12/08/2022 - 15:59
O Instituto Robert Koch (RKI, em alemão), agência governamental de controle e prevenção de doenças da Alemanha, registrou o primeiro caso de varíola dos macacos em uma criança no país.
O caso foi detectado na terça-feira (09/08) em uma menina de 4 anos. Ela mora na cidade de Pforzheim, no estado de Baden-Württemberg, com dois adultos que foram infectados.
A criança não apresentou qualquer sintoma da varíola dos macacos, e testou positivo após um contato próximo na casa adoecer por causa da doença.
A Secretaria Estadual de Saúde de Baden-Württemberg afirmou à DW que a menina não teve contatos próximos fora do domicílio.
Brasil registra casos em crianças
Outros casos em crianças têm sido relatados em países como Estados Unidos, França, Holanda e Espanha.
No Brasil, a prefeitura de São Paulo confirmou no final de julho três casos em três crianças: duas meninas de 6 anos e um menino de 4. Foram os primeiros casos registrados na capital paulista.
Já a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador confirmou na segunda-feira (08/08) que um dos 13 infectados pela varíola dos macacos na cidade é uma criança de 2 anos.
No mundo, 25 crianças de 4 anos ou menos já foram infectadas com a doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A OMS afirma que a varíola dos macacos também é relativamente incomum na faixa etária seguinte, de 5 a 17 anos: apenas 98 casos foram registrados no mundo, entre os cerca de 17.400 nos quais a idade do paciente é conhecida.
Ao todo, até esta sexta-feira a OMS estimava mais de 31 mil casos de varíola dos macacos em dezenas de países e territórios.
Como a varíola afeta as crianças
Há poucas evidências de países onde a varíola dos macacos não é endêmica para entender como o vírus pode afetar as crianças.
Durante um surto de varíola dos macacos em 2003 nos EUA – que as autoridades acreditam ter sido causado pelo contato humano com cães-da-pradaria, um tipo de roedor – 28 pessoas foram infectadas, e apenas duas delas tiveram efeitos clínicos graves – ambas eram crianças, mas se recuperaram.
Além disso, as informações sobre casos pediátricos são escassas fora da África, onde a varíola é endêmica em pelo menos oito países. Mas estudar como a doença afeta as crianças no continente pode oferecer algumas pistas.
Entre 2001 e 2021, a taxa de mortalidade por varíola dos macacos na República Centro-Africana foi mais alta entre crianças do que entre adultos: 9,6% das crianças infectadas – ante 5,2% dos adultos – morreram, de acordo com Paul Hunter, professor de proteção à saúde da Norwich Medical School, no Reino Unido. Essa informação foi compartilhada numa conferência da OMS.
E durante um surto de 1985 no Zaire, a taxa de mortalidade foi mais alta entre crianças de 4 anos ou menos, de 14,9%, seguida por 6,5% entre crianças de 5 a 9 anos, de acordo com um estudo publicado no The Journal of Infectious Diseases. Não houve mortes em crianças de 10 anos ou mais.
“As crianças, especialmente as menores de 5 anos, têm um risco maior de desenvolver a doença grave”, diz Hunter. “Mas estamos vendo uma mortalidade geral muito menor na atual pandemia, e suspeito que uma parte significativa disso se deve a um melhor acesso aos cuidados de saúde.”
Em geral, o especialista afirma que, embora o risco de doença grave e morte entre crianças muito pequenas seja realmente maior do que entre adultos saudáveis, ele ainda será “um pouco menor do que vimos na África nos últimos anos”.
O misterioso caso holandês
Em junho de 2022, pesquisadores na Holanda identificaram um caso curioso de varíola dos macacos em um garoto de 10 anos, num momento em que ainda estava pouco claro como o vírus se espalhava.
Embora a esmagadora maioria (mais de 98%) dos casos tenha sido registrada em homens que fazem sexo com homens, pesquisas não indicam que o vírus seja transmitido exclusivamente por meio de sêmen ou contato sexual.
Em vez disso, a maioria dos estudos concluiu que a varíola dos macacos se espalha por contato muito próximo com as lesões causadas pela doença ou com outros fluidos corporais de uma pessoa infectada.
Primeiramente, os cientistas holandeses confirmaram que o menino não havia sofrido abuso sexual – já que o contato sexual é um meio de transmissão – e depois testaram os demais membros da família para o vírus.
Todos testaram negativo, não só para o vírus em si, mas também em testes sorológicos que teriam mostrado se o caso do menino havia sido causado por uma infecção recente ou por uma vacinação em outro membro da família.
Os pesquisadores não conseguiram descobrir onde ou como a criança contraiu a doença.
De acordo com o autor do estudo, Matthijs Welkers, a infecção foi muito leve. O garoto desenvolveu cerca de 20 erupções em seu corpo, que é a marca registrada do vírus.
“Durante seu período de isolamento em casa, ele estava entediado e queria muito voltar para escola”, contou Welkers à DW. “Após três semanas [de isolamento], as crostas das lesões caíram e ele retornou às aulas.”
Vacina para alunos e professores
Agora, com o início do ano letivo se aproximando em muitos países do hemisfério norte, questiona-se se devem ser tomadas precauções especiais para proteger crianças e professores, devido ao contato muito próximo entre eles na sala de aula.
Há uma boa razão para essa preocupação: funcionários do departamento de saúde do estado americano de Illinois relataram uma exposição potencial à varíola dos macacos numa creche, onde um professor havia testado positivo no início de agosto.
Nenhuma das crianças testou positivo para o vírus até o momento, mas as autoridades de saúde já oferecem a elas a vacina Jynneos – também conhecida como vacina Imvanex – como precaução.
Jynneos/Imvanex é o único imunizante aprovado para tratar especificamente a varíola dos macacos, embora alguns países também estejam usando vacinas mais antigas criadas para a prevenção da varíola.
Cuidados preventivos
A população também pode fazer uso de cuidados básicos de higiene para prevenir a varíola dos macacos, a exemplo dos que são feitos durante a pandemia de covid-19.
Especialistas em saúde enfatizam que se deve lavar as mãos com frequência – após contato com uma superfície contaminada, o vírus pode infectar por meio de contato posterior com a boca, olhos ou nariz. E deve-se evitar também o contato prolongado com a pele de quem suspeite ter sido exposto ou esteja infectado com a varíola dos macacos.
Pesquisas não mostram qualquer evidência de transmissão por via aérea. E a transmissão por meio de superfícies contaminadas – embora teoricamente possível – é menos provável do que a propagação por contato entre peles ou com saliva, como, por exemplo, através do beijo.
A OMS diz que os sintomas típicos da varíola dos macacos incluem febre, erupção cutânea e gânglios linfáticos inflamados. As erupções cutâneas geralmente aparecem de um a três dias após os sintomas iniciais, como manifestações similares às da gripe: cansaço, mal-estar e febre.