Países da UE pressionam por sanções a Israel pela guerra na Faixa de Gaza. Alemanha resiste, mas enfrenta crescente pressão interna, externa e risco de isolamento político.Durante uma reunião informal de ministros do Exterior de países da União Europeia (UE) em Copenhague no último fim de semana, um dos temas discutidos – mais uma vez – foi se seria possível – e como – sancionar Israel por suas ações no conflito na Faixa de Gaza.

Embora a gravidade das ações de Israel ainda esteja sendo debatida, a maioria dos observadores já não contesta que a campanha militar israelense em Gaza, lançada após o ataque do grupo radical palestino Hamas em outubro de 2023, resultou em violações do direito humanitário internacional.

Há uma “maioria crescente” de países que apoiam sanções contra Israel, afirmou recentemente a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas. Mas os principais diplomatas da Europa não conseguiram chegar a nenhum tipo de consenso. Alguns expressaram, em conversas privadas, frustração com os países do bloco que estão bloqueando sanções contra Israel.

Um desses países é a Alemanha.

Após a reunião em Copenhague, Kallas disse à DW que a UE estava em constante contato com Israel e pressionando para que mais ajuda humanitária fosse permitida em Gaza. “Há coisas que melhoraram”, observou ela, “mas não é suficiente. É frustrante que não possamos fazer mais.”

Várias medidas foram discutidas, incluindo a suspensão do Acordo de Associação UE-Israel, um pacto comercial, ou a exclusão de empresas israelenses do fundo de pesquisa europeu Horizon, ou ainda a imposição direta de sanções contra colonos israelenses.

Algumas dessas medidas exigiriam uma maioria qualificada para serem aprovadas – ou seja, apoio de 55% dos Estados-membros da EU, que representam pelo menos 65% da população do bloco. Por isso a Alemanha – o país mais populoso da UE – é tão importante para essa votação.

Mas até agora, políticos alemães, incluindo o chanceler federal Friedrich Merz e o ministro do Exterior Johann Wadephul, têm se limitado a dizer que Israel deve agir dentro dos limites do direito internacional. Algumas exportações de armas alemãs foram restringidas, mas podem ser retomadas no futuro, e qualquer tipo de embargo comercial ou outras sanções foram rejeitados.

Como afirmou o Instituto de Pesquisa pela Paz de Frankfurt em um comentário de maio de 2025, o papel da Alemanha tem se limitado principalmente a “críticas sem consequências”.

A Alemanha tem uma responsabilidade histórica com o Estado de Israel por causa do Holocausto. Mas, ao mesmo tempo, cresce a pressão para que o país tome alguma atitude.

O que poderia fazer o governo alemão mudar de ideia? Em resposta a essa pergunta, um porta-voz do governo remeteu à DW declarações anteriores feitas por Friedrich Merz, mas não forneceu uma resposta direta.

A opinião pública pode influenciar?

Pesquisas indicam que os eleitores alemães estão cada vez mais contrários ao envio de armas para Israel. No levantamento mais recente do Politbarometer, regularmente encomendada pela emissora pública ZDF, 76% dos alemães dizem acreditar que as ações de Israel em Gaza não são justificadas. A mesma pesquisa mostra que 83% dos alemães acham que o governo deveria parar ou limitar as exportações de armas para Israel. Outras pesquisas indicam que os alemães têm visões cada vez menos favoráveis a Israel.

Pelo menos algumas dessas opiniões não são novas. Há mais de um ano, pesquisas já indicavam que a maioria dos alemães se sente assim. Mas, em uma coletiva de imprensa em junho, quando um porta-voz do governo foi questionado sobre isso, ele respondeu: “o sentimento público não é um fator decisivo para decisões tão fundamentais”.

“Honestamente, é difícil imaginar o que poderia mudar a posição da Alemanha”, diz Rene Wildangel, especialista independente no Oriente Médio e ex-pesquisador do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

“Desde que Merz anunciou uma proibição parcial do fornecimento de armas em agosto e foi criticado por vários membros do próprio partido, a Alemanha tem sido extremamente defensiva”, afirma. “A única chance que vejo é que cada vez mais alemães saiam às ruas e façam suas vozes serem ouvidas. Porque, olhando para as pesquisas, uma ampla maioria rejeita as ações de Israel em Gaza.”

