Às vésperas de eleições presidenciais, atenção, partidos: jamais mudem uma camisa vencedora. Especialmente se ela for vermelha. Afinal, essa é a cor dos campeões. Duvida? Então, responda: nos últimos anos, qual a sigla política que mais elegeu candidatos no Brasil? O PT, é claro! Passando da política aos esportes, diga quem venceu a Liga dos Campeões de 2008 e foi vice no ano passado? O Manchester United, da Inglaterra. De 1994 para cá, quais foram o piloto e a escuderia que mais arrasaram na Fórmula 1? Michael Schumacher e a Ferrari. Qual foi o melhor jogador de basquete dos últimos tempos? Michael Jordan. O que todos têm em comum? Uniformes vermelhos. Mas o sucesso deles é motivado pela cor de suas roupas ou tem algo a ver com os fatores técnicos? Aliás, a cor influi nas decisões dos juízes? Inacreditável, mas tudo indica que sim, conforme defendem os psicólogos Bernd Strauss, Norbert Hagemann e Jan Leissing, da Universidade de Münster (Alemanha), em artigo publicado no periódico Psychological Science.

Na etapa inicial de seu estudo, os psicólogos exibiram lutas de artes marciais a 42 árbitros, pedindo-lhes que declarassem os vitoriosos. Neste tipo de combate, os dois adversários usam uniformes de cores diferentes (pode ser vermelho ou azul). A vitória é atribuída ao atleta que conquista a maior pontuação, calculada a partir da soma de golpes dados. Posteriormente, os pesquisadores modificaram digitalmente a cor dos uniformes dos competidores de vermelho para azul e novamente perguntaram aos juízes quem havia vencido. O resultado surpreendeu, pois, embora os árbitros tivessem visto cenas iguais, deram notas diferentes, atribuindo aos lutadores vestidos de vermelho 13% mais vitórias do que quando trajavam roupas azuis. O fenômeno se manifestou especialmente nos jogos disputados por atletas do mesmo nível, quando era mais difícil estabelecer a supremacia de um sobre o outro.

RELAÇÃO INTRIGANTE

Não é de hoje que a relação “vermelho/vitória” intriga os cientistas. Ao contrário, há anos eles tentam decifrar esse mistério. Enquanto isso não ocorre, outras pesquisas confirmam os relatos anteriores mostrando que os atletas com uniformes vermelhos vencem competições com mais frequência do que os seus adversários com trajes de outras cores. Caso do estudo desenvolvido por Russell Hill e Robert Barton, do Grupo de Pesquisas sobre Antropologia Evolutiva da Universidade de Durham (Grã-Bretanha). Eles analisaram estatisticamente os resultados das disputas de quatro categorias de luta realizadas durante os Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, na Grécia, encontrando uma correlação estatística entre cor e vitória nas competições.

 

Em seus discursos eleitorais, a candidata petista à presidência da república, Dilma rousseff, quase sempre está com alguma peça vermelha. Intuição feminina ou consciência quanto ao poder dessa cor?

 

A pesquisa dos britânicos avaliou as seguintes modalidades esportivas: boxe, tae kwon do, luta greco-romana e luta livre. Esses tipos de combates individuais foram escolhidos pela maior facilidade para a obtenção de estatísticas e também por serem torneios em que os atletas recebem aleatoriamente uniformes ou protetores vermelhos ou azuis.

Após a análise dos dados, Hill e Barton descobriram que usar vermelho faz de fato uma diferença, pois os competidores que usavam essa cor tiveram uma vantagem mensurável. O vermelho venceu 57% das lutas no tae kwon do, seguido pelo boxe (55%) e pela luta livre (estilo greco-romano, 52%, e estilo livre, 53%).

A obtenção desses dados serviu apenas para aguçar ainda mais o interesse dos cientistas, que decidiram investigar o futebol. Após empregar a mesma metodologia da pesquisa anterior para avaliar os times da Primeira Liga da Inglaterra no período de 1947 a 2003, Hill e Barton declararam que o vermelho também favorece o jogador de futebol, em um artigo publicado no Journal of Sports Sciences. A análise estatística feita por eles de 56 temporadas do campeonato inglês de futebol mostrou que três dos quatro clubes ingleses mais bem-sucedidos que usam camisas vermelhas – o Manchester United, o Liverpool e o Arsenal – conquistaram 38 títulos, apresentando também um índice bem mais elevado de vitórias em casa do que os times que usavam uniformes de outra cor.

