Nada mais fácil do que perceber as lamentações dos outros: cada vez que encontramos alguém assim e lhe damos ouvidos, eles nos aporrinham com os relatórios detalhados dos seus azares e infortúnios, arrastando-nos para o interior de uma atmosfera negativa. Os lamentosos nos pedem conselhos, mas não prestam atenção em nenhum deles. Trata-se quase sempre, para nós, de gastar saliva à toa, numa operação perda de tempo que, se podemos, procuramos evitar. Bem mais difícil, no entanto, é perceber quando nós mesmos manifestamos um comportamento lamentoso: quem se lamenta, com efeito, fala sempre apenas de si mesmo, mas não vê a si mesmo, pois se perde no emaranhado das suas histórias.

O lamentoso quase sempre não se dá conta do que faz e do quanto incomoda os outros. Por isso, atenção: se alguém levanta a lebre, dizendo que você se queixa demais e isso o incomoda, significa provavelmente que você também é um lamentoso. Melhor seria se refletisse a respeito, pois o lamento é uma das coisas que mais bloqueiam o nosso crescimento.

O lamento, fenômeno superdifundido a ponto de tornar-se um verdadeiro estilo de comunicação, é a expressão de várias problemáticas internas do indivíduo. Através do lamento, a pessoa se libera de um pouco da tensão interna que a aflige, da ansiedade da qual não conhece bem a causa ou que não consegue canalizar de um outro jeito. Assim fazendo, ela consegue permanecer num mínimo de equilíbrio psicológico, embora precário.

O lamentoso, em resumo, é um dependente: pega a trouxa dos seus conflitos e a entrega inteiramente nas mãos do outro. A solicitação inconsciente é: “Fique com isto: engula e digira isto para mim, carregue ao menos um pouco do meu fardo.”

O egocentrismo sempre está por trás das ações do lamentoso. Colocar no centro da discussão os próprios problemas é um modo de colocar a si próprio no centro das atenções e obter consideração. Em pessoas assim, a capacidade de se identificar e se interessar pelos problemas dos out ros é mínima.

Como todo egocêntrico, o lamentoso tem baixa autoestima. Age como uma criança que continuamente pede à mãe confirmação afetiva; ele busca uma dose de consolação (afeto e aceitação) para sentir que seu mal-estar é legitimado, pois ele não consegue legitimá-lo sozinho.

O estranho emaranhado psicológico do lamentoso frequentemente também está ligado ao sentimento de culpa (“se digo que estou bem, ofendo quem está pior”), à superstição (“se digo que vai tudo bem, logo me cairá um tijolo na cabeça”), ao álibi (“falo, falo, falo, mas não me comprometo”). O resultado final de tudo isso é sempre um dano ao cérebro: o lamento, na verdade, recria uma ordem química cerebral passiva e reverberante; o lamentoso é incapaz de sair de si mesmo e de se transformar, colocando-se em sintonia positiva com a vida.

 

CONSELHOS

O médico e psicoterapeuta italiano Pietro Fornari sugere algumas posturas que ajudam na libertação do vício do lamento:

• Procure ver como você é quando se lamenta – Pergunte a alguém de confiança se você é um lamentoso. Procure saber do que você mais se lamenta e, se se tratar de um amigo bonachão, peça-lhe que o imite quando se lamenta. Ao mesmo tempo, procure perceber se algum motivo ou razão particular ativa a sua torrente de lamentos.

• Permaneça uma semana inteira sem exprimir nenhuma emoção negativa – É muito útil para se dar conta de quanto você se lamenta e de como é difícil se controlar e deixar de fazê-lo. Deixe que o sofrimento e o desconforto se concentrem dentro de você, em vez de lançá-los sobre o primeiro que cruzar seu caminho. Uma semana depois, o lamento concentrado pode tornar-se um desconforto real, que você irá desafogar através de um verdadeiro, honesto e sadio pranto liberatório (e não o choramingo inútil de sempre). É possível então que algum processo seja automaticamente desencadeado em sua mente, trazendo-lhe uma percepção diversa de você mesmo, mais determinada e menos passiva.

O lamento é, com frequência, um álibi para não enfrentarmos a realidade de modo direto. Quem procura passar de si mesmo uma imagem vencedora deve enfrentar os inimigos, mas quem se mostra fraco e machucado pode pedir piedade. Diga sempre que está bem (mesmo que isso não lhe pareça verdadeiro) e observe o que acontece.

 

Principais objetos das lamentações

• Doenças e sintomas físicos, às vezes reais, mas quase sempre imaginários

• O parceiro

• O dinheiro

• Os filhos

• O genro, a nora

• Os pais e os irmãos

• O trabalho (os colegas e o chefe)

• A casa e os vizinhos

O que você consegue com os lamentos

• Passa a ser considerado um chato e pé-no-saco

• Aonde vai, cria uma atmosfera negativa

• Não se afirma na vida nem na profissão

• Perde as amizades e afasta as pessoas queridas

• Só encontra, nos outros, uma piedade totalmente falsa

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