O dióxido de carbono da queima de combustíveis fósseis é a principal causa do aquecimento global. De energias renováveis ao combate ao desmatamento, o que está na mesa para reverter a tendência de emissões?Grande vilão do aquecimento global, o dióxido de carbono é também um composto químico essencial à vida na Terra. Parece um contrassenso, mas sem ele, as plantas não seriam capazes de crescer e produzir o oxigênio que respiramos.

O problema está nos níveis de CO2 presentes na atmosfera, cada vez maiores desde a Revolução Industrial, impulsionados principalmente pela queima de combustíveis fósseis para energia e transporte.

Como gás de efeito estufa, ele retém o calor na atmosfera, levando a um aumento acentuado nas temperaturas globais. As consequências desse fenômeno têm se mostrado cada vez mais graves, como tempestades, inundações, secas e dias de calor extremo.

Há um amplo consenso entre cientistas de que a redução do CO2 é fundamental para evitar os impactos mais catastróficos das mudanças climáticas. Mas como podemos realmente alcançar esse objetivo?

Metas para a redução do CO2

A COP30, em Belém, marca uma década do histórico Acordo de Paris, o primeiro tratado climático juridicamente vinculativo do mundo para manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.

Para isso, é preciso um corte de 43% nas emissões de CO2 até 2030 em comparação com os níveis de 2019 e zerar as emissões líquidas até 2050 – ou seja, fazer com que a quantidade total liberada na atmosfera seja igual à quantidade retirada.

Embora isso se aplique a todos os gases de efeito estufa – o metano e o óxido nitroso também são sérios poluentes –, o CO2 é o foco, pois é responsável por cerca de 80% do aumento da temperatura desde 1990.

Apesar dessas aspirações globais, as emissões de CO2 atingiram um novo recorde em 2024, o ano mais quente já registrado. China, Estados Unidos, Índia, União Europeia (UE) e Rússia são os maiores poluidores. O setor de energia produz, de longe, a maior parte das emissões, seguido pela agricultura e, em seguida, por processos industriais, como a produção de produtos químicos e cimento.

Embora tenha havido algum progresso na redução das emissões – na UE, por exemplo, elas caíram 37% em comparação com os níveis de 1990 –, o mundo ainda está longe das metas globais, como apontam pesquisas recentes.

Abandonar combustíveis fósseis é fundamental

Como principal fonte de emissões de CO2, o mundo precisa urgentemente se afastar da dependência de combustíveis fósseis.Isso requer uma reformulação do funcionamento de nossas sociedades, desde a forma como estimulamos a economia, cultivamos alimentos e viajamos, até o que compramos e como descartamos o que não nos serve mais.

Algumas das maiores reduções até agora foram feitas no setor de energia, por meio da expansão da matriz elétrica, da melhoria da eficiência e, fundamentalmente, da transição para energias renováveis.

Houve enormes avanços nessa área, sobretudo da energia solar, que representou 40% da geração global de eletricidade no ano passado. A Agência Internacional de Energia (IEA), uma organização intergovernamental independente, prevê que, até 2030, a capacidade dessas fontes crescerá 2,7 vezes e deve responder por mais da metade da demanda global de eletricidade.

Outros métodos de redução de CO2 incluem a expansão de veículos elétricos, mudanças para uma dieta mais baseada em vegetais, práticas agrícolas sustentáveis e o uso de bombas de calor para aquecer ou resfriar casas.

Até que ponto as florestas podem ajudar?

As florestas são vitais para a proteção do clima. Elas atuam como “sumidouros de carbono”, absorvendo CO2 da atmosfera por meio do processo de fotossíntese e armazenando-o nas árvores, raízes e solo.

Estima-se que os ecossistemas terrestres, que incluem florestas, pastagens e tundras, absorvam cerca de 30% das emissões de dióxido de carbono a cada ano.

O papel fundamental do plantio e da manutenção das florestas na proteção climática foi reconhecido no Acordo de Paris. Isso se tornou mais concreto na conferência climática de 2021 em Glasgow, quando países que representam 90% das florestas mundiais assinaram um acordo para deter e reverter o desmatamento e a degradação da terra até 2030.

Muitos projetos ambiciosos se propuseram a plantar bilhões de árvores, como a iniciativa Grande Muralha Verde, na região do Sahel, na África. No entanto, projetos de plantio de árvores também têm sido criticados pela falta de cuidado na escolha das espécies, que muitas vezes não resistem às condições locais.

Até agora, os países estão muito aquém de atingir a meta de 2030. Em 2024, a perda florestal global atingiu níveis recordes, em grande parte devido a um aumento nos incêndios. Estima-se que 17 dos 20 países com as maiores florestas primárias que assinaram o acordo em Glasgow tenham agora uma perda maior do que em 2021.

Há também preocupações de que as florestas possam passar de “sumidouros de carbono” para “fontes de carbono”. As árvores podem liberar CO2 quando são derrubadas, queimadas ou degradadas. Entre 2023 e 2024, incêndios florestais extremos fizeram com que as florestas absorvessem apenas um quarto do CO2 anual normal.

Que tecnologias podem remover o CO2?

Além das estratégias baseadas no poder da natureza, existe também um mercado de soluções tecnológicas. A captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) é um processo que visa impedir que o excesso de dióxido de carbono entre na nossa atmosfera.

Funciona separando o CO2 de outros gases antes da combustão ou depois de ser libertado pela queima de combustíveis fósseis em centrais elétricas ou em locais como siderurgias, refinarias e fábricas de cimento.

Uma vez capturado, ele é comprimido em um líquido e geralmente armazenado no subsolo em locais como reservatórios de petróleo e gás abandonados e minas de carvão abandonadas.

O gás de efeito estufa também pode ser sugado diretamente da atmosfera usando filtros e produtos químicos em um processo conhecido como captura e armazenamento direto do ar, enquanto outro método captura o dióxido de carbono de usinas que queimam biomassa. No entanto, essas tecnologias continuam caras e consomem muita energia.

A ONU reconheceu a CCS como uma tecnologia importante para reduzir as emissões a longo prazo, afirmando que ela será “inevitável” se o mundo quiser atingir as metas de zero emissões líquidas.

No entanto, esses métodos também enfrentam críticas – há estimativas de que eles capturam apenas 0,1% das emissões globais. Os críticos argumentam que a tecnologia pode ser usada pela indústria de combustíveis fósseis como uma desculpa para continuar queimando petróleo, gás e carvão. E que para limitar os piores impactos da crise climática, não há outro caminho senão eliminar os combustíveis fósseis o mais rápido possível.

De acordo com as políticas climáticas atuais, espera-se que as emissões atinjam seu pico nesta década antes de entrar em declínio, colocando o mundo no caminho para um aquecimento de 2,6 °C – ou mais – até o fim do século.