 

A face e os genitais vermelhos dos machos de mandril estão associados à quantidade de testosterona no sangue. Também denotam a capacidade de combater.

A justificativa para isso? Segundo a dupla, o bom desempenho dessas equipes pode ocorrer devido a uma preferência inconsciente do árbitro pelo vermelho, mas sobretudo pelo fato de essa cor expressar agressão e dominação, o que favorece psicologicamente o atleta, estimulandoo e fazendo-o sentir-se um vencedor. Hill e Barton, no entanto, acham que a explicação mais plausível é a evolutiva. “Nos mamíferos e seres humanos, o vermelho está fortemente associado à testosterona e indica dominância. Involuntariamente, a visão dessa cor num uniforme poderia acionar o instinto de submissão no adversário”, escreveram os britânicos em outro artigo publicado na Nature.

INATO OU APRENDIDO?

De fato, nos animais e nos homens, o vermelho indica força física e capacidade de luta. O comportamento dos primatas, por exemplo, é extremamente influenciado pelo vermelho: nos machos de mandril, a face e os genitais vermelhos comunicam aos rivais a capacidade de combater, sendo que o nível de intensidade da cor é diretamente proporcional à quantidade de testosterona no sangue. Segundo Barton, o homem se comporta de maneira semelhante: o rosto de alguém que está irritado e colérico fica vermelho, indicando que o sangue é mais rico em oxigênio e que o indivíduo está pronto para lutar. Ao contrário, quando uma pessoa sente subitamente medo de algo, empalidece.

As pesquisas indicam que o uniforme vermelho favorece psicologicamente os atletas, pois faz com que se sintam vitoriosos. Na foto, jogadores do Manchester United, time inglês que venceu a Liga dos Campeões em 2008 e foi vice no ano passado.

 

 

Embora várias experiências tenham comprovado que a cor vermelha é intimidatória e está associada à agressão e ao domínio, a dúvida se o medo do vermelho é inato ou aprendido permanece. Para desvendar essa incógnita, Sarah Pryke, da Universidade Macquarie (Austrália), fez um estudo com tentilhões, pequenas aves que podem ter a cabeça vermelha ou preta, dependendo da genética. Em seu experimento, a cientista selecionou jovens tentilhões cujas cabeças ainda não tinham mudado de cor, tingindo a cabeça da metade deles de vermelho. Em seguida, colocou todos os pássaros juntos para disputar alimentos. Ao observá-los, ela descobriu que os tentilhões de cabeça pintada de vermelho venciam o confronto em 81,5% das vezes.

A cientista notou ainda que os tentilhões instintivamente se esquivavam dos pássaros de cabeça vermelha, embora estes não se mostrassem repentinamente mais agressivos. “Esse comportamento indica que os tentilhões evitavam a cor vermelha porque tinham aprendido a temê-la, o que sugere que eles já nascem sabendo que os pássaros com vermelho devem ser evitados”, diz Sarah. Os resultados, publicados na revista Nature, fazem os pesquisadores suspeitar que em outros animais, incluindo os homens, o caráter agressivo e intimidatório do vermelho também pode estar presente em seus cérebros já desde o nascimento.

O vestido usado por Michelle Obama na festa de posse do marido como presidente dos EUA deu o que falar. Na época, os norte-americanos detestaram o traje. Essa reação pode ser explicada porque Michelle fugiu do óbvio – um terninho ou vestido reto de cores lisas e pastéis.

 

INFLUÊNCIAS ARRAIGADAS

O vermelho não faz só os touros perdera cabeça. Ele também afeta os homens, ao menos no que diz respeito ao desempenho intelectual e à motivação. Segundo um estudo conduzido pelo psicólogo Andrew Elliott, professor da Universidade de Rochester (EUA), e por pesquisadores da Universidade Ludwig Maximilian de Munique (Alemanha), as associações dessa cor estão tão arraigadas em nosso comportamento (geralmente são associadas a erros e fracassos) que as pessoas se predispõem a certas reações quando veem vermelho, o que influi negativamente em sua performance intelectual. Na pesquisa, os cientistas expuseram os voluntários a um breve flash de luz vermelha antes de os submeter a um teste para calcular o QI (quociente de inteligência) e descobriram que o simples vislumbre dessa cor havia alterado significativamente o desempenho deles, pois os seus resultados foram muito piores do que aqueles obtidos em sessões não condicionadas pelo vermelho.

