14/11/2025 - 14:23
Cada vez menos bebês, cada vez mais idosos: redução rápida da população do Sudeste Europeu gera temores apocalípticos na região. Quais seriam soluções realistas para conter o envelhecimento populacional?”Menos bebês do que nunca na história recente”, afirmou uma manchete recente do tabloide sérvio Blic. Há cada vez menos recém-nascidos, mas cada vez mais idosos, relatou o jornal. Ao mesmo tempo, a expectativa média de vida na Sérvia está caindo. Em 2024, era de apenas 76 anos – cerca de cinco anos a menos que a média da União Europeia (UE).
É possível concluir que a Sérvia tem problemas enormes em ambas as extremidades do ciclo demográfico individual, no início (nascimento) e no fim (morte). A situação também é problemática na parte do meio, enquanto os altos índices de emigração aceleram o declínio populacional e o envelhecimento.
Nesse caso, a imprensa sérvia está em sintonia com seus colegas nos países vizinhos. Quando se trata de tendências populacionais, os meios de comunicação em outras partes do Sudeste Europeu também adotam tons alarmistas. “Toda a Croácia ficará apoiada nos ombros de seus idosos”; “a crise demográfica da Bulgária pode se tornar uma catástrofe demográfica”; “o declínio populacional da Romênia soa o alarme”, são exemplos de manchetes nesses países. Quando novos resultados de censos demográficos são apresentados, a imprensa, especialistas e políticos aderem a previsões apocalípticas.
Discurso alarmista
De fato, as previsões apontam para um declínio significativo na população de todos os países do Sudeste Europeu nas próximas décadas. Mas, independentemente de essas previsões se confirmarem ou não, é discutível se esse discurso estridente agrava o problema em vez de contribuir para sua solução.
O que é certo é que em nenhum outro lugar da Europa – com exceção dos países bálticos e da Ucrânia, devastada pela guerra – a população diminui tão rapidamente quanto no sudeste do continente. Em 1990, aproximadamente 62 milhões de pessoas viviam na região (da Eslovênia, ao norte, à Grécia, ao sul), enquanto atualmente a população é de 53 milhões.
A Bulgária, por exemplo, tinha quase nove milhões de habitantes no final do regime comunista. Hoje, tem menos de sete milhões e, segundo a ONU, apenas cerca de cinco milhões de pessoas deverão permanecer no país até 2050. As razões são facilmente explicadas: morrem mais pessoas por ano do que nascem – algo que vem acontecendo há anos. Além disso, um número significativamente maior de pessoas deixa a região do que imigra para lá, embora essa tendência comece a mudar lentamente. Uma consequência disso é que a população, em média, está envelhecendo.
Maioria rejeita a imigração
Assim sendo, não é de admirar que existam ansiedades demográficas entre a população. De acordo com uma pesquisa de 2025 [realizada como parte de um projeto de pesquisa liderado pelo autor], três quartos dos entrevistados na Bulgária, Macedônia do Norte e Sérvia expressaram sérias preocupações com o envelhecimento da população, principalmente por considerarem inadequados os serviços sociais prestados pelo Estado.
Na Bulgária, dois terços dos entrevistados acreditavam que os idosos desfrutavam de uma vida melhor durante a era socialista do que hoje em dia. Contudo, embora as preocupações com o declínio populacional sejam generalizadas, a pesquisa também mostra que s ampla maioria rejeita a solução mais óbvia: a imigração.
Mas, o que fazem os políticos a respeito disso? Qualquer mudança fundamental na dinâmica populacional apresenta desafios para a sociedade, aos quais os formuladores das políticas devem reagir. De fato, os governos da região consideram o futuro demográfico um grande problema.
O primeiro-ministro croata, Andrej Plenković, por exemplo, descreve a situação como uma questão de sobrevivência para a Croácia. Em 2024, seu governo criou um Ministério da Demografia e Imigração para lidar com o problema. No entanto, o ministro, membro do partido nacionalista de direita Movimento da Pátria (DP), define imigração como o retorno ao país de emigrantes de etnia croata e seus descendentes.
Até os comunistas fracassaram
Em outros lugares, instituições estatais também se preocupam com o desenvolvimento populacional, como o Ministério do Bem-Estar, Familiar e Demografia da Sérvia, cujo método preferido consiste em incentivos financeiros – às vezes substanciais – para que as pessoas tenham mais filhos, acompanhados de uma retórica que retrata a maternidade como um dever patriótico.
Até agora, porém, esse pró-natalismo se mostrou amplamente ineficaz. A experiência histórica sugeria o contrário. Há meio século, os Estados comunistas já haviam fracassado com tentativas semelhantes.
Incentivos financeiros não conseguem reverter a mudança cultural nem resolver os problemas estruturais responsáveis pela significativa emigração de jovens. Estudos mostram que, além dos salários mais altos na Europa Ocidental, a corrupção desenfreada, o nepotismo generalizado e a falta de perspectivas são os principais fatores que impulsionam a emigração. Quem permanece nesses países são os idosos. Os governos poderiam se concentrar em possibilitar que as pessoas vivam vidas mais longas e saudáveis, mas isso é algo mais difícil de promover do que um bônus por natalidade.
Necessidade de mudança política e de atitude
Um olhar para além da região sugere uma solução para problema do declínio populacional. Embora todos os países do Sudeste Europeu devam contar com uma diminuição populacional ainda maior, alguns países da UE projetam crescimento, mesmo apesar de taxas de fertilidade igualmente baixas. A Áustria, por exemplo, deverá crescer 16% até 2050.
A razão para isso? A imigração. Mas, como mostra a mesma pesquisa, a aceitação social dessa prática é insuficiente no Sudeste Europeu – mais até do que na própria Áustria. Esse é o caso especialmente quando os novos cidadãos são pessoas com aparência diferente da população local.
A questão, porém, é por quanto tempo isso pode ser sustentado em um ambiente onde os políticos e a imprensa alardeiam um quadro de extinção nacional e onde as pessoas observam o despovoamento de regiões inteiras.
Sem uma mudança nas políticas e nas atitudes, o ciclo vicioso demográfico não poderá ser quebrado. Quanto mais a população diminui, maiores são as ansiedades em relação ao futuro. O que se faz necessário, portanto, é justamente reforçar a confiança das pessoas para que possam permanecer nesses locais e acolher os imigrantes.
A imigração, no entanto, não é a única maneira de lidar com os desafios demográficos. Os países do Sudeste Europeu são caracterizados por baixas taxas de emprego, o que significa que existe um grande potencial inexplorado de mão de obra local.
Os governos também deveriam se esforçar para melhorar a expectativa de vida, que está abaixo da média, para que as pessoas possam envelhecer mais tempo com boa saúde, e assim, trabalhar por mais tempo. Nada disso é tão complicado de se atingir, mas isso requer políticas voltadas de maneira concreta para a melhoria das condições de vida, em vez de retóricas ufanistas e interesses particulares.
O Prof. Dr. Ulf Brunnbauer é historiador do Sudeste Europeu e diretor científico do Instituto Leibniz de Estudos do Leste e Sudeste Europeu em Regensburg. Entre outras atividades, ele lidera um projeto de pesquisa financiado pela Fundação Volkswagen que examina as ansiedades demográficas no Sudeste Europeu e como superá-las.
