22/12/2025 - 17:00
Auroras boreais e austrais, que têm sido muito ativas nos últimos anos, proporcionam espetáculos magníficos aos observadores. Mas o que gera essas cores e por que não se deve assobiar para as auroras?Nos últimos anos, houve um aumento significativo no interesse pela visão quase psicodélica das luzes verdes e roxas vibrantes dançando pelo céu. O desejo de vislumbrar o que é conhecido como aurora boreal e aurora austral deu origem a passeios turísticos, eventos de observação e inúmeros aplicativos de rastreamento.
Embora a atração por esse fenômeno efêmero seja evidente, aqui estão algumas coisas que você talvez não saiba sobre as auroras boreais e austrais.
O que causa as diferentes cores?
Grandes explosões na superfície do Sol, conhecidas como tempestades solares, ejetam regularmente vastos fluxos de partículas eletricamente carregadas. Parte desse plasma acaba viajando em direção à Terra e é atraído pelos polos magnéticos do planeta.
“Essas partículas colidem com átomos e moléculas na atmosfera da Terra e essencialmente os aquecem”, explicou o astrônomo Tom Kerss no portal de internet dos Museus Reais de Greenwich. “É como aquecer um gás e fazê-lo brilhar.”
As diferentes cores da luz dependem dos elementos presentes na atmosfera. O oxigênio, que compõe cerca de 21% da atmosfera, emite uma cor verde quando aquecido, enquanto o nitrogênio tinge a luz de roxo, azul ou rosa.
As interações com o oxigênio em altitudes muito elevadas podem até conferir às luzes uma intensa cor vermelho-escarlate, mas isso é relativamente raro.
Onde as luzes são visíveis?
O espetáculo de luzes geralmente só é visível perto do Círculo Polar Ártico ou, no caso da aurora austral, ao redor da Antártida. Contudo, chegou ao fim recentemente um ciclo de 11 anos de poderosas manchas solares e erupções, conhecido como máximo solar, durante o qual as luzes coloriram o céu muito mais longe dos polos.
“Quando se tem mais energia [solar] entrando, o oval norte e o oval sul se expandem”, explicou à DW Katie Herlingshaw, pesquisadora em física da alta atmosfera que trabalha no arquipélago ártico norueguês de Svalbard.
Manifestações recentes foram observadas na Hungria, Suíça e no estado americano da Flórida, assim como no sul da Austrália e na Nova Zelândia.
“Quase todos os ciclos, se não todos […], têm esses últimos suspiros durante a fase de declínio”, disse Tamitha Skov, física especializada em clima espacial, ao Space.com em outubro de 2025.
“Normalmente, o último suspiro ocorre cerca de dois a três anos antes do mínimo solar. Portanto, dentro de um ano e meio a dois anos, devemos ver algo.”
Auroras boreais são perigosas?
Pesquisadores do Observatório Kjell Henriksen, em Svalbard – a estação de auroras localizada mais ao norte em todo o mundo –, têm investigado as partículas de energia solar contidas nas auroras boreais e seu potencial para danificar a camada de ozônio.
Noora Partamies, física atmosférica do observatório, disse à DW que as regiões polares às vezes sofrem “grande depleção de ozônio” devido à aurora boreal.
A camada de ozônio, essa fina camada de gás a cerca de 15 a 30 quilômetros acima da superfície da Terra, é um escudo fundamental que nos protege da intensa radiação solar.
“O nível de depleção pode ser muito variável”, disse Partamies. Ela explica que alguns prótons solares são muito energéticos e podem causar uma depleção de ozônio estratosférico de 50% ou 70% na alta estratosfera da região polar, danos que podem persistir por semanas antes de se recuperarem naturalmente.
As auroras boreais são exclusivas da Terra?
Embora mais difíceis de detectar, as auroras foram observadas na maioria dos planetas do nosso sistema solar. Seu tamanho e intensidade estão relacionados à atmosfera do planeta e à força de seu campo magnético.
Em Marte, que em vez de um campo magnético global semelhante ao da Terra, possui um campo mais localizado, principalmente no Hemisfério Sul, o espetáculo de luzes é mais difuso.
“Um brilho verde difuso parece bastante possível no céu de Marte, pelo menos quando o Sol está emitindo partículas energéticas”, disse Nick Schneider, da Universidade do Colorado, citado pelo portal científico da Nasa.
Aliás, os astronautas em órbita na Estação Espacial Internacional (ISS) também puderam apreciar o espetáculo de luzes de sua perspectiva única, e às vezes até mesmo atravessá-lo.
Por que não se deve assobiar para a aurora boreal?
Possíveis avistamentos da aurora boreal foram registrados há pelo menos 3.000 anos, em um texto chinês datado do século 10 a.C., que descrevia uma aparência “de cinco cores” no céu noturno do norte.
Ao longo dos séculos, esses fenômenos naturais inspiraram diferentes povos em todo o mundo. O próprio nome está ligado à deusa romana do amanhecer Aurora e a Bóreas, o deus grego responsável pelos ventos do norte. As luzes milagrosas eram frequentemente interpretadas como uma profecia ou um sinal dos deuses.
Os antigos mitos nórdicos associavam a aurora boreal aos reflexos das armaduras e lanças das Valquírias, as divindades que conduziam os guerreiros mortos a Valhalla, segundo a mitologia nórdica. Também se acreditava que elas representavam a Ponte Bifrost, o arco-íris mágico que ligava a Terra à morada dos deuses.
A palavra finlandesa para aurora boreal se traduz como “fogo da raposa” e evoca uma criatura mítica e esquiva com uma cauda flamejante que chicoteava cristais de neve no ar enquanto corria pelo campo, incendiando os céus
.
Os mitos das comunidades nativas americanas e inuítes associavam as luzes a deuses criadores, gigantes malignos ou aos espíritos de bebês natimortos e ancestrais mortos. Para muitas culturas, desde os Sami da Lapônia até as tribos norte-americanas, as luzes deviam ser temidas e respeitadas. Algo tão simples como assobiar, por exemplo, podia atrair a ira dos espíritos, que desciam para levar o infrator desavisado.