 

Outra experiência mostrou que a cor vermelha pode inibir a motivação. Dessa vez, os pesquisadores pediram aos voluntários para escolher, entre várias perguntas, as que quisessem responder. Quase todas as pessoas expostas à luz vermelha optaram por responder às mais triviais, para evitar dificuldades. Os resultados do teste revelaram que a exposição ao vermelho prejudica o desempenho e inibe a motivação. Muitas pessoas relacionam o vermelho a coisas problemáticas, como emergências ou notas baixas nas provas. “Essas associações com vermelho podem ser ativadas sem que tenhamos consciência, influenciando o que estamos fazendo ou pensando”, comenta John Bargh, professor de psicologia na Universidade Yale (EUA). “Damos muito pouca importância às cores, mas elas são capazes de influenciar o nosso comportamento. O mais incrível é saber como nenhum de nós tem consciência disso”, completa Elliot.

Querendo se aprofundar mais em suas sondagens científicas para verificar a influência do vermelho na performance intelectual, Elliot novamente pediu a alguns alunos que respondessem a testes para a medição do QI, desta vez distribuindo as folhas com as provas marcadas em vermelho ou preto. Os estudantes com o papel vermelho mostraram um QI mais elevado do que os outros. Na verdade, o diagnóstico por imagem revelou que a exposição ao vermelho ativa o córtex frontal direito, uma área do cérebro ligada à inteligência emocional e à atenção.

Recentemente, as pesquisas de Elliot foram complementadas por outra, desenvolvida por Rui Juliet Zhu, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá). Após avaliar 600 estudantes que trabalhavam em computadores com monitor de fundo vermelho, azul ou branco, o estudo constatou que o desempenho dos alunos variava por conta das cores e dos trabalhos: o vermelho melhorou o desempenho dos estudantes em um percentual que vai até 31%, em comparação ao azul, especialmente para tarefas que exigem mais atenção, como a revisão de textos. “Enquanto o azul estimula a criatividade, o vermelho melhora o desempenho e a vigilância nas tarefas ligadas à memória e que exijam atenção, porque é associado ao sinal de trânsito, às urgências, às ambulâncias e ao perigo”, explica Zhu, ao lembrar que os estudos anteriores haviam apresentado resultados contraditórios sobre a influência das cores no cérebro, porque não associavam as cores a tarefas específicas.

CHAVE PARA A SEDUÇÃO

Se até hoje trajar-se de vermelho poderia ser conscientemente ou não uma arma de sedução feminina, agora não restam mais dúvidas: pesquisadores norte-americanos confirmaram que os homens não resistem às roupas vermelhas. E mais: eles têm vontade de gastar mais dinheiro com as mulheres que se vestem com essa cor. O estudo que confirmou o forte apelo da cor para o sexo masculino também foi chefiado por Andrew Elliot. “Embora esse efeito do vermelho possa ser fruto de uma sociedade que faz conexões entre as cores e temas relacionados a sexo, sendo, portanto, um traço culturalmente adquirido, há também algo de científico nessa afirmação, vindo de raízes biológicas primitivas”, afirma o professor.

 

 

A atriz inglesa Helena Bonham Carter interpreta a Rainha Vermelha em Alice no País das Maravilhas, o novo filme dirigido por Tim Burton. A produção superou recordes de bilheteria nos Estados Unidos, onde arrecadou US$ 116,3 milhões em um único fim de semana.

Elliot explica que as fêmeas de babuínos e chimpanzés apresentam uma coloração avermelhada quando estão no período da ovulação, sinalizando aos machos um irresistível apelo sexual. Como existem semelhanças genéticas entre os homens e os primatas, ele acredita que os humanos também podem ter essa tendência automática e de base biológica, de responder ao vermelho como uma sinal de atração, devido à sua herança evolutiva. “Essa poderia ser uma das respostas biologicamente comprovadas para justificar o vermelho como um indício de sedução deixado por nossos ancestrais”, diz.

O estudo envolveu mais de 100 homens que deram opiniões sobre fotos de mulheres, com molduras vermelha, branca, cinza e verde. Eles tinham de dar notas sobre a beleza, a vontade de beijá-las e a vontade de fazer sexo com elas. Apesar da foto e da modelo serem as mesmas, a opinião dos homens foi quase unânime ao afirmar que a moça era muito mais atraente quando cercada pela moldura vermelha.

