“Ilhas de calor urbanas” são áreas metropolitanas que ficam significativamente mais quentes do que seus entornos rurais devido à concentração de edifícios, áreas pavimentadas e atividades humanas, como a condução de veículos poluentes.

Como resultado, as ondas de calor se intensificam nas áreas urbanas, que já abrigam metade da população mundial. A estimativa é que esse número chegue a quase 70% até 2050. Tal efeito, conhecido como “ilha de calor urbana” pode elevar as temperaturas em 10 a 15 °C, expondo os moradores da região aos riscos associados ao calor extremo.

O que causa as ilhas de calor urbanas?

As áreas rurais geralmente são cobertas por grama, plantações ou florestas, o que ajuda a resfriar o ar. O concreto escuro e o asfalto da cidade, por outro lado, absorvem o calor.

As plantas funcionam como um ar-condicionado natural, captando água do solo através de suas raízes e liberando-a no ar na forma de vapor. Superfícies impermeáveis, duras e escuras, como calçadas, estacionamentos e ruas asfaltadas, não permitem a penetração da água e, portanto, não proporcionam esse efeito de resfriamento.

Prédios altos e ruas estreitas podem aquecer o ar que fica preso entre eles. Esses “cânions urbanos” podem bloquear o fluxo natural de vento que, de outra forma, ajudaria a resfriar a área. A poluição causada por automóveis ou pela queima de combustíveis fósseis pode atuar como uma pequena camada de efeito estufa sobre uma cidade, retendo o ar quente.

Ilhas de calor costumam se formar ao longo do dia, à medida que calçadas e telhados emitem mais calor solar – atingindo o pico entre três e cinco horas após o pôr do sol. Do nascer do sol até o final da tarde, essas superfícies são expostas à intensa radiação solar e absorvem calor através de inúmeras camadas. Esse calor armazenado é então liberado lentamente após o pôr do sol.

Onde seu efeito é mais intenso?

Cidades maiores tendem a armazenar mais calor do que as menores. Os centros urbanos de Londres e Paris costumam ser cerca de 4 °C mais quentes do que seus arredores rurais à noite. O efeito de ilha de calor é ainda agravado pelo aumento das temperaturas globais.

O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, com cerca de 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais. Sob as políticas atuais, a previsão é que esse aumento chegue a 2,7 °C até o final do século. O prognóstico se explica pelo atual volume de queima de combustíveis fósseis que aquecem o planeta e liberam gases de efeito estufa na atmosfera.

Essas mesmas ilhas de calor, aliás, podem estar agravando ainda mais as mudanças climáticas, pois impulsionam a demanda por ar-condicionado, que, por sua vez, em muitas regiões são movidos com energia gerada pela queima de combustíveis fósseis.

Como resfriar as cidades?

Soluções para minimizar esse efeito incluem tornar as cidades mais verdes, adicionando aos centros urbanos árvores, arbustos e outras vegetações mais resistentes à seca, além de fontes e lagos, telhados verdes ou “frios” que absorvem e transferem menos calor do sol para os edifícios.

Esses telhados frios refletem mais luz solar do que uma superfície convencional e, portanto, aquecem menos. Telhados brancos permanecem mais frescos e podem refletir cerca de 60 a 90% da luz solar, mas outras superfícies refletoras também são uma opção.

Cidades como Nova York, por exemplo, começaram a pintar os telhados de branco em 2009 para ajudar a conter o efeito ilha de calor. Telhados mais frios também podem reduzir as temperaturas internas dos edifícios em até 30% e diminuir a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa, reduzindo a demanda por energia para resfriar prédios.

No nível do solo, alguns países optam por borrifar água nas calçadas para resfriá-las. No Japão, essa prática tradicional centenária é conhecida como “uchimizu”.

Outros preferem misturar espaços residenciais, comerciais e recreativos ou instalar “pavimentos frios” que usam materiais permeáveis ​​para refletir mais a radiação solar e aumentar a evaporação da água.

Megacidades como Los Angeles e Tóquio já pavimentaram suas ruas com cores mais frias. Um estudo em um dos bairros mais quentes de Los Angeles confirmou que um revestimento reflexivo é capaz de reduzir o efeito de ilha de calor.

A prefeitura de Tóquio já instalou cerca de 200 quilômetros dessas calçadas, priorizando áreas no centro da cidade. Até 2030, a capital japonesa pretende cobrir 245 quilômetros de vias metropolitanas.

A pequena cidade-estado asiática de Singapura, por sua vez, tornou-se uma das cidades mais verdes do mundo. Com mais de 40% de cobertura verde, ela conta com espaços destinado a reservas naturais e parques, jardins e vegetação.

Até 2030, a cidade planeja que cada cidadão tenha acesso a um parque a uma distância de dez minutos a pé. Singapura também limita rigorosamente o número de carros em suas ruas por meio de um caro sistema de licitação, com uma cota máxima para o número de veículos que podem ser registrados.