Chefe de gabinete de Donald Trump revelou que mudança de regime é a prioridade da Casa Branca em relação à Venezuela, e tudo indica que não se trata apenas de restaurar a democracia ou combater o tráfico de drogas.Os Estados Unidos estariam tentando destituir o presidente da Venezuela , Nicolás Maduro ? Se uma entrevista recente publicada na revista Vanity Fair servir de referência, a resposta é sim.

A chefe de gabinete do presidente dos EUA, Donald Trump, Susie Wiles , disse, sem rodeios, que seu chefe “quer continuar explodindo barcos até que Maduro se renda”. A declaração é uma referência à campanha de meses dos EUA para destruir supostos barcos venezuelanos que estaraiam transportando drogas no Caribe.

No início, parecia que a questão das drogas estava no centro da mira de Trump. Há muito tempo ele busca fechar o cerco contra narcotraficantes e, nesta semana, declarou o fentanil , tema recorrente em seus dois mandatos presidenciais, uma arma de destruição em massa.

Também foi sugerido que os ataques eram um pretexto para obter mais recursos – petróleo e terras raras – das mãos da Venezuela. Trump ordenou, também nesta semana, bloqueio total a petroleiros sancionados , que agora estão impedidos de chegar ou deixar o país sul-americano.

Mas a entrevista de Wiles mudou essa visão, ou pelo menos diminuiu as especulações sobre as intenções do governo. Parece que Maduro, que controla a Venezuela como presidente desde 2013, a despeito de repetidos esforços para se instaurar a democracia, está no centro da campanha de Trump.

“Não acho que esse fosse o objetivo em janeiro deste ano, quando Trump assumiu o segundo mandato”, disse Paul Hare, diplomata aposentado do Reino Unido e ex-embaixador, agora diretor interino do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Boston. “A ideia era fazer um acordo sobre deportações com Maduro, talvez obter algumas concessões de petróleo para os americanos e fazer um tipo de pacto comercial que lhe permitisse permanecer no poder.”

Gosto pela mudança?

Derrubar Maduro não é uma tarefa simples, mas uma solução potencialmente mais fácil para o governo Donald Trump do que os campos de batalha na Ucrânia e em Gaza.

Isso também se alinharia com a estratégia de segurança nacional do segundo mandato do republicano, que restabelece um foco firme em sua esfera de influência no hemisfério ocidental – uma região que abrange as Américas e, em sua periferia, a Europa Ocidental.

Jesus Renzullo, analista de política latino-americana do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais, disse que o secretário de Estado de Trump, Marco Rubio, – um notório “falcão” da política externa, por sua linha intervencionista, e forte opositor do regime de Maduro – pode ver uma oportunidade de estender a pressão também a Cuba.

Cuba é umaditadura militar, economicamente mais fraca, e depende fortemente da Venezuela para o abastecimento de energia. “A Venezuela é o único trunfo com o qual Cuba ainda pode contar que está próximo de seu território”, disse Renzullo. “Cuba ficaria realmente muito prejudicada e sofreria economicamente.”

Renzullo acredita que os EUA consideram aumentar drasticamente a pressão sobre a Venezuela para forçar uma mudança de regime. “O fato de estarem sendo bloqueados não é suficiente. Caracas sofreu sanções muito maiores durante a ‘pressão máxima’ em 2019 e sobreviveu a isso”, lembra.

Para Hare, não há uma jogada maior para intervir na América Latina por parte do governo Trump além da Venezuela. “Maduro é ilegítimo, mas acho que isso é visto muito mais como um caso especial, e não acho que isso seria seguido por mais agressões a outros países”, disse. “Acho que o governo Trump está genuinamente preocupado com a ilegalidade da presença de Maduro.”

De olho no legado e nos eleitores

Embora a mudança de intenção possa ter sido revelada graças à entrevista de Wiles à Vanity Fair, a motivação pode não ser tão clara. O governo Trump, notadamente por meio de Rubio, tem apoiado a oposição venezuelana, liderada pela recém-nomeada ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Corina Machado .

Machado também tem sido vocal em seu apoio à intervenção de Trump no Caribe. Para Trump, no entanto, seu plano pode ter menos a ver com a defesa da democracia na Venezuela, como os presidentes anteriores dos EUA buscaram demonstrar, e mais com a honra de derrotar um rival pessoal .

“Não se trata de petróleo”, disse Jim Marckwardt, tenente-coronel aposentado do Exército dos EUA, agora um dos diretores do corpo docente para as Américas na Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins. “E a outra coisa que não está em jogo, e eu diria isso especificamente no caso do governo Trump, também não é a democracia, realmente.”

Trump reconheceu o líder da oposição pró-democracia Juan Guaidó como líder da Venezuela em 2019. Maduro permaneceu no poder e novamente esquivou-se das tentativas de forçá-lo a deixar o cargo, mesmo após as eleições venezuelanas de 2024, que, segundo observadores independentes, foram vencidas por seus oponentes.

Mesmo com esse histórico, Trump está mais empenhado em construir seu legado, disse Marckwardt. “Ele tentou resolver as questões com a Faixa de Gaza… ele está trabalhando muito, muito duro para tentar um processo de paz entre a Ucrânia e a Rússia, e então um que está um pouco mais perto de casa neste hemisfério é a Venezuela, e eu diria que é indiscutivelmente mais fácil de resolver.”

Trump também viu sua popularidade cair nas pesquisas de opinião desde sua reeleição, inclusive entre a diáspora latino-americana que ajudou a levá-lo de volta à Casa Branca e que constitui um bloco eleitoral significativo no reduto de Trump na Flórida.

“Essa é uma maneira fácil de atrair especificamente essa diáspora, que tem uma grande concentração de poder eleitoral na Flórida, então parte disso também é para apaziguar esse eleitorado.”