Há muito tempo um chanceler alemão não tinha uma aprovação tão baixa. Seu governo teve que lidar com muitos problemas, mas analistas culpam também seu estilo de comunicação e os conflitos na coalizão.”Vejam, ali está o nosso chanceler, Olaf Scholz”, diz uma mulher entusiasmada, empurrando dois meninos de cerca de 10 anos à frente de fotojornalistas.

“O homem baixinho e careca?”, pergunta um deles, espiando por cima da fita de isolamento na direção de dois homens e uma mulher a alguns metros de distância, ao lado de um veículo agrícola, que falam sobre a colheita de morangos totalmente automatizada, durante uma feira agrícola em Berlim.

A distância física tinha algo de simbólico. Por meses, muitos cidadãos têm tido a sensação de que seu chanceler não está lá, que sua presença mal é notada. Desde dezembro de 2021, Scholz comanda um governo de coalizão de três partidos, incluindo seus social-democratas (SPD), verdes e liberais (FDP). Não tem sido fácil.

Nunca antes um governo alemão teve que lidar com tantos problemas. A começar pela guerra russa contra a Ucrânia, que tornou a energia escassa e cara e provocou inflação. O Estado interveio com ajuda financeira, mas agora os cofres públicos estão vazios.

Os últimos a sentirem o aperto são os agricultores, que tiveram o subsídio ao combustível para equipamentos agrícolas cortado. Isso levou os agricultores com seus tratores às ruas, e muitos outros se juntaram aos protestos. Autônomos reclamaram de custos altos e excesso de burocracia. Maquinistas de trens entraram em greve porque querem ganhar mais e trabalhar menos.

Estradas, pontes e ferrovias precisam ser reformadas, e a Alemanha está atrás de outros países na digitalização. No estudo internacional Pisa sobre desempenho educacional, os alunos alemães tiveram sua pior performance na série histórica.

E Scholz e seu governo, o que estão fazendo a respeito? Aos olhos do público, muito pouco.

Apenas um em cada cinco satisfeito com Scholz

O social-democratas, os verdes e os liberais já implementaram boa parte do que haviam proposto em seu acordo de coalizão. Mas também houve muitas brigas, especialmente entre os liberais e os verdes. Scholz costuma se abster desses conflitos, e é disso que as pessoas se lembram.

Em meados de janeiro, a DW falou com transeuntes nas ruas de Berlim. Quando perguntada sobre Scholz, uma mulher disse: “As pessoas não se sentem realmente ouvidas. Parece que todos os preços estão subindo muito. Há uma sensação de que não vale mais a pena viver na Alemanha.”

De acordo com o instituto de pesquisa infratest-dimap, apenas 19% dos eleitores estão satisfeitos com Scholz. Nenhum chanceler federal alemão foi tão impopular desde que o instituto começou a fazer pesquisas em 1997.

“As pessoas precisam ser informadas de antemão que haverá muito o que enfrentar, e que as coisas não podem continuar assim”, disse outra mulher à DW.

Mas é exatamente isso que Scholz não está fazendo. O chanceler só se manifesta quando acha necessário. Quando faz uma declaração pública, é sempre breve, sóbria e factual. Suas mensagens geralmente tentam apaziguar o público, assegurando-lhes que tudo ficará bem. Mas isso não tem sido convincente.

É evidente que há problemas sérios, disse Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW) em Berlim, à DW. Olaf Scholz deve deixar isso claro.

“Ele deve falar de forma honesta e aberta sobre o que o governo pode e o que não pode realizar. Ele deve apresentar uma visão e também mostrar humildade. Acima de tudo, é preciso falar com a população, ganhar sua confiança, inclusive a dos empresários.”

Mediador ou líder?

É preciso mais humildade e melhorar o gerenciamento das expectativas. Não é que Scholz esteja inativo, observando as muitas crises do país a partir de sua sala. De acordo com o gabinete da Chancelaria, em comparação com sua antecessora, Angela Merkel, Scholz tem feito um esforço maior para se conectar diretamente com os cidadãos.

Mas isso envolve principalmente encontros direcionados e controlados, seja participando da semana agrícola em Berlim, recebendo líderes empresariais na Chancelaria ou visitando um hospital ou uma empresa.

As visitas do chanceler no final de dezembro e início de janeiro a áreas devastadas por enchentes e ao jogo da equipe alemã de handebol no Campeonato Europeu mostraram o que pode acontecer quando ele se encontra com cidadão. Olaf Scholz foi insultado, vaiado e ridicularizado.

As políticas do chanceler federal não estão chegando à população, disse à DW Ursula Münch, diretora da Academia de Educação Política em Tutzing, na Baviera. “Muita visibilidade não equivale a muito impacto. Especialmente para um chanceler que as pessoas receiam ser não tão assertivo e presente como ele afirmou que seria.”

Münch refere-se a algo que Scholz disse uma vez: “Quem me pedir liderança, a terá.” Aos olhos do público, um chanceler federal deve ser capaz de liderar. Mas na coalizão que governa a Alemanha, ele se vê mais como um moderador do que como um chefe.

Aos olhos de seus críticos, o chanceler também carece de liderança no cenário internacional. Na semana passada, ele não compareceu ao Fórum Econômico Mundial de Davos, sem dar explicações.

Não é de se admirar que o ressentimento também esteja crescendo no próprio partido de Scholz, o SPD. A revista Der Spiegel noticiou sobre reuniões secretas para discutir planos para que o popular ministro da Defesa, Boris Pistorius, concorra pela legenda nas próximas eleições em 2025, em vez de Scholz. O que o chanceler tem a dizer sobre esses rumores? Nenhum comentário.