06/09/2021 - 17:03
Após a eleição de 26 de setembro e a formação do novo governo, a atual chanceler federal da Alemanha quer se aposentar. Após tantos anos no governo, sua situação financeira está garantida, mas ela vai conseguir parar?Angela Merkel gosta de cozinhar sopa de batata e assar bolo de ameixa com cobertura de farofa doce (manteiga, açúcar e farinha), dois pratos típicos do outono alemão. Mas talvez ainda demore até ela ter tempo de prepará-los. A noite após a eleição legislativa de 26 de setembro não será de forma alguma fim de expediente para a chanceler federal da Alemanha: ela permanecerá no cargo em caráter executivo até que seja formado o novo governo. “Eu sou e continuarei requerida até o último dia do meu mandato”, enfatizou recentemente.
Nas últimas décadas, em média, os chefes de governo e seus ministros foram empossados cinco a seis semanas após a eleição. Em 2017, no entanto, foram necessários cinco meses e meio até a nova coalizão de governo tomar posse.
Se isso acontecer novamente este ano, Angela Merkel pode superar Helmut Kohl como governante de mandato mais longo na República Federal da Alemanha. Os 16 anos do governo Kohl, até 1998, duraram 5.870 dias. Para quebrar este recorde, Merkel teria que permanecer no cargo até, pelo menos, 17 de dezembro de 2021.
Ler e dormir
Em julho, durante uma visita a Washington, Angela Merkel foi questionada sobre como imagina sua aposentadoria. Embora tivesse respondido evasivamente em outras ocasiões, dessa vez ela deixou claro que primeiramente faria uma pausa e não aceitaria convites. Ela precisaria se acostumar ao fato de que suas tarefas anteriores “agora estão sendo feitas por outra pessoa”. Porém acrescentou: “Acho que vou gostar.”
No tempo livre que vai ganhar, ela pretende refletir sobre “o que realmente me interessa” – coisa para que teve pouco tempo, nos últimos 16 anos. Com um sorriso maroto, a chanceler federal alemã, que na época da pergunta acabara de receber o título de doutora honoris causa da Universidade Johns Hopkins, acrescentou: “Depois, talvez eu tente ler algo, aí os meus olhos vão se fechar, porque estou cansada. Depois vou dormir um pouco, e depois vamos ver onde reapareço.”
Merkel na ficção
Um artista fotográfico e um autor de romances policiais já predisseram o futuro: Andreas Mühe fotografou uma dublê da chanceler alemã em poses que irradiam tranquilidade, até mesmo solidão, e fez uma exposição a partir dela. O romancista policial David Safier, por outro lado, acredita que Merkel se aborrecerá rapidamente sem sua agenda hoje abarrotada.
No romance policial humorístico Miss Merkel – Assassinato na Uckermark, ele a retrata lutando com a vida tranquila do campo, depois de se mudar para sua casa de férias em Brandemburgo. Só fazer caminhadas e assar bolos? Baseado nos thrillers da detetive amadora britânica Miss Marple, da autoria de Agatha Christie, Safier faz Merkel tropeçar num caso de assassinato e se empenhar como ávida investigadora.
Trata-se de um livro humorístico, cuja questão central é, no entanto, justificada. Alguém que, há décadas, esteve ocupado de cedo pela manhã até tarde da noite e que tem tamanha responsabilidade, consegue relaxar da noite para o dia? “Em geral, a gente só percebe do que sente falta quando não o tem mais”, disse Angela Merkel recentemente em Berlim.
Garantia financeira
Em 17 de julho último, Angela Merkel completou 67 anos. Sob o aspecto financeiro, ela não tem com que se preocupar. Atualmente ganha 25 mil euros por mês como chanceler federal alemã. Além disso, tem direito a pouco mais de 10 mil euros como deputada do Bundestag, do qual é membro há mais de 30 anos. Quando deixar de trabalhar, ela continuará recebendo seu salário por mais três meses e, depois, metade dele como subsídio transitório, por um máximo de 21 meses.
Para a pensão subsequente, entram no cálculo uma série de fatores, como seus mandatos como chanceler federal, ministra e deputada federal. O valor é calculado com precisão de cinco casas decimais, com base numa lei de 1953. Chefes de governo no cargo por pelo menos quatro anos têm direito a 27,74% da última renda. Cada ano adicional no cargo aumenta os rendimentos em 2,39167%, até um máximo de 71,75%.
Assim, Angela Merkel pode esperar uma pensão de cerca de 15 mil euros por mês, tendo também direito a proteção pessoal e a um carro com motorista, para o resto de sua vida. Além disso, terá um escritório dentro do Parlamento em Berlim, com dois assistentes e uma secretária.
Segunda carreira na economia?
Mesmo que ex-membros do governo sejam obrigados por lei a manter a confidencialidade, eles são bem-vindos no mundo dos negócios tanto como conselheiros como por seus enormes contatos políticos. Alguns dos antecessores de Angela Merkel seguiram carreira na economia.
Helmut Schmidt (mandato de 1974 a 1982) tornou-se editor do jornal semanal Die Zeit em 1982, e era um orador muito aplaudido. Numa entrevista em 2012, revelou: “Não dou palestras por menos de 15 mil dólares.”
Os ex-chanceleres federais Helmut Kohl (1982-1998) e Gerhard Schröder (1998-2005) também souberam transformar seu passado político e sua celebridade em dinheiro. Kohl fundou uma empresa de consultoria política e estratégica, com a qual ganhava muito bem como lobista e consultor.
Gerhard Schröder sofreu críticas quando, em 2005, apenas alguns meses após deixar o governo, se colocou a serviço da empresa de gasodutos Nord Stream, uma subsidiária da russa Gazprom. Em seu governo, havia feito campanha para o gasoduto.
Nesse ínterim estipulou-se por lei que, antes de assumirem um cargo no mundo dos negócios, ex-membros do governo devem questionar a Chancelaria Federal se suas atividades “prejudicariam os interesses públicos”. Uma comissão de ética aconselha o governo, que em caso de dúvida pode impor um período de espera de até 18 meses.
Até agora, Merkel não se pronunciou se assumiria um novo cargo ou posto honorário. É provável que pelo menos por algum tempo ela permaneça em Berlim. Seu marido, o químico quântico Joachim Sauer, ainda não pensa em parar de trabalhar. Embora seja professor emérito na Universidade Humboldt em Berlim, aos 72 anos ele estendeu seu contrato como pesquisador-chefe até 2022.
