Relatório estima que 840 milhões de mulheres já sofreram atos de violência sexual ou perpetrados por parceiros. Em 2024, foram 316 milhões de casos, sendo adolescentes as maiores vítimas.A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que quase uma em cada três mulheres já sofreu violência sexual ou perpetrada por um parceiro íntimo. Em um relatório divulgado nesta quarta-feira (19/11), a entidade afirma que nenhuma sociedade “pode se considerar justa, segura ou saudável enquanto metade de sua população viver com medo”.

“A violência contra as mulheres é uma das injustiças mais antigas e comuns da humanidade, e ainda assim, uma contra as quais menos agimos”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus , em nota.

Em seu relatório, a agência da ONU estimou que 840 milhões de mulheres em todo o mundo – quase um terço das pessoas do sexo feminino a partir dos 15 anos – já sofreram violência por parte de um parceiro ou violência sexual em algum momento de suas vidas.

Somente em 2024, 316 milhões de mulheres – ou 11% da população feminina global com 15 ou mais anos de idade – sofreram violência física ou sexual por parte de um parceiro íntimo, segundo o relatório publicado pouco antes do Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, em 25 de novembro.

Violência contra mulheres começa cedo

O documento revela que a violência contra as mulheres começa cedo. A OMS destacou que, somente nos últimos 12 meses, 12,5 milhões de meninas adolescentes – 16% do total das jovens com idades entre 15 e 19 anos – sofreram violência física e/ou sexual por parte de um parceiro íntimo.

Os avanços têm sido “dolorosamente lentos”, disse a OMS, apontando que a violência por parceiro íntimo diminuiu apenas 0,2% ao ano nas últimas duas décadas.

LynnMarie Sardinha, do departamento de saúde sexual, reprodutiva, materna, infantil e do adolescente e do envelhecimento da OMS, alertou que o número de casos relatados pode até começar a aumentar.

“Uma conscientização maior provavelmente levará a uma quantidade maior de relatos de violência”, afirmou a repórteres.

“Crise profundamente negligenciada”

Pela primeira vez, o relatório da OMS também inclui estimativas nacionais e regionais de violência sexual cometida por alguém que não seja um parceiro íntimo.

O relatório constatou que 263 milhões de mulheres sofreram violência sexual por parte de não parceiros desde os 15 anos de idade, alertando que o problema é “significativamente subnotificado devido ao estigma e ao medo”.

A análise abrange dados coletados entre 2000 e 2023 em 168 países que revelam “um quadro alarmante de uma crise profundamente negligenciada”, disse a OMS.

O relatório destaca que, apesar das evidências cada vez numerosas sobre estratégias eficazes para prevenir a violência contra as mulheres, o financiamento dessas iniciativas está “em colapso”. Em 2022, por exemplo, apenas 0,2% das verbas de ajuda global ao desenvolvimento foi destinada a programas voltados à prevenção da violência contra as mulheres.

O financiamento caiu ainda mais desde o início deste ano, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , agiu para suspender a ajuda externa global fornecida por seu país.

Conflitos e crise climática agravam o quadro

Os dados indicam que mulheres em países mais pobres, ou aqueles abalados por conflitos ou aquecimento global, são afetadas de forma desproporcional.

As mudanças climáticas “podem resultar em inundações, fome e outros tipos de desastres naturais “, explicou Avni Amin, diretor da unidade de direitos e igualdade da OMS.

Assim como guerras e conflitos, eventos climáticos extremos podem expulsar pessoas de suas casas ou criar insegurança econômica, o que pode aumentar as tensões em casa, além de perturbar a ordem pública. Segundo Amin, tudo isso aumenta os riscos para as mulheres.

A situação mais grave foi observada na Oceania – continente formado pelos países insulares do Pacífico, excluindo Austrália e Nova Zelândia – onde 38% das mulheres relataram violência por parceiro íntimo em 2024, mais de três vezes a média global de 11%. No sul da Ásia, esse número foi de 19%, enquanto na África variou entre 14% e 17%.

Na Europa e na América do Norte, por sua vez, 5% das mulheres relataram ter sofrido violência, enquanto na América Latina e no Caribe esse índice foi de 7%.