28/05/2025 - 10:48
Especialistas associam quadro a pobreza, agrotóxicos, baixa oferta de alimentos saudáveis e falta de políticas públicas. A obesidade cresceu nas últimas décadas e poderá atingir quase um em cada três turcos até 2030.Existem atualmente mais de um bilhão de pessoas obesas em todo o mundo, em meio ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve como uma epidemia de obesidade.
De acordo com o relatório de 2022 da OMS sobre o tema no continente europeu, a Turquia é líder em sobrepeso e obesidade, que atingem 66,8% da população.
Além disso, a Turquia também ocupa a primeira posição dentre os países com aumento mais rápido da obesidade, segundo uma relação elaborada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Até 2030, espera-se que 27 milhões de turcos sejam obesos, o que deverá afetar quase uma em cada três pessoas.
Especialistas em saúde e questões sociais atribuem esse quadro dramático à alimentação inadequada, desigualdade social, oferta de alimentos pouco saudáveis e à falta de políticas públicas. Segundo estudos, uma em cada cinco crianças na Turquia sofre de malnutrição, sendo que em 10% a 15% dos casos isso se deve ao sobrepeso e à obesidade.
“O problema é a pobreza”
A socióloga Hacer Foggo avalia que o crescente número de crianças com sobrepeso se deve principalmente à pobreza extrema. A Turquia sofre há anos com uma alta inflação nos preços dos alimentos, que impacta negativamente o poder de compra dos cidadãos. “A desnutrição leva ao crescimento atrofiado, por um lado e, por outro, à obesidade. Estamos na vanguarda desse problema na Europa porque nossa dieta não é variada”, afirma.
Ela menciona um relatório de 2022 do Instituto Turco de Estatísticas (TÜIK), segundo o qual 62,4% das crianças se alimentam principalmente de pães e massas – dados alarmantes que, segundo afirma, não foram levados suficientemente a sério até agora.
O cientista de alimentos Bülent Şık enxerga uma conexão direta entre o aumento da obesidade infantil e o consumo generalizado de ultraprocessados com baixo valor nutricional e alto teor de açúcar.
“O aumento do consumo de lanches baratos e facilmente disponíveis e refrigerantes açucarados está diretamente ligado ao aumento da obesidade”, disse Şık. A seu ver, enquanto a produção desses itens não for restringida, muitas medidas de prevenção permanecerão puramente simbólicas.
Ameaça dos agrotóxicos e aditivos alimentares
Şık também alerta para outra fonte de perigo: o uso de produtos químicos danosos à saúde na produção de alimentos, como agrotóxicos e determinados aditivos que têm sido associados a distúrbios hormonais e ganho de peso. “Algumas dessas substâncias tóxicas têm impacto negativo no sistema hormonal, o que representa uma séria ameaça, especialmente para crianças em crescimento.”
O cientista menciona um estudo do Greenpeace Turquia que constatou que um terço das amostras de alimentos testadas no país continha pesticidas que podem prejudicar o sistema hormonal e o desenvolvimento neurológico ou até mesmo ser cancerígenos. Apesar disso, os mecanismos governamentais de controle alimentar se concentram principalmente em informações sobre calorias.
Como parte de um novo programa de combate à obesidade, o Ministério da Saúde turco anunciou medições de altura, peso e índice de massa corporal da população em centros urbanos movimentados, espaços públicos e locais de eventos. O objetivo é identificar pessoas com sobrepeso e encaminhá-las a centros de saúde ou a clínicos gerais para atendimento com apoio de nutricionistas.
Com esse trabalho, o Ministério pretende alcançar dez milhões de cidadãos em dois meses para educá-los sobre os perigos da obesidade e promover um estilo de vida saudável.
Deficiências estruturais no sistema alimentar
Os especialistas criticam o governo por não fornecer regulamentações legais suficientes para dietas mais saudáveis e não restringir a publicidade de alimentos nocivos. Segundo eles, esse quadro contribui para a vulnerabilização de crianças e das camadas mais pobres da população. “É responsabilidade dos tomadores de decisão encontrar soluções”, afirma Şık.
Alimentos saudáveis e frescos também costumam ser mais caros e dificilmente acessíveis para as famílias de baixa renda. Isso cria um desequilíbrio social que pode levar à obesidade, ao crescimento atrofiado e à deficiência de ferro em crianças.
Por isso, Şık e Foggo defendem a criação de um programa gratuito de alimentação escolar no país. “As atas parlamentares mostram que o Ministério da Saúde reconheceu o problema e vê a merenda escolar como uma solução, mas nenhuma medida foi tomada”, critica Foggo.
Além disso, há uma escassez de profissionais qualificados nessa área. Sindicalistas apontam que o número de nutricionistas para o aconselhamento da população é insuficiente, tendo encolhido em quase 20% nos hospitais públicos.