Em declaração, grupo palestino demonstra concordar com termos importantes para alcançar a paz no conflito com Israel. No entanto, não faz menção ou descarta elementos fundamentais da proposta de Trump.O grupo islâmico palestino Hamas anunciou nesta sexta-feira (03/10) que aceitou partes do plano de paz do presidente dos EUA, Donald Trump, para o fim da guerra na Faixa de Gaza. No entanto, afirmou que alguns elementos da proposta exigem novas negociações.

O Hamas já havia declarado, após a divulgação do plano, que alguns termos da proposta eram inaceitáveis. Os palestinos anseiam pelo fim do conflito, mas muitos consideram que esta e outras propostas anteriores dos EUA favorecem fortemente Israel.

Na declaração desta sexta, o Hamas aceitou partes importantes do plano, incluindo a libertação de todos os reféns e o fim da guerra. A declaração do grupo expõe diferenças aparentes entre a proposta original.

O plano de 20 pontos que Trump apresentou na última segunda-feira na Casa Branca, aceito inicialmente pelo premiê israelense, Benjamin Netanyahu, propõe o fim imediato da guerra, a libertação dos reféns por parte do Hamas e a formação de um governo de transição para Gaza que estaria supervisionado pelo próprio presidente americano e pelo ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair.

Esse roteiro também contempla a desmilitarização de Gaza e a possibilidade de negociar no futuro um Estado palestino, algo descartado, no entanto, pelo primeiro-ministro israelense.

Confira o que o Hamas disse estar aberto a aceitar e o que foi omitido ou descartado na declaração do grupo.

Libertação de reféns

O Hamas afirmou que libertaria todos os prisioneiros israelenses – tanto os vivos, quanto os restos mortais – “de acordo com a fórmula de troca delineada na proposta do presidente Trump, com as condições de campo necessárias para a implementação da troca”. O grupo não especificou quais seriam essas condições, mas afirmou estar pronto para iniciar negociações imediatas para discutir os detalhes.

O plano de Trump prevê a libertação de todos os reféns dentro de 72 horas após a aceitação pública do acordo por Israel. A proposta afirma ainda que Israel libertaria 250 prisioneiros palestinos que cumprem pena de prisão perpétua e mais 1,7 mil detidos após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, incluindo mulheres e crianças.

Além disso, para cada resto mortal de um cidadão israelense devolvido pelo Hamas, Israel devolverá restos mortais de 15 habitantes de Gaza. Israel estima que o grupo mantém ainda 48 sequestrados, dos quais 20 estariam vivos.

Cessar-fogo, fim da guerra e retirada israelense

O Hamas aceitou o plano proposto para o fim da guerra e a retirada total de Israel do enclave palestino. Em sua declaração, o grupo não propôs nenhuma etapa diferente para a retirada israelense e afirmou rejeitar uma ocupação israelense.

O plano de Trump prevê a retirada de militares israelense “até a linha acordada para se preparar para uma troca de reféns. Durante esse período, todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, serão suspensas, e as linhas de frente permanecerão congeladas até que as condições para a retirada completa e gradual sejam cumpridas”.

Ajuda humanitária, reconstrução e permanência de palestinos

O Hamas saudou o incentivo ao aumento da ajuda humanitária no enclave, previsto na proposta, sem exigir a expulsão dos palestinos da região. O plano prevê o envio imediato de ajuda a Gaza em quantidades consistentes e também aborda a reconstrução de infraestrutura, hospitais e padarias, além da entrada de equipamentos necessários para remover escombros e abrir estradas.

O plano determina que as Nações Unidas, o Crescente Vermelho e outras instituições internacionais coordenem a ajuda humanitária.

O Hamas afirmou ainda rejeitar a retirada de palestinos de Gaza. O plano de Trump diz que “ninguém será forçado a sair” e aqueles que desejarem sair serão livres para retornar. A proposta encorajaria palestinos a permanecerem no enclave.

Envolvimento estrangeiro no governo interino de Gaza

O plano de Trump prevê que Gaza terá um governo transitório composto por “um comitê palestino tecnocrático e apolítico”. A proposta, porém, não especifica nenhum, grupo ou indivíduo palestino que seria envolvido na transição. Além disso, determina que esse comitê seria supervisionado por um novo órgão internacional chefiado por Trump e que incluiria o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.

O Hamas disse que concordaria em entregar a administração de Gaza a um “órgão palestino de tecnocratas independentes com base no consenso nacional palestino”. O grupo não comentou a proposta de envio de uma força internacional de estabilização temporária.

O Hamas já havia rejeitado a participação de Blair neste processo, afirmando que o grupo não aceitaria a “tutela estrangeira”.

Futuro de Gaza sem o Hamas

O plano de Trump prevê que o Hamas concorde em não ter nenhum papel no governo de Gaza no futuro e estipula a desmilitarização do enclave palestino.

Em sua resposta, o Hamas afirmou que se vê como parte de uma “estrutura nacional palestina abrangente”. A declaração desta sexta não aborda a desmilitarização. O grupo, porém, já havia rejeitado essa proposta.

O Hamas também não comentou a proposta de anistia e passagem segura para outros países destinada a integrantes do grupo que abandonem as armas.

cn (Reuters, AP, ots)