16/03/2021 - 12:34
Até agora, coronavírus infectou crianças com menos frequência e gravidade do que adultos. Mas não é certo como variantes podem mudar esse cenário, alertam especialistas.”A incidência de covid-19 entre menores de 15 anos está aumentando drasticamente”, advertiu Lothar Wieler, presidente do Instituto Robert Koch (RKI), agência governamental alemã responsável pelo controle e prevenção de doenças, em entrevista coletiva no dia 12 de março.
Segundo Wieler, há indícios de que a variante B117 do coronavírus, originária do Reino Unido e mais transmissível, desempenha um papel importante no aumento de surtos em creches.
A notícia chegou no momento em que escolas e creches voltam a abrir suas portas na Alemanha, ao menos parcialmente. Mas ela não é totalmente surpreendente, segundo Johannes Liese, chefe do departamento de imunologia e doenças infecciosas pediátricas do Hospital Universitário de Würzburg.
“Ao abrirmos escolas e creches, com certeza haverá mais transmissões”, diz. O próprio Liese pesquisa processos de infecção em creches. Os resultados do chamado estudo Wü-KiTa-CoV ainda estão sendo avaliados.
“Sabe-se até agora apenas que o vírus poupou as creches”, disse. Agora, no entanto, o Hospital Universitário de Würzburg está recebendo um número crescente de pequenos pacientes com covid-19. Liese, assim como Wieler, suspeita que o aumento da incidência se deve à variante britânica.
Covid-19 atinge principalmente adultos
Após um ano de pandemia, sabe-se que “em geral, crianças adoecem de covid-19 menos e com menor gravidade”, disse Markus Knuf, diretor de uma clínica infanto-juvenil em Wiesbaden e membro da presidência do conselho da Sociedade Alemã de Doenças Pediátricas Infecciosas (DGPI). A DGPI iniciou um sistema de notificação gerenciado pela hospital pediátrico universitário de Dresden, ao qual os hospitais infanto-juvenis de todo país têm acesso.
“Até 7 de março de 2021, foram internadas 1.051 crianças com covid-19”, informa Knuf. “Apenas 5% dos pacientes jovens tiveram que se submeter a terapia intensiva.” De acordo com Knuf, os mais afetados foram crianças menores: “Cerca de dois terços das crianças internadas foram bebês e crianças pequenas”, disse o médico. Cerca de 30% tinham uma doença pré-existente, por exemplo, dos pulmões.
Mesmo que nem todas as clínicas participem do estudo e alguns pacientes jovens não sejam registrados, fica claro: covid-19 é uma doença infecciosa que afeta predominantemente adultos. Durante a segunda onda da pandemia na Alemanha, em dezembro, 11.564 pessoas foram hospitalizadas em uma única semana.
Síndrome semelhante à Kawasaki em crianças
A maioria das crianças deixa o hospital em boas condições de saúde, apesar de ter passado por uma infecção. “Ao contrário dos adultos, apenas poucas crianças enfrentam consequências de longo prazo”, disse Knuf.
No site da DGPI há mais um sistema que registra casos graves de covid-19 em crianças. A chamada Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica (PIMS) compreende vários sintomas, cujas causas estão relacionadas com a infecção. Os sintomas clínicos são semelhantes aos da síndrome de Kawasaki, uma doença febril aguda com inflamação das artérias.
Já foram relatados os casos de 223 crianças afetadas. Segundo Knuf, cerca de 10% ficaram com sequelas.
Grupos de risco negligenciados
É difícil prever como a variante britânica pode mudar esses números, mas pode ser que a covid-19 não continue sendo uma infecção que atinge só adultos. Knuf e Liese lamentam, portanto, que ainda não haja uma vacina anticoronavírus para crianças.
“Temos grandes grupos de crianças que estão realmente em risco, por exemplo, bebês prematuros ou crianças com trissomia do cromossomo 21”, diz Knuf. Não há ofertas de prevenção para essas crianças. “Acho isso quase escandaloso!”
Nesta terça-feira, a farmacêutica americana Moderna anunciou que iniciou os ensaios clínicos de fase 2 e 3 do seu imunizante em crianças de 6 meses a 11 anos de idade.
Liese é a favor da vacinação de crianças − não apenas para que cada criança seja protegida de um curso potencialmente grave da covid-19, mas também para retardar a transmissão do vírus.
Liese é a favor de manter as escolas e creches abertas. “Precisamos de exames regulares e gratuitos nas escolas, e do cumprimento das regras de higiene”, diz Liese. E, assim que possível, de uma vacina para crianças.
“As crianças não são os motores da pandemia”, diz Knuf. Liese concorda. Mutações, no entanto, podem mudar isso, apontam.
Aumento de internações e mortes no Brasil
Segundo uma pesquisa feita pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Demais Estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo (SindHosp) divulgada dia 12 de março, o número de crianças internadas com covid-19 cresceu nos hospitais particulares do estado de São Paulo.
A pesquisa apurou dados de 93 hospitais de 12 das 17 regionais de saúde do estado paulista entre os dias 8 e 11 de março. O aumento no número de crianças e adolescentes internados corresponde a 47% na rede privada. O número absoluto de crianças internadas não foi divulgado.
Uma pesquisa feita pela Agência Brasil com base nos balanços divulgados pela Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo mostrou que o estado registra nos três primeiros meses deste ano um aumento no número de mortes de crianças. Entre 1º de janeiro e 12 de março de 2021, 22 crianças menores de 10 anos morreram por covid-19 no estado de São Paulo. Esse número representa mais de 40% do que foi registrado em todo o ano passado: entre os meses de março a dezembro, foram 52 mortes.