12/03/2025 - 14:22
Objetos com massa maior do que um planeta e menor do que uma estrela intrigam astrônomos por representar uma classe cósmica própria. Em 2023, especialistas descobriram 40 pares de corpos flutuantes com massa planetária – mas que, curiosamente, não eram planetas.
Eles foram identificados como Objetos Binários de Massa Júpiter, ou JuMBOs, achados na nebulosa de Órion. Esses objetos de massa planetária flutuantes são corpos com cerca de 13 vezes a massa de Júpiter, frequentemente encontrados vagando livres por aglomerados estelares jovens, como o Aglomerado Trapézio em Órion.
Essa classe astronômica pode ser criada quando sistemas estelares jovens colidem, o que significa que ela tem características próprias, não sendo igual aos corpos celestes já conhecidos. Desse modo, a superabundância e natureza binária dos JuMBOs não pode ser explicada pelos processos que originam estrelas e planetas.
Deng Hongping, do Observatório Astronômico de Xangai, na Academia Chinesa de Ciências, explica que esses objetos possuem categorias específicas.
“Objetos de massa planetária não se encaixam perfeitamente nas categorias existentes de estrelas ou planetas. Nossas simulações mostram que eles provavelmente se formam por meio de um processo completamente diferente — um ligado à dinâmica caótica de aglomerados estelares jovens.”
A nova pesquisa mostrou que esses órfãos cósmicos podem ser forjados quando nuvens achatadas de gás e poeira, chamadas “discos circunstelares”, interagem violentamente ao redor de estrelas infantis. Essa interação de atrito pode acontecer quando as estrelas jovens estão aglomeradas.
Qual a origem?
Anteriormente, os cientistas teorizaram que objetos de massa planetária flutuantes eram simplesmente “planetas falsos”, ejetados de seus sistemas estelares por meio de interações com estrelas passageiras ou por disputas gravitacionais. No entanto, a existência de pares de JuMBOs desafiou essa ideia.
Isso porque é difícil explicar como um evento pode ser violento o suficiente para ejetar um planeta de seu sistema estelar sem separá-lo do parceiro binário. Apesar da possibilidade de ter ocorrido um evento excepcional, a detecção de 40 pares de JuMBOs na nebulosa sugere que a origem desses corpos é mais do que um acontecimento do acaso.
Para chegar ao fundo desse mistério, Deng e colegas realizaram uma simulação hidrodinâmica de alta resolução de encontros próximos entre dois discos circunstelares ao redor de estrelas infantis.
A equipe descobriu que quando esses discos colidem em velocidades de cerca de 7.242 a 10.783 quilômetros por hora, uma “ponte de maré” de gás e poeira é formada. Essas pontes de maré colapsam para criar densos filamentos de gás que se separam e formam “sementes” de objetos de massa planetária.
As simulações revelaram que cerca de 14% desses corpos são formados em pares ou trios, com separações em torno de sete a 15 vezes a distância entre o Sol e a Terra. Isso explicaria a abundância de JuMBOs em Orion.
“Esta descoberta remodela parcialmente a forma como vemos a diversidade cósmica”, diz o membro da equipe Lucio Mayer, da Universidade de Zurique.
“Objetos de massa planetária podem representar uma terceira classe de objetos, nascidos não da matéria-prima de nuvens formadoras de estrelas ou por meio de processos de construção de planetas, mas sim do caos gravitacional de colisões de disco”, completa.