Política interna sob pressão crescente

Nos últimos meses, políticos alemães de todo o espectro político também têm se manifestado mais sobre o assunto.

O partido A Esquerda, que está na oposição, tem pressionado pela suspensão do Acordo de Associação UE-Israel e pelo fim das exportações de armas. “Essas questões já estão sendo discutidas publicamente, e suspeito que a pressão na Alemanha continuará a crescer”, diz Katja Hermann, especialista na região pela Fundação Rosa Luxemburgo, associada à sigla.

Mais recentemente, alguns membros do Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, também começaram a sugerir medidas mais concretas. O SPD é o parceiro minoritário da atual coalizão governamental, liderada pelo Partido Democrata Cristão (CDU), de conservadores.

No início deste ano, a filial do SPD em Berlim aprovou uma resolução instando formalmente o governo a fazer mais. Isso incluiu não bloquear a suspensão do acordo de associação da UE com Israel.

Merz e Wadephul, ambos membros da CDU, têm criticado as ações de Israel em Gaza. Mas quando se trata de sanções no nível da UE, a CDU e a CSU – o partido irmão da CDU na Baviera – insistem que a melhor forma de influenciar Israel a abandonar o que um político chamou de “caminho equivocado” é através do relacionamento próximo com o país.

Pressão internacional sobre a Alemanha

Observadores dizem que a Alemanha está ficando cada vez mais isolada dentro da UE nesse tema. Por exemplo, em maio deste ano, dois terços dos países da UE queriam revisar o acordo de associação com Israel por causa das alegações de violações dos direitos humanos em Gaza. A Alemanha se opôs à revisão.

Após a reunião do fim de semana em Copenhague, o isolamento da Alemanha está se tornando cada vez mais evidente, afirma Martin Kobler, ex-embaixador da Alemanha no Egito, Iraque e Paquistão, agora aposentado, e membro da organização Diplomatas Sem Fronteiras.

“Até os holandeses querem adotar uma linha mais dura agora”, avalia Kobler. “E claro, se você está isolado em uma questão política como essa, precisa investir cada vez mais em justificativas.”

Por outro lado, contina Kobler, outros países da UE entendem a posição constrangida da Alemanha em relação a Israel, por causa da história do país. “Mas a segurança de Israel não precisa significar a segurança do governo Netanyahu”, pontua Kobler.

Implicações legais, crimes internacionais

Outro diplomata disse à DW, sob anonimato, que o governo alemão já buscou aconselhamento jurídico por temer que o apoio a Israel possa significar cumplicidade da Alemanha em crimes de guerra, ou até genocídio. Nesta semana, a Associação Internacional de Estudos sobre Genocídio declarou que Israel está cometendo genocídio em Gaza.

Há vários processos judiciais que poderiam envolver a Alemanha nessas alegações, tanto no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, quanto em tribunais locais.

“A nossa organização está testando diretamente as obrigações da Alemanha sob o direito internacional nos tribunais alemães”, explica Alexander Schwarz, advogado do Centro Europeu pelos Direitos Constitucionais e Humanos (ECCHR), com sede em Berlim. Em meados de novembro, o ECCHR voltará ao tribunal em Berlim para questionar novamente a legalidade das entregas de armas alemãs a Israel.

“Se apenas um desses processos resultar em medidas específicas que precisem ser adotadas por países cúmplices, como a Alemanha, isso teria um impacto”, disse Schwarz à DW.

“Houve uma leve mudança de ventos na Alemanha recentemente”, ele reconheceu, “mas o governo alemão já ultrapassou tantos limites nos últimos 23 meses, que talvez seja mais sensato manter um certo pessimismo quanto à possibilidade de uma mudança voluntária de postura”.

“Mas eu diria que o fim da linha seria qualquer tribunal — nacional ou internacional — declarar que a Alemanha, ao fornecer armas, está violando o direito internacional ou sendo cúmplice no crime de genocídio”.

Rosie Birchard, em Copenhague, contribuiu para esta reportagem.