10/03/2023 - 7:32
Nunca se vira uma orca – conhecida por ser um temível predador, e apelidada de “baleia assassina” – cuidando de animais de outras espécies. Por isso mesmo, a descoberta de uma equipe de oceanógrafos do West Iceland Nature Research Center, da Orca Guardians Iceland (Islândia) e da Universidade de Dalhousie (Canadá) de uma orca fêmea adulta nadando e cuidando de uma jovem baleia-piloto de barbatanas longas surpreendeu o meio científico. O caso, ocorrido em agosto de 2021 na costa de Snæfellsnes (oeste da Islândia), está descrito em um artigo publicado na revista Canadian Journal of Zoology.
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As orcas são facilmente identificadas por suas marcas brancas brilhantes em meio à pele negra escura. Elas são consideradas os maiores golfinhos oceânicos, seguidas exatamente pelas baleias-piloto, um pouco menores que as orcas, mas bem maiores do que os animais que normalmente chamamos de golfinhos (chegam até a 8,5 metros de comprimento). Ambos são carnívoros.
Segundo os oceanógrafos, sua observação é inédita não apenas porque o filhote estava viajando com um grupo de orcas, mas também porque ele estava sendo cuidado por uma das fêmeas adultas, denominada Sædís pela equipe. Um comportamento específico evidenciava isso: a orca encorajava o filhote a nadar na posição escalonada, que fica logo atrás da nadadeira peitoral do adulto. Nessa posição, o filhote pode aproveitar a onda de pressão gerada pelo adulto para se mover no mesmo ritmo, gastando muito menos energia. Os cuidados também tendem a incluir proteção e alimentação.
Nível de empatia
“Percebi imediatamente que havia algo estranho nisso”, disse Thérèse Mrusczok, presidente da Orca Guardians Iceland e pesquisadora do West Iceland Nature Research Centre, que trabalhava como observadora no barco de observação de baleias Láki Tours e testemunhou o encontro. “É outro nível de empatia que vemos nesses animais se eles são capazes de cuidar de outra espécie.”
Embora Sædís pode ter fornecido proteção, não era capaz de alimentar a pequena baleia-piloto porque não estava produzindo leite. Segundo os pesquisadores, ela nunca teve sua própria prole ao longo dos nove anos em que foi seguida por eles.
A equipe de oceanógrafos propõe duas hipóteses principais para explicar o fenômeno nunca visto antes. Ou o filhote separou-se de seu próprio grupo por algum motivo desconhecido e foi encontrado por Sædís, ou foi roubado da mãe original.
Interação
A observação da fêmea e do filhote durou pouco mais de 20 minutos, e não se sabe o que ocorreu com a pequena baleia-piloto depois, embora os pesquisadores acreditem que ela provavelmente morreu de fome. A equipe avistou Sædís cerca de um ano depois, interagindo com um grupo de baleias-piloto. Não havia evidências do filhote, mas os pesquisadores sugerem que a orca estava se comportando de uma maneira que sugeria que ela poderia estar tentando roubar um substituto.
“Tudo é possível – observar orcas me ensinou que nunca sei o que está acontecendo”, disse Mrusczok. “Sempre há mistério, sempre há mais para descobrir.”