Empreitada bilionária na Casa Branca é financiada com a ajuda de ricos e empresas privadas. Analistas alertam para conflitos de interesse – e falam até em elementos suficientes para qualificar suborno.Imagens de escavadeiras demolindo partes da Casa Branca viralizaram no início desta semana. O atual mestre de obras, o presidente dos EUA, Donald Trump, está construindo um novo salão de baile na Ala Leste da Casa Branca, em Washington, para acomodar centenas de pessoas em grandes eventos, tais como banquetes oferecidos pelo Estado. A reforma é um projeto pessoal do presidente americano, que ele vem reiterando repetidamente e com orgulho à imprensa. As obras, porém, também têm sido alvo de críticas, entre outros motivos, devido ao seu financiamento.

Trump e a visão de um “belo salão de baile”

Trump enfatiza que há 150 anos o governo dos EUA precisa de mais espaço para grandes recepções na Casa Branca. “O presidente Donald J. Trump prometeu resolver esse problema para futuros governos e para o povo americano”, disse um comunicado da Casa Branca em julho de 2025.

Com uma área de aproximadamente 8.360 metros quadrados, o salão de baile atualmente em construção é um pouco maior que um campo de futebol. E, segundo Trump, a previsão é de que custe “aproximadamente 300 milhões de dólares” (cerca de R$ 1,6 bilhões). “Tenho o prazer de anunciar que a terraplenagem foi iniciada no terreno da Casa Branca para a construção do novo, grandioso e belo salão de baile da Casa Branca”, escreveu Trump em uma publicação em sua plataforma Truth Social.

Inicialmente, foi dito que o novo salão acomodaria assentos para 650 convidados. Já em um jantar para doadores endinheirados na semana passada, Trump declarou que acomodaria 999 pessoas. Até agora, grandes recepções de Estado e outras celebrações com grande número de convidados têm sido realizadas em tendas montadas no gramado ao sul da Casa Branca. Segundo Trump, o projeto de construção visa remediar essa situação “insustentável”.

Salão de baile de um lado, paralisação do outro

O presidente faz questão de enfatizar que nem um único centavo do dinheiro dos contribuintes será usado para a reforma. Esta foi inclusive a justificativa apresentada para que as obras começassem durante o atual shutdown americano, que paralisou o governo dos EUA há cerca de três semanas e interrompeu a maior parte dos gastos públicos desde então.

Críticos, porém, veem as reformas como problemáticas num momento como este. “É justo que o governo empreenda projetos de construção caros, principalmente estéticos, enquanto os americanos comuns estão em dificuldades financeiras? E durante uma paralisação na qual dezenas de milhares de funcionários públicos não estão sendo pagos?”, questiona Davina Hurt, diretora do Programa de Ética Governamental do Centro Markkula de Ética Aplicada da Universidade de Santa Clara, na Califórnia.

Hurt disse à DW que considera a opulência do projeto completamente inapropriada — especialmente durante uma paralisação, quando muitos precisam apertar os cintos, mas também em geral. “Este não é o momento — e talvez nunca seja — para construir um salão de baile grande e luxuoso.”

Quem vai pagar pela reforma da Casa Branca?

Trump enfatiza que pagará pessoalmente pela reforma do novo salão de baile – com o apoio de pessoas físicas e jurídicas abastadas. Uma lista de doadores divulgada pela Casa Branca na quinta-feira inclui a empresa de defesa Lockheed Martin e as gigantes da internet Microsoft, Apple, YouTube, Amazon e Google. Críticos temem que esse tipo de financiamento possa levar a corrupção.

“As empresas que doam dinheiro claramente o fazem para ganhar a simpatia do governo e tornar sua marca popular entre autoridades governamentais”, afirma Richard Painter, professor de direito na Universidade de Minnesota e advogado especializado em ética no governo Bush de 2005 a 2007.

Doações em troca de concessões?

A preocupação é que empresas (ou mesmo pessoas físicas) que agora fazem doações para o projeto pessoal de Trump possam esperar algo em troca do presidente no futuro. Painter vê esse sistema de troca de favores como um grande risco. Em sua opinião, isso constitui até mesmo suborno.

“Essas empresas querem algo do governo e pagam, primeiro, para ter acesso ao presidente e a outros altos funcionários do governo e, segundo, para conseguir o que querem”, disse Painter. “A Lockheed Martin, por exemplo, quer grandes contratos com o Departamento de Defesa, então nosso orçamento de defesa de 1 trilhão de dólares agora é ainda maior.”

“Essas empresas querem algo do governo e pagam, primeiro, para ter acesso ao presidente e a outros altos funcionários do governo e, segundo, para conseguir o que querem”, disse Painter. “A Lockheed Martin, por exemplo, quer grandes contratos com o Departamento de Defesa, então nosso orçamento de defesa de US$ 1 trilhão será agora ainda maior.”

De quadra de basquete e a pista de boliche: as reformas na Casa Branca

Trump, obviamente, não é o primeiro presidente dos EUA a redesenhar a residência oficial desde o início de sua construção em 1792.

O histórico de reformas vai desde uma quadra de tênis, que Barack Obama havia mandado adaptar para acomodar também jogos de basquete, até uma renovação completa feita por ordens de Harry Truman, que se mudou para a Casa Branca em 1945. Na época, o prédio estava em péssimas condições após anos sem reformas.

Na ocasião, as reformas abrangeram praticamente todo o interior do edifício e incluíram, entre outras coisas, uma nova sala de jantar para visitas de Estado, uma pista de boliche e uma nova sacada. Elas duraram de 1948 a 1952.

O salão de baile de Trump está previsto para ser concluído antes do final de seu mandato, em janeiro de 2029.