 

Por que a cor é o símbolo das revoluções?

A origem desse símbolo remonta ao século 18. Em 1789, a Assembleia Nacional francesa votou a aplicação da lei marcial em caso de motins e revoltas, que eram bem frequentes naqueles dias. A Guarda Nacional, para avisar que estava aplicando a lei, teria de levantar uma bandeira vermelha. Em julho, o marquês de La Fayette, baseado na lei, mandou abrir fogo sobre a multidão reunida no Campo de Marte, em Paris, assassinando dezenas de manifestantes. Poucos dias depois, houve um grande desfile cujos participantes portavam uma bandeira vermelha na qual estava escrito: “A lei marcial do povo contra a lei marcial do rei (Luís 16 ainda estava no trono).” Significava que a revolta fora motivada por um governo inimigo do povo. Este, o único detentor do poder, teve de defender o seu direito de declarar a lei marcial, desfraldando a bandeira vermelha, símbolo do início da luta contra seus inimigos.

 

 

Recordista de campeonatos ganhos na Fórmula 1, Michael Schumacher e seu macacão vermelho, cor que não usava quando ingressou na categoria, correndo pela Bennetton. Vermelho também é a cor da Ferrari, a escuderia italiana na qual o alemão ganhou os últimos cinco de seus sete títulos (1994, 1995, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004).

SÍMBOLO DE PODER E REALEZA, O TECIDO DA COR VERMELHA, EM ALGUNS PERÍODOS HISTÓRICOS, SOMENTE PODIA SER USADO PELA FAMÍLIA IMPERIAL

Em outra fase do experimento, os entrevistados receberam fotografias que foram tiradas de uma mesma mulher de modo idêntico, mudando-se apenas digitalmente a cor da blusa. Após olhar as fotos, os homens teriam de se imaginar em um encontro com a moça do retrato, contando o quanto estavam dispostos a gastar com ela. Ficou evidente o poder de sedução do vermelho, pois os entrevistados mostraram-se bem mais dispostos a gastar muito mais com a mulher que vestia essa cor.

Um detalhe interessante é que a cor vermelha não influenciou as notas nos quesitos simpatia, conduta e inteligência. As mesmas fotos foram mostradas a um grupo de jovens mulheres, que também deveria dar sua opinião quanto à beleza das fotografadas. A cor vermelha não surtiu nenhum tipo de impacto sobre as mulheres e não teve nenhuma influência sobre a opinião delas.

 

Considerado o melhor jogador de basquete de todos os tempos, Michael Jordan conquistou seis títulos pelo Chicago Bulls (1991, 1992, 1993, 1996, 1997 e 1998). Também foi ouro em duas Olimpíadas: na de Los Angeles (EUA) e na de Barcelona (Espanha).

 

TRUQUES PARA CONQUISTAR

Todo mundo sabe que o vermelho é a cor da paixão, mas que isso tem fundamento científico é uma descoberta recente. Faces coradas e tez rósea parecem essenciais para a escolha de um parceiro. Ao menos nos macacos, especialmente para as fêmeas da espécie rhesus. A partir de uma pesquisa com essas macacas, a pesquisadora Corri Waitt, do Departamento de Psicologia da Universidade de Stirling (Grã- Bretanha), constatou que, na hora da procriação, as fêmeas escolhem os machos que têm uma cor vermelha intensa na face.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nos primatas, essas características indicam um alto nível de testosterona que, como em muitos outros animais, significa um eficiente sistema imunológico e um conjunto de genes de “boa qualidade”. A partir desses resultados, Corri passou a acreditar que algo parecido pode ocorrer na espécie humana, com a cor rosada do rosto indicando aqueles que são potencialmente “bons” parceiros. “Isso justificaria o hábito das mulheres de maquiar os lábios e as bochechas.”

Craig Roberts, biólogo da Universidade de Newcastle (Grã-Bretanha), apoia a tese de Corri: “Parece que ter uma cor saudável, que dificilmente está presente quando a pessoa não tem boa saúde, é um sinal honesto do ‘material’ genético, da força e do vigor de um indivíduo.” Uma teoria que é um claro convite para as pessoas abandonarem o visual gótico e saírem correndo para adquirir um bronzeado transado. Afinal, com ele será bem mais fácil capturar e ser capturado por alguém.