tal conceito estava totalmente de acordo com o paradigma da medicina ortodoxa. Até pelo menos 400 anos atrás, o dualismo corpo-alma era um axioma, segundo o qual as moléstias surgem apenas por causa de deslizes no plano físico e não têm nada a ver com a consciência. Quem acreditava que uma doença pudesse ser causada por influências psicológicas, sociais ou até mentais conseguia no máximo sorrisos de desdém dos médicos ortodoxos.
A mudança veio – por assim dizer – do cosmos. Uma explosão na missão Apollo 13 pôs em perigo a volta à Terra e os astronautas ficaram muito estressados. Os médicos da Nasa notaram que sua quantidade de células imunes diminuíra bastante, e dois dos três astronautas estavam com uma resistência tão baixa que ficaram gripados. Será que o estresse reduziu o número de células imunes? Será que o sistema imunológico não é autônomo?
Experiência decisiva
No fim dos anos 1970 se abandonou de vez a hipótese da autonomia do sistema imunológico – e o acaso teve um papel predominante aqui. Ao começar uma experiência com camundongos, o psicólogo Robert Ader, da Universidade de Rochester (Estados Unidos), sequer sonhava que estava perto de descobrir a relação entre psique e sistema imunológico. Desde as pesquisas com cães feitas por Ivan Pavlov, essa é uma experiência padrão na psicologia. Ader ensinou os animais a rejeitar água com açúcar pondo na água ciclofosfamida, uma substância enjoativa. Depois da primeira dose da mistura, os camundongos associaram uma coisa à outra e rejeitaram a água açucarada. Ader tirou a ciclofosfamida e, com o tempo, os camundongos voltaram a confiar na água com açúcar.
Após algumas semanas, porém, muitos camundongos adoeceram e alguns morreram – o que era totalmente inesperado por se tratar de animais novos e saudáveis. Será que a substância também enfraquecera o sistema imunológico deles? Improvável, pois eles haviam tomado apenas uma dose dela, o que não podia ter tido resultados tão negativos.
Ader teve então uma ideia brilhante. Assim como aquela única dose causou durante tanto tempo uma aversão às doses de água com açúcar, o sistema imunológico ficou enfraquecido por muito tempo, o que somente podia ter como causa a reação psicológica ao remédio. Os camundongos aprenderam a associar a mistura ao enjoo; cada vez que bebiam o líquido, o estado psicológico ligado à rejeição os levava a um enfraquecimento contínuo do sistema imunológico, até ficarem doentes e morrerem.
A conclusão era óbvia: o sistema imunológico é condicionável. Já que reage ao poder do hábito, deve ser influenciável pelo cérebro. Com isso, foi-se o mito de sua autonomia. Mas como a mente controla o corpo? Há 3 mil anos a literatura médica da Índia vê o corpo como uma projeção da consciência. Mas como nossos pensamentos e emoções nos fazem adoecer ou curar? Como aquela consciência imaterial influencia os processos biológicos?
Diante disso, a medicina ortodoxa se cala. Ela não considera a consciência algo sério! Mas se nos dirigirmos a um naturopata, homeopata, acupunturista ou médico espiritualista, receberemos quatro respostas diferentes. Todos falam de energias, mas cada um de uma energia diferente. E, no fundo, ninguém sabe o que quer dizer “energia”.