03/01/2019 - 11:02
Uma visão de mundo, um sistema de descrição de como o mundo funciona, é um mapa da realidade. Como em qualquer outro mapa, certas definições do que “existe” e do que é “real” são aceitas, outras não. O mapa diz: “O que mostro é real para seu propósito, o que não mostro não é real para seu propósito”. Ele define a realidade, e a definição é válida, uma vez que ajuda a realizar nossos propósitos com mais facilidade.
Vamos imaginar que temos dois mapas da área em torno da cidade de Nova York. Um deles é o que deve ser usado pelo piloto de um avião particular, quando o dia está claro. O piloto olha para baixo, vê rios, pontes, prédios, etc., e a partir desses pontos sabe onde está e como chegar ao aeroporto. O outro mapa é o utilizado pelo piloto de uma linha aérea comercial. Apenas aponta os sinais de rádio. Esses dois mapas do que “está fora” no mesmo espaço geográfico, ambos acurados, válidos e úteis, não têm um único traço em comum. Cada um seria “um” mapa válido, e não “o” mapa válido.
A maior diferença entre um mapa físico e a visão de mundo está nesse último ponto. Quando olhamos para um mapa, sabemos que ele é válido apenas para o propósito a que se destina. Ele não tem o pressuposto de representar a “única” forma correta de se olhar o território. Uma imagem do mundo tem, quase invariavelmente, esse falso pressuposto e tende a criar para nós, humanos, a maioria das situações problemáticas com as quais nos deparamos. Esquecemos que, como acontece com o mapa físico, ele pode apenas nos ajudar a alcançar certas metas. As outras, ele define como irreais e não existentes, conduzindo portanto as partes de nosso ser que seriam alimentadas por aquelas metas a definhar.
Certeza frágil
Estamos tão convictos de que o nosso sistema de organização da realidade é o único válido e “real” que fica difícil compreendermos a ideia de que os símbolos usados por nosso sistema não são uma parte inextricável daquilo que representam. Em outras palavras, achamos que os símbolos que nossa cultura nos ensinou a usar são os naturalmente corretos e todos os outros são errados. Se pronunciarmos a palavra “igle” diante de um americano e um alemão, o primeiro a associará a um pássaro e a nada mais; o segundo, a um porco-espinho, como se somente um porco-espinho pudesse ser chamado assim.
Uma coisa deve ficar clara sobre nossa realidade, o mundo que percebemos e ao qual reagimos: ele é passível de transformações. Por exemplo, até alguns anos atrás, o problema da ecologia – ou seja, a questão de não transformar nosso planeta em um imenso depósito de lixo inabitável – era impossível de ser solucionado porque dois pensamentos relacionados à ecologia não faziam parte da realidade da maioria das pessoas.
Para elas, as noções de que todas as coisas se inter-relacionam e de que tudo tem de ir para algum lugar estavam tão distantes da maneira como percebiam o mundo quanto a ideia do combustível estava para o italiano Leonardo da Vinci quando ele projetou seu helicóptero. Só quando essas ideias passaram a fazer parte da realidade da vida das pessoas a ecologia tornou-se uma atividade significativa.
Nossas realidades mudam à medida que novas ideias passam a fazer parte delas. Algumas ideias novas, como a de que os seres humanos têm inconsciente, de que a Terra é redonda, de que as bactérias existem, de que as emoções podem afetar o corpo, já integram nossa realidade. Uma vez que conseguimos aceitar novas ideias e que elas podem transformar o mundo em que vivemos, cada um de nós deve se perguntar de que novas ideias precisamos para resolver os problemas importantes.
Podemos manter os olhos voltados para essas novidades e então checá-las e testá-las. Podemos sugerir, para começar, a noção de que nossas ideias (portanto, o mundo em que vivemos) podem mudar, somar-se a outras e tornar-se mais ricas. Só com esse conceito já introduzimos uma mudança significativa em nossa realidade: permitimos que ela se abra para novas transformações, se forem as que buscamos.