Temperaturas extremas avançam do sul ao norte do continente. A expectativa é que os termômetros atinjam 40 °C em cidades alemãs. Sindicatos e hospitais pedem melhoria da infraestrutura para lidar com calor.A onda de calor recorde e precoce que atinge o sul da Europa avançou para o norte do continente e chegou com força também na Alemanha nesta semana, onde picos extremos de temperatura são mais raros.

O Serviço Meteorológico Alemão (DWD) emitiu um alerta de calor extremo em diversas regiões do país, com temperaturas atingindo até 38 °C no sudoeste do país nesta terça-feira (01/07). A expectativa é que os termômetros registrem valores ainda maiores na quarta-feira, beirando dos 40 °C.

O DWD também elevou o nível de risco de incêndios florestais para perigo máximo, especialmente no leste e no sudeste alemão.

Um incêndio florestal de grandes proporções, por exemplo, atingiu o distrito de Elbe-Elster, onde 82 pessoas foram evacuadas e 300 socorristas combatem as chamas. Queimadas ainda foram registradas em Treuenbrietzen.

Na segunda-feira, o órgão já havia confirmado que as temperaturas de junho no país foram, em média, 3,1 °C mais quente do que o período de referência internacional de 1961 a 1990.

Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia (C3S), disse que apesar dos avanços das cidades para se adaptar às ondas de calor, este último episódio ainda expõe milhões de europeus ao perigo.

“Ainda vemos desafios na infraestrutura relacionados às ondas de calor, pressão sobre os sistemas nacionais de saúde, e ainda há mortes em excesso”, afirmou ela à agência de notícias AFP.

Escolas e hospitais exigem melhorias infraestruturais

Na Alemanha, a melhora da infraesutrutra é uma demanda das redes de hospitais, que pedem financiamento adicional para a modernização das clínicas contra o calor extremo.

“Devido à falta de fundos para investimentos, poucos hospitais possuem quartos, escritórios e salas de espera com ar-condicionado”, afirmou Gerald Gaß, presidente da Federação Alemã de Hospitais (DKG), em entrevista ao jornal Rheinische Post.

“A longo prazo, precisamos de um programa de proteção climática e adaptação para renovar os prédios antigos”, disse ele. Atualmente, os hospitais dependem de medidas como sombreamento das fachadas e uso de pacotes de gelo, completou Gaß.

Nas escolas, sindicatos alemães também solicitam a implementação de regulamentações nacionais de proteção contra o calor.

“Devem haver normas uniformes de saúde e segurança ocupacional para estudantes e funcionários das escolas”, disse Anja Bensinger-Stolze, membro da diretoria da União de Educação e Ciência (GEW), em entrevista aos jornais do Redaktionsnetzwerk Deutschland (RND).

Além da modernização das escolas com telhados verdes e toldos de sombra, Bensinger-Stolze ressaltou que é necessária uma “disponibilização nacional de água potável gratuita” para todas as crianças, jovens e funcionários.

Calor afeta o crescimento dos países

No Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão), o Partido Verde apresentou uma resolução por maior apoio para a adaptação de municípios, hospitais e casas de repouso às temperaturas altas.

A sigla quer que o governo federal fortaleça o plano nacional de proteção contra o calor, “com foco especial em responsabilidades claras e financiamento adequado”.

Além do risco à saúde, um estudo da Allianz Research identificou que a baixa preparação para o calor extremo pode causar perdas econômicas significativas.

Países como Espanha, Itália, Grécia e China podem ter seu PIB reduzido entre 1,0 e 1,4 ponto percentual em 2025, enquanto nos EUA e na Europa a redução média esperada é de 0,6 e 0,5 ponto, respectivamente. Na Alemanha, o impacto é menor, cerca de 0,1 ponto percentual, mas suficiente para anular o crescimento previsto de 0,1% para este ano.

O estudo compara os efeitos das ondas de calor aos das greves, indicando que um dia com temperaturas acima de 32°C equivale a meio dia de paralisação econômica.

Recordes de calor em toda a Europa

Cientistas afirmam que é incomum o calor atingir a Europa tão cedo na temporada de verão, mas entendem que as mudanças climáticas estão tornando esses eventos raros muito mais frequentes.

Neste ano, recordes já foram quebrados em diversos países do continente. França e Portugal, por exemplo, registraram suas maiores temperaturas da história para um único dia de junho, a Espanha teve seu junho mais quente em 100 anos, e a Holanda registrou o dia 1º de julho mais quente já medido.

Em toda a França, o governo espera que quase 1.350 escolas sejam fechadas parcial ou totalmente. Monumentos históricos como a Torre Eiffel também estão interrompendo a visita de turistas. A capital francesa decretou seu primeiro “alerta vermelho” em cinco anos.

Já na Alemanha, a Catedral de Colônia passou a ser usada por turistas como refúgio para calor. “A catedral tem sido muito visitada ultimamente. Isso certamente se deve ao fim do ano letivo e ao crescente número de turistas de verão em Colônia, mas provavelmente também porque atualmente está cerca de dez graus mais frio dentro do que fora “, disse o porta-voz Markus Frädrich à Agência Católica de Notícias na terça-feira.

Riscos à saúde

Os governos nacionais buscam evitar os riscos à saúde decorrentes do calor extremo. Em 2022, por exemplo, ondas de calor mataram centenas de pessoas na Europa, principalmente idosos.

A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) disse que suas equipes de voluntários foram mobilizadas por todo continente para distribuir água e ajudar a população.

“O calor extremo não precisa ser um desastre”, afirmou Tommaso Della Longa, porta-voz da IFRC.

Na Espanha, uma criança de dois anos morreu nesta terça-feira após ter sido deixada no banco traseiro de um carro estacionado ao sol, informaram as autoridades.

gq (AFP, ART, ots)