À medida que ventos fortes e chuvas torrenciais inundam a costa sudeste da Austrália, uma nova pesquisa sugere que os incêndios florestais de alta intensidade podem não estar muito distantes, com seus efeitos duplos estendendo as zonas danificadas e invadindo áreas residenciais anteriormente de baixo risco.

Conduzida por uma equipe de pesquisa internacional, incluindo a Universidade da Austrália do Sul (UniSA), a pesquisa, publicada na revista Trends in Plant Science, é a primeira a examinar o que acontece quando ciclones e incêndios interagem.

O estudo descobriu que quando eventos climáticos severos ocorrem em sucessão próxima (mais comum devido às mudanças climáticas), eles podem ter grandes impactos no meio ambiente, com o efeito interativo dos dois distúrbios sendo maior do que o de cada evento individual combinado.

O pesquisador e coautor do estudo Gunnar Keppel, ecologista e professor associado da UniSA, disse que entender os efeitos das mudanças climáticas intensas pode nos ajudar a proteger contra resultados prejudiciais.

Efeito pode mais que dobrar

“Ciclones e incêndios são eventos climáticos formidáveis ​​por si só, mas quando ocorrem em sucessão próxima, seu efeito pode mais que dobrar”, afirmou Keppel. “Quando um ciclone tropical ou uma tempestade irrompe, ele abre as copas das florestas, criando uma grande quantidade de detritos e condições mais secas e quentes no solo. Por sua vez, esse material seco aumenta a probabilidade, intensidade e área de incêndios subsequentes. Além disso, com ciclones previstos para ocorrer em latitudes mais baixas, isso pode significar que os incêndios podem ocorrer em áreas anteriormente intocadas, por exemplo, a área metropolitana da Grande Brisbane, na Austrália. Precisamos estar cientes disso para que possamos mitigar possíveis riscos.”

A pesquisa coincide com o relatório Estado do Clima de 2022 da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation, o órgão nacional para pesquisa científica na Austrália), que projeta uma proporção maior de tempestades de alta intensidade, temporadas de incêndio mais longas e clima de incêndio mais perigoso.

Segundo Keppel, a mudança dos padrões climáticos afeta todos os aspectos do nosso meio ambiente, desde os ecossistemas até as áreas suburbanas.

“A mudança climática está modificando os regimes de ciclones e incêndios em todo o mundo, produzindo intensidades crescentes de interações ciclone-fogo que alteram os biomas e suas distribuições”, disse ele. “Depois que um ambiente é danificado, leva tempo para se regenerar e, se não se recuperar devido a um incêndio ou ciclone subsequente, os impactos negativos duram mais e podem reduzir as zonas tampão de proteção para outras regiões. (…) Entender as prováveis ​​interações futuras de ciclones e incêndios sob a mudança climática é um passo necessário para proteger contra a devastação evitável.”