02/10/2019 - 15:15
A existência do orgasmo feminino intriga os cientistas por dois motivos. Por um lado, o orgasmo não é necessário para o sucesso reprodutivo da fêmea. Afinal, elas podem engravidar e se reproduzir mesmo se não atingirem o clímax.
Porém, cientistas acreditam que esse reflexo do sistema neuro-endócrino é complexo demais para ser apenas um acidente evolutivo.
Muitas hipóteses já foram criadas para explicar o orgasmo. Um novo estudo, realizado por uma equipe formada por pesquisadores da Universidade de Yale, Universidade de Cincinatti e do Hospital Infantil de Cincinatti, testou uma dessas ideias: a de que o orgasmo usa o mesmo mecanismo que se originou para induzir a ovulação durante a cópula. Esse mecanismo ainda existe em alguns animais, e teria perdido seu papel em outras espécies.
Essa hipótese é chamada de “modelo de ovulação homóloga”. A ovulação induzida pela cópula ocorre em espécies de mamíferos como coelhos, gatos e camelos, mas não em humanos ou grandes primatas.
Para testar a ideia, os pesquisadores trataram coelhos fêmeas com fluoxetina, um inibidor seletivo da recaptação da serotonina que inibe o orgasmo, durante duas semanas antes da cópula.
Um dia depois da cópula, os autores mediram a ovulação das coelhas e concluíram que seu nível estava 30% mais baixo nos animais tratados com a fluoxetina. Ou seja, a administração de uma droga que inibe o orgasmo também resultou em uma ovulação menos eficiente.
Em um segundo experimento, publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, os autores induziram a ovulação ao injetar o hormônio gonadotrofina coriônica humana (HCG), essencial na fecundação dos óvulos, em seguida ao tratamento com a fluoxetina. Nesse caso a fluoxetina não afetou a ovulação induzida pelo HCG.
Segundo os autores, a ovulação induzida pela cópula nas coelhas seria um processo semelhante ao orgasmo feminino nas humanas, e sugerem que ambos dividem uma origem evolucionária comum.
“Nós oferecemos uma evidência experimental, fortalecendo a probabilidade de que o orgasmo feminino evoluiu a partir da ovulação induzida pela copulação”, disseram os autores no estudo.
Além disso, os autores afirmam também que existe uma conexão entre as conclusões do estudo e a baixa taxa de orgasmo entre as mulheres durante o sexo. Segundo Gunter Wagner, conforme a ovulação induzida pela copulação foi substituída pela ovulação espontânea, como acontece com as fêmeas humanas, a anatomia da genitália externa feminina também mudou.
Ancestralmente nos humanos e em muitos animais atualmente, o clitóris localizava-se dentro do seio urogenital, parte do corpo presente em humanos apenas durante a fase de desenvolvimento dos órgãos urinários e reprodutivos e que dá origem à uretra, à maior parte da bexiga e que cresce em direção ao tubérculo genital, primórdio do pênis ou clitóris.
“Em primatas, incluindo humanos, o sino urogenital se ‘achatou’ e moveu o clitóris para longe da vagina”, disse Wagner à PLANETA.
Segundo o pesquisador, pesquisas anteriores mostram que, quanto mais próximo o clitóris da vagina, maior a chance de a mulher experimentar orgasmo durante a relação.
Fontes: PNAS e Faculdade de Medicina de Marília