Emboscada deixou dois militares e um civil americanos mortos. Washington atribui incidente ao Estado Islâmico. Atirador era membro das forças sírias.A morte de dois militares e um intérprete civil americanos neste sábado (14/12) em um ataque a tiros na Síria trouxe nova atenção para a presença das forças dos EUA no país.

O governo sírio descreveu o incidente como um “ataque terrorista”, enquanto Washington disse que havia sido realizado por um militante do grupo Estado Islâmico (EI).

Em postagem no X, o Comando Central dos EUA afirmou que a emboscada que mirou um comboio de forças sírias e americanas na região central de Palmira também deixou três outros militares americanos e dois sírios feridos. “O atirador foi confrontado e morto”, acrescentou.

O episódio é o primeiro do gênero registrado desde que forças islamistas derrubaram o antigo líder sírio Bashar al-Assad, em dezembro do ano passado, restabelecendo os laços do país com os Estados Unidos.

Cinco suspeitos presos

Neste domingo, a Síria prendeu cinco pessoas suspeitas de terem ligação com o tiroteio. Segundo o ministério do Interior do país, o atirador era um membro das forças de segurança sírias que estava prestes a ser demitido por extremismo.

Ele havia sido recrutado há apenas dois meses e chegou a ser transferido por suspeitas de que poderia estar afiliado ao grupo Estado Islâmico, disse um oficial à agência de notícias Associated Press neste domingo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que “haverá uma retaliação muito séria” e que “muito dano será causado às pessoas que atacaram as tropas na Síria”.

Por que os EUA têm tropas na Síria?

Os Estados Unidos têm tropas em solo sírio há mais de uma década, com a missão declarada de combater o Estado Islâmico.

Em 2011, protestos em massa na Síria contra o governo Assad foram enfrentados por uma repressão brutal e se transformaram em uma guerra civil que durou quase 13 anos antes de ele ser deposto em dezembro de 2024.

Receoso de se envolver em outra guerra cara e politicamente impopular no Oriente Médio após sua experiência no Iraque e no Afeganistão, Washington apenas enviou apoio a grupos rebeldes. Isso mudou após a ascensão do EI, que realizou ataques esporádicos nos EUA e na Europa e tomou territórios na Síria.

Nas áreas controladas pelo grupo, ele se tornou notório por sua brutalidade contra minorias religiosas. Em 2014, o governo do então presidente dos EUA, Barack Obama, lançou uma campanha aérea contra o EI no Iraque e na Síria. No ano seguinte, as primeiras tropas terrestres americanas entraram no país, onde se associaram às Forças Democráticas Sírias lideradas pelos curdos, no nordeste do país.

Novas relações EUA-Síria

Antes da queda de Assad, Washington não tinha relações diplomáticas com Damasco e os militares dos EUA não trabalhavam diretamente com o exército sírio, mas isso mudou no último ano.

Os laços se estreitaram entre os governos de Trump e do presidente interino sírio Ahmad al-Sharaa, ex-líder do grupo insurgente islamista Hayat Tahrir al-Sham, que antes era listado por Washington como organização terrorista.

Em novembro, al-Sharaa tornou-se o primeiro presidente sírio a visitar Washington desde a independência do país em 1946. Durante sua visita, a Síria anunciou sua entrada na coalizão global contra o Estado Islâmico, juntando-se a outros 89 países comprometidos em combater o grupo.

Cerca de 900 militares americanos hoje seguem posicionados no nordeste controlado pelos curdos e na base de al-Tanf, no deserto sudeste, perto das fronteiras com o Iraque e a Jordânia.

Embora não faça parte de sua missão oficial, a presença americana também tem sido vista como um meio de dificultar o fluxo de combatentes e armas iranianos e apoiados pelo Irã para a Síria a partir do vizinho Iraque.

gq (Reuters, AP, AFP, DW)