22/02/2019 - 7:54
A obesidade infantil continua a aumentar em todo o mundo, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera esse “um dos mais sérios desafios de saúde pública do século 21”. “Há ainda mais crianças abaixo do peso do que obesas, mas é provável que isso mude logo”, disse Tiago Barreira, professor assistente do Departamento de Ciências do Exercício da Universidade de Syracuse, em Nova York, que estudou a obesidade infantil em escala global, para a CNN.
Pode-se dizer até que amanhã mesmo essa relação já irá se inverter. Calcula-se que a prevalência da obesidade infantil e adolescente ultrapasse a prevalência de baixo peso moderado e grave até 2022, de acordo com um estudo publicado na revista The Lancet em 2017.
O estudo estimou que, em 1975, havia 11 milhões de crianças de 5 a 19 anos com obesidade, mas em 40 anos, o crescimento foi vertiginoso, chegando a 124 milhões em 2016. Já o número de crianças obesas ou com excesso de peso até 5 anos subiu de forma mais leve de 32 milhões em todo o mundo em 1990 para 41 milhões em 2016, de acordo com dados da OMS. Mas, se as tendências atuais continuarem, poderá aumentar para 70 milhões até 2025.
Claro que este é um problema mais sério em alguns países e menos pesado para outros. Tanto entre 5 e 9 anos quanto de 10 a 19, as ilhas do Pacífico apresentam as maiores concentrações de casos. Nauru aparece com as maiores taxa de obesidade em 2016, segundo dados da OMS, seguida por Ilhas Cook, Palau, Niue, Ilhas Marshall, Tuvalu e Tonga. Todos eles com taxas de 36% a 30%. Depois desse grupo, o país com maior índice é o Kwait com 23,1% entre as crianças de 5 a 9 anos e de 22,8% entre as crianças de 10 a 19 anos.
Entre os países com prevalência de obesidade infantil abaixo de 1% para meninos estão Uganda e Ruanda entre 5 e 9 anos, e Níger, Burkina Fasso e Etiópia entre 10 e 19 anos.
Abaixo de 2% para as meninas, estão Camboja e Burkina Faso entre os 5 e os 19 anos, segundo dados de 2016. Nos Estados Unidos, a prevalência de obesidade infantil é de 20,7%, no Brasil, 9%, na França 6.9% – que está entre os mais baixos da Europa.
Fatores de risco são os mesmos no mundo todo
No geral, a maioria dos grupos de saúde concorda que existem vários fatores de risco para a obesidade infantil. Entre eles se destacam: consumo de alimentos e bebidas com alto teor calórico e baixo teor de nutrientes; atividade física insuficiente; excesso de tempo inativo em frente a TV ou outras telas; uso de medicação, e sono inadequado.
“A principal coisa que descobrimos foi que havia uma relação entre o nível de atividade física – especialmente a atividade física moderada a vigorosa – e a obesidade em todos os lugares”, disse Barreira, que participou do estudo.
Mas o país onde a criança vive pode influenciar alguns desses fatores de risco. Quando se trata de exercício, um estudo na publicação Obesity em 2017 revelou que em 12 países a atividade física foi um prognóstico mais forte para a obesidade infantil do que seu peso no nascimento. O Brasil está entre eles, juntamente com Austrália, Canadá, China, Colômbia, Finlândia, Índia, Quênia, Portugal, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos.
No caso das ilhas que mais concentram crianças e adolescentes obesos, o que mais contou foram as mudanças nos hábitos alimentares. A OMS observou que “a substituição de alimentos tradicionais por alimentos importados e processados contribuiu para a alta prevalência de obesidade e problemas de saúde relacionados nas ilhas do Pacífico”.
Definição de obesidade para crianças não é universal
Entre adultos, a obesidade é definida pelo índice de massa corporal (IMC), uma medida da relação entre peso e altura. Mas em crianças essa relação muda drasticamente devido ao constante crescimento.
“A definição de obesidade para crianças não é universal como os adultos”, disse Barreira.
Além disso, “os dados globais são um pouco problemáticos porque os métodos para coletar dados – auto-reportados ou medidos – e analisar dados diferem. Então, algumas das informações que temos não são idênticas dependendo de quem está relatando”, disse ele.
Para a OMS, por exemplo, um índice de massa corporal com dois desvios padrão acima da média para o sexo e o grupo etário de uma criança seria considerado obeso. Para o CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças, da sigla em inglês), o que determina esse limite é o índice de massa corporal igual ou acima do percentil 95 do grupo etário de uma criança no gráfico de crescimento específico do sexo do CDC.