O mais recente roubo a museus paulistanos mirou treze gravuras de ícones modernistas. Ladrões armados foram flagrados por câmeras de segurança.A polícia de São Paulo identificou nesta segunda-feira (08/12) os dois suspeitos pelo roubo de treze obras de arte na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. O crime, ocorrido no domingo, teve como alvo oito gravuras do artista francês Henri Matisse e cinco do pintor brasileiro Candido Portinari.

A Polícia Civil iniciou no mesmo dia a perícia do local, que conta com câmeras de segurança, e diligências para identificar os responsáveis pelo roubo. Nesta segunda, foi divulgado o retrato dos dois suspeitos, cujos nomes não foram divulgados.

Os ladrões armados renderam uma vigilante e um casal de idosos pela manhã do último dia da exposição “Do livro ao museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade”, que as obras roubadas integravam.

Após os criminosos fugirem, os vigilantes chegaram a pedir ajuda para policiais militares nas proximidades, mas não foi possível alcançá-los.

Como o roubo foi possível?

A exposição mirada pelos ladrões era uma parceria com o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e tinha entrada gratuita. Já dentro da biblioteca, um deles anunciou o roubo por volta das 10h da manhã e mostrou uma arma de fogo para pelo menos uma vigilante, que estaria desarmada.

Ela foi, então, forçada a entregar seus dispositivos de comunicação na sala onde estavam as obras roubadas. As oito gravuras de Matisse estavam penduradas lado a lado numa parede, enquanto as de Portinari se encontravam num mostruário, cujo vidro de proteção foi quebrado.

As obras foram colocadas dentro de um saco de lona. Em seguida, os ladrões fugiram.

Câmeras de segurança da Prefeitura de São Paulo flagraram a dupla em fuga a dois quilômetros da biblioteca, retirando as obras de um automóvel e, depois, carregando-as pelas ruas da capital.

Os criminosos eram relativamente jovens e vestiam roupas comuns – calças jeans, camisetas e tênis. Numa das imagens flagradas, eles chegam a colocar as obras no chão de uma rua pouco movimentada, próximo a uma concentração de sacolas de lixo.

Que obras foram roubadas?

As gravuras faziam parte de uma exposição iniciada em outubro deste ano e voltada à arte modernista das décadas de 1940 e 1950. As obras roubadas de Matisse integravam o seu livro “Jazz”, considerado uma das maiores conquistas do francês e publicado pela primeira vez em 1947.

Descritas pelo MAM como “raras e importantes”, as vinte pranchas impressas do livro em exibição na biblioteca paulista eram um dos destaques da exposição. O caso vem sendo, desde domingo, reportado pela mídia francesa.

Já as obras de Portinari, considerado um dos grandes nomes do modernismo dentro e fora do Brasil, ilustravam o livro “Menino de Engenho”, romance de José Lins do Rego de 1932.

Não está claro o valor estimado das obras. Segundo autoridades paulistas, todas elas tinham apólices de seguro vigentes.

Roubos anteriores em SP

O roubo à Biblioteca Mário de Andrade é o mais recente de uma série de crimes contra museus paulistas, reacendendo preocupações sobre a segurança do patrimônio brasileiro. A própria biblioteca, que é considerada a segunda maior do Brasil, já foi roubada em 2006. À época, descobriu-se que dois livros e outras mais de cem gravuras haviam sido roubadas do acervo.

Levou 18 anos para que um dos livros fosse recuperado, no ano passado, pela Polícia Federal. A obra “Souvenirs de Rio de Janeiro”, com 12 ilustrações pintadas à mão no século 19, havia parado nas mãos de um colecionador, que a comprara legalmente em Londres.

O jornal Folha de S. Paulo reportou ainda que o mesmo álbum de Matisse roubado no domingo já havia sido furtado anteriormente. Em 2006, teria sido encontrado pela polícia da Argentina, quando os ladrões desta e de outras obras raras foram flagrados tentando cruzar a fronteira do Brasil para o país vizinho.

Já em dezembro 2007, também uma das obras mais célebres de Portinari foi roubada, desta vez do Museu de Arte de São Paulo (Masp). O quadro “O lavrador de café” foi levado durante a madrugada, junto com “Retrato de Suzanne Bloch”, de Pablo Picasso. Juntas, elas eram estimadas em 55,5 milhões de dólares – o que, à época, equivalia a aproximados R$ 100 milhões.

As obras seriam encontradas numa casa da periferia de São Paulo no mês seguinte, no que as autoridades atribuíram a uma evidência de que o roubo havia sido encomendado aos ladrões.

Três homens armados já haviam roubado em 2005 a tela “Preparando Enterro na Rede”, também de Portinari, da Galeria de Arte Thomas Cohn. O quadro foi recuperado depois de dez dias.

ht/cn (Agência Brasil, ots)