04/09/2021 - 12:56
Cientistas do Aquário Cala Gonone, na ilha italiana da Sardenha, dizem que uma fêmea de cação-liso (Mustelus mustelus) que vive num tanque exclusivo de tubarões-fêmeas há dez anos deu recentemente à luz.
Segundo a assessoria de imprensa do aquário, eles aguardam atualmente uma análise de DNA do filhote, para confirmar se a concepção realmente ocorreu sem a participação de um tubarão-macho.
Para procriar, a maioria das espécies precisa que um óvulo seja fertilizado por um espermatozoide. Esse também é o caso dos tubarões. Mas alguns animais podem produzir descendentes sozinhos – um processo conhecido como partenogênese.
O termo vem das palavras gregas parthenos, que significa “virgem”, e gênesis, que significa “origem”. O caso observado na Itália pode ser a primeira vez que essa “concepção imaculada” ocorre em cações-lisos, pelo menos em cativeiro.
De onde vêm os bebês?
Contudo não seria a primeira vez que o processo – já constatado em várias outras espécies – é observado em tubarões. Os cientistas só ainda não sabem com que frequência isso acontece, diz Kevin Feldheim, pesquisador do Field Museum em Chicago, que pesquisa os hábitos de acasalamento dos tubarões. Os poucos casos observados ocorreram sobretudo em aquários, revelou à DW.
Um estudo do Field Museum também constatou partenogênese numa população selvagem de peixes-serra-de-dente-pequeno, um tipo de arraia. Esse foi o primeiro caso observado na natureza de um vertebrado que normalmente se reproduz da maneira convencional, com um parceiro, se procriar assexuadamente.
Em tubarões, a reprodução assexuada geralmente acontece por meio do processo denominado “partenogênese automítica”, explica Feldheim. Durante o desenvolvimento dos ovos, um ovo é produzido junto com três outros “corpos polares”.
Normalmente, essas estruturas são simplesmente reabsorvidas pela fêmea. A partenogênese ocorre quando um dos corpos polares possui a mesma quantidade de material genético que o ovo, e o fertiliza.
Falta de machos pode ser a causa
Em 2017, cientistas australianos publicaram um estudo na revista Nature sobre duas fêmeas de tubarão-zebra que procriaram sozinhas, sem nenhum macho envolvido.
Um ano depois de ser separada de seu companheiro macho, a fêmea mais velha não botou nenhum ovo. No ano seguinte, sua filha de seu companheiro anterior foi adicionada ao tanque. Dois anos depois, a mãe teve três filhotes, enquanto a filha teve um.
Os cientistas acreditam que a falta de um parceiro pode estar por trás da reprodução assexuada. “Acreditamos que estar sem um macho certamente desencadeia a partenogênese”, explica Feldheim, “mas além disso, desconhecemos o mecanismo.”