Seduzidos pela beleza natural das orquídeas, botânicos e floristas sempre souberam que existe algo muito especial nessas top models do mundo das plantas.

Agora, descobertas sugerem que as orquídeas surgiram quando os dinossauros ainda percorriam a superfície do planeta – muito antes do que se acreditava, portanto.


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Investigando na República Dominicana, uma equipe de cientistas encontrou, perfeitamente preservados no interior de uma pedra de âmbar, grãos do pólen de uma orquídea grudados nas asas de uma abelha de 20 milhões de anos.

Até então, os botânicos especializados em história das plantas eram obrigados a basear os seus cálculos em alguns poucos exemplares fossilizados na tentativa de detectar a origem dessas plantas, mas a descoberta, publicada pela revista científica Nature, sugere que as orquídeas surgiram em tempos muito remotos, mais especificamente há 85 milhões de anos.

A família das Orchidaceae, ou orquídeas, foi batizada a partir da palavra grega orchis, que significa testículos, uma referência às sugestivas raízes em forma de bulbos que a planta possui. As orchis apareceram pela primeira vez num livro de história natural escrito pelo grego Teofrastos, o “pai da botânica”.

Essa família é a maior e mais diversificada de todo o universo das plantas florais, com mais de 25 mil espécies observadas até agora. A cada ano, cerca de 300 novas espécies são acrescentadas à lista, e alguns cientistas estimam que mais de cinco mil novas orquídeas ainda não foram descobertas. Mais de 100 mil orquídeas híbridas já foram cultivadas por especialistas em floricultura.

Grande resistência

As orquídeas estão divididas em grupos de acordo com o modo pelo qual obtêm seus nutrientes. Muitas são epífitas perenes, que fixam suas raízes em outras plantas, quase sempre em árvores. As orquídeas litófitas crescem sobre rochas, tirando o seu sustento do ar, da chuva e inclusive dos seus próprios tecidos mortos. Existem também as orquídeas terrestres, que crescem na terra.

Embora possam parecer frágeis, as orquídeas são muito resistentes e evoluíram para viver em todos os habitats, com exceção da água e dos desertos, e em todos os continentes, com exceção da Antártida. A Schomburgkia tibicinis, por exemplo, é uma litófita cujas flores possuem caules que podem atingir três metros de altura, de modo que possam atrair agentes polinizadores.

Essa orquídea também hospeda exércitos de formigas no interior oco de seus bulbos. Esses insetos, em retribuição, defendem a planta contra outros insetos herbívoros e pragas que se nutrem de suas folhas. A espécie australiana Rhizanthella gardneri é fertilizada no subsolo, onde ela vive e floresce, sem nunca conhecer a luz do dia.


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Orquídea Cymbidium iridioides: isca para os insetos. Crédito: Yercaud-elango/Wikimedia Commons
Polinização por insetos

Algumas orquídeas são fertilizadas por pássaros ou morcegos, mas a grande maioria – precisamente 86% delas – é polinizada por insetos. A Cymbidium ostenta uma mancha amarela que parece oferecer alguns tentadores bocados de pólen às abelhas polinizadoras. Quando elas chegam e tentam mastigar a isca decorativa, a orquídea deposita o pólen real nas costas do inseto.

A orquídea erva-mosca (Ophrys bombyliflora) evoluiu de modo a parecer e a ter o cheiro de uma abelha fêmea, a tal ponto que os machos tentam copular com ela. Não só abelhas e botânicos foram seduzidos pela orquídea. Os pássaros-jardineiro machos da Nova Guiné decoram a entrada dos seus ninhos com flores de orquídea.

Os antigos chineses foram dos primeiros a utilizar orquídeas na medicina. Eles as consideravam as mais aristocráticas dentre as plantas, e seu perfume simboliza virtude e sabedoria. O filósofo Confúcio disse certa vez que “ligar-se a uma pessoa superior é como entrar em um jardim de orquídeas”. Escritos do inglês John Parkinson, de 1640, revelam que as orquídeas estavam entre as drogas vendidas em Londres (Inglaterra) para a cura de febres, inchaços e feridas.

Poderes afrodisíacos

Durante muito tempo, acreditou-se também que as orquídeas possuíam poderes afrodisíacos. Um antigo filósofo grego afirmava que as raízes terrestres de uma espécie, batizada com o nome do deus da fertilidade Príapo, possibilitavam ao homem ter até 70 relações sexuais consecutivas. Influenciados por essa propaganda certamente bastante enganosa, libertinos otimistas da época quase levaram a planta à extinção.

