03/08/2021 - 10:57
A atitude da ginasta americana, que deixou de competir em Tóquio para cuidar da saúde mental, será lembrada como algo mais importante que qualquer pódio, opina Felix Tamsut.Após uma pausa para recuperar sua saúde mental, a estrela da ginástica americana Simone Biles conquistou uma medalha de bronze, na trave, nos Jogos de Tóquio.
“Eu realmente sinto o peso do mundo nos meus ombros”, escreveu a jovem atleta no Instagram, antes da final desta terça-feira (03/08), na qual terminou atrás de duas ginastas chinesas. “As Olimpíadas não são brincadeira!”
As conquistas esportivas, por si só, já colocam Biles entre as maiores atletas do mundo. Mas são as ações fora do esporte que farão uma verdadeira diferença para tantas pessoas, incluindo eu.
A batalha de muitos, como eu
Há alguns anos, comecei a sofrer vários ataques de pânico por dia. Alguns deles foram tão ruins que acabei sendo internado no hospital. Naquela época, eu nem sabia o que era uma crise de pânico. Eu pensava que tinha um problema físico de algum tipo que precisava ser resolvido. Achava que podia ser um resfriado ou um vírus.
Quando uma pessoa próxima sugeriu que eu deveria verificar se as crises tinham razões psicológicas, fiquei confuso. Eu não queria reconhecer que poderia estar sofrendo de um problema mental. Após ter sido diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), senti vergonha. O que diriam minha família e meus amigos? Será que eu perderia meu emprego?
Eu sentia que não havia mais ninguém como eu no planeta. Eu me sentia sozinho.
Mas a parte mais difícil ainda estava por vir. Lidar com sua saúde mental significa não apenas lutar com uma doença, mas também com as percepções e estigmas de outras pessoas.
Além disso, espera-se que muitos de nós tenham determinado desempenho independentemente de nossa situação, seja no local de trabalho ou em círculos sociais. Muitas vezes, você só precisa de uma pausa para cuidar de si mesmo, como qualquer pessoa que, sofrendo de um resfriado, ganharia um tempo para descansar.
Não é vergonha falar sobre isso
Uma das atletas mais famosas do mundo decidiu fazer exatamente isso e falou sobre como as tensões mentais podem atingir você com mais força do que qualquer doença física; como todos podem sofrer de problemas de saúde mental, independentemente de estarem fisicamente aptos, serem famosos ou ricos; que não é vergonha falar sobre isso e viver com isso.
Pessoas como eu podem facilmente se identificar com a decisão de Biles de só competir quando a saúde mental permite. A maneira como ela não teve medo de admitir publicamente a razão de fazer uma pausa do maior palco esportivo da Terra, com milhões e milhões de pessoas aguardando ansiosamente sua apresentação e esperando que ela entregasse resultados, significou que muitas pessoas como eu se sentiram vistas, pessoas cujas lutas muitas vezes foram menosprezadas, às vezes até ignoradas.
Devido a sua decisão, mais pessoas entenderão que a pressão mental “não é brincadeira”.
Só por isso, suas realizações nos Jogos de Tóquio devem ser consideradas muito mais importantes do que qualquer medalha de ouro.
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Felix Tamsut é jornalista da DW. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.