Charles Darwin, o teórico evolucionista e grande entusiasta das orquídeas, foi ridicularizado pelo seu colega naturalista Thomas Huxley quando descreveu corretamente como a espécie Catasetum saccatum lança o seu saco de pólen viscoso na direção dos insetos. Muitos outros também duvidaram quando ele predisse a existência de uma mariposa com uma tromba longa o bastante para penetrar os 30 centímetros do canal que conduz ao reservatório de néctar da Angraecum sesquipedale (também conhecida como “Orquídea de Darwin”), que é impenetrável para outros insetos. Vinte anos mais tarde, cientistas descobriram a mariposa-falcão (Manduca sexta), cuja tromba tem anatomia perfeita para a função.

Comerciantes e colecionadores de orquídeas gastam milhões todos os anos na aquisição de espécies exóticas e estima-se que globalmente o volume de negócios com orquídeas movimente cerca de US$ 1 bilhão por ano. O maior pagamento já efetuado pela compra de uma única planta foi de 1.500 libras esterlinas, em 1890 – o equivalente ao valor atualizado de 100 mil libras esterlinas. Nos leilões de flores realizados na Holanda, os compradores movimentam em torno de 37 milhões de libras esterlinas por ano, apenas para orquídeas cultivadas.

Em vários países da Europa, sobretudo na Inglaterra, as orquídeas são as flores para decoração mais populares. Muitas orquídeas cortadas, que podem sobreviver na água durante até seis semanas, são importadas de Taiwan, da Holanda e da Tailândia. Taiwan, por sinal, é o maior exportador mundial de orquídeas. O país organiza uma grande feira internacional dessas flores, na qual a maioria das orquídeas pertence à família das Phalaenopsis.

Orquídea Phalaenopsis: família dominante em Taiwan. Crédito: Nicolas Perrault II/Wikimedia Commons
Caça a espécies exóticas

Quando o naturalista britânico William Swainson enviou para o seu país uma caixa postada no Rio de Janeiro, em 1818, contendo mudas de uma orquídea, toda a Londres vitoriana se encantou com as flores que elas produziram. A planta, batizada com o nome de Cattleya labiata em homenagem ao botânico que a descobriu, William Cattley, foi cultivada até a floração, sendo o ponto de partida para uma verdadeira mania de caça a espécies ainda mais exóticas. Muitos viveiros ingleses mandaram caçadores de orquídeas a países distantes, em viagens que duraram anos, para coletar plantas em pantanais remotos e em cadeias de montanhas.

Na metade do século 19, o “caçador” checo Benedict Roezl deu a volta ao mundo para coletar mais de 800 espécies de orquídeas. Hoje, cerca de 40 plantas trazem o seu nome. Mais ou menos na mesma época, o botânico inglês John Day devotou toda a sua vida às plantas, criando uma série de mais de 50 álbuns contendo cerca de 3 mil belíssimos e bem detalhados desenhos e aquarelas.

Ainda hoje, a caça à orquídea é um grande negócio. Em 2001, uma equipe de pesquisadores na Amazônia peruana descobriu uma nova espécie (Phragmipedium kovachii), cujas incríveis flores de cor púrpura causaram sensação em toda a comunidade orquidófila, ganhando manchetes até no jornal The New York Times. Logo, os espécimes foram contrabandeados para fora do Peru, e vendidos por dezenas de milhares de dólares por comerciantes inescrupulosos.

Secagem de baunilha. Crédito: Bouba/Wikimedia Commons
Baunilha, uma orquídea comestível

A baunilha é um raro exemplo de uma orquídea utilizada como alimento. As sementes e a polpa encontradas nas bagas da baunilha são usadas para a produção do extrato de baunilha, a maior parte do qual é produzida em Madagascar. A ilha exportou 3 milhões de toneladas dessa essência em 2005, quase toda ela destinada à Coca-Cola – essa empresa norte-americana de refrigerantes é a maior consumidora mundial do extrato de baunilha.

Na Turquia, um sorvete feito com salep (farinha produzida a partir dos tubérculos de orquídeas selvagens secas) é tão popular que o seu comércio está ameaçando a própria sobrevivência da planta no futuro – são necessárias mil orquídeas para se produzir um único quilo da farinha. A sobremesa é chamada salepi dondurma (sorvete de testículo de raposa).


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