As marcas físicas

62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, aproximadamente, se espalharam ao longo de 650 quilômetros na bacia do rio Doce, a partir do rompimento da barragem de Fundão, situada em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015. A barragem pertencia à mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton

6 meses (de outubro a março) dura o período de chuvas na região. Com ele vem o perigo de que a lama despejada no rompimento volte a poluir os rios, cause danos à fauna e à flora atingidas, force o corte no abastecimento de água e prejudique ainda mais as populações ribeirinhas

 

O drama humano

19 pessoas foram mortas e 1.265 ficaram desabrigadas em consequência da tragédia

2 distritos de Mariana (Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo) e 1 da vizinha Barra Longa (Gesteira) foram os mais fortemente impactados pelo rompimento da barragem. Todos serão reassentados em novas comunidades até 2019

236 famílias viviam no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro de Mariana. O local, o mais atingido pelo desastre, foi totalmente inundado pela lama

38 municípios foram atingidos no total: 35 em Minas Gerais e 3 no Espírito Santo

6 milhões de pessoas foram afetadas pelo desastre

 

Danos à flora e à fauna

98 espécies de peixes do rio Doce morreram em consequência do desastre, por asfixia causada pela elevada turbidez (redução da transparência devido à presença de materiais em suspensão) da água. Dessas espécies, 13 só viviam no rio e 11 já corriam risco de extinção. Mais de 200 espécies de peixes vivem no rio Doce

29 mil carcaças de peixes, aproximadamente, foram recolhidas depois que a lama passou; somadas a outros seres aquáticos mortos, resultaram em 11 toneladas

1 espécie de ave, a andorinha-do-mar, foi duramente atingida pela lama que escureceu o mar em Regência (ES), na foz do rio Doce. Ela não conseguiu encontrar peixes na água e, assim, ficou sem alimento

1.176 hectares foram destruídos ao longo do rio Doce, dos quais 46% serviam para a criação de animais e 43% tinham vegetação nativa da região

86% dos pontos vistoriados pelo Ibama em outubro de 2016 na região afetada pelo desastre exibiam plantas nativas; 50% desses pontos apresentaram sinais de vida selvagem animal, como pegadas

 

Poluição na água

14 de 17 pontos do rio Doce visitados em outubro de 2016 por uma equipe da Fundação SOS Mata Atlântica apresentaram água que ainda não pode ser usada, segundo os pesquisadores

50 vezes acima do que a legislação permite (até 100 partículas por litro), aproximadamente, foi o nível de turbidez apresentado em Barra Longa (MG), o maior registrado pela fundação; em Rio Doce (MG), chegou a 38 vezes acima do permitido

8 mil vezes, aproximadamente, foi o nível de turbidez apresentado nesse trecho, o mais devastado pela lama, alguns dias após o vazamento

2 vezes maior que o limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), aproximadamente, foi o nível de ferro e manganês presente na água em um ponto em Colatina (ES); o estudo, de André Pinheiro de Almeida, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (RJ), mostra que há outros pontos com níveis de metais acima dos limites do Conama

 

Desdobramentos jurídicos

R$ 4,4 bilhões é o desembolso acertado entre Samarco, Advocacia-Geral da União, de Minas Gerais e do Espírito Santo em fevereiro deste ano para compensar danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão; os recursos serão pagos até 2018

10 mil hectares deverão ser reflorestados pela Samarco, de acordo com o Plano de Recuperação Integrado, entregue em agosto de 2016

30 mil hectares de vegetação deverão ser restaurados

13 autos de infração foram emitidos pelo Ibama para a mineradora até novembro de 2016; o valor das multas, somado, ultrapassa R$ 300 milhões. A Samarco está recorrendo de todas elas

157 mil metros cúbicos de rejeitos a Samarco alega ter retirado do município de Barra Longa; outros 500 mil m3 de rejeitos teriam sido retirados da hidrelétrica de Candonga, em Santa Cruz do Escalvado (MG), também atingida pelo vazamento

R$ 1 bilhão, aproximadamente, a empresa teria investido até novembro de 2016 no pagamento de ações de remediação, compensação e de indenização

5 mil nascentes do rio Doce deverão ser recuperadas

69 notificações à Samarco foram emitidas pelo Ibama desde o incidente até novembro de 2016; segundo o órgão, a mineradora cumpriu apenas 5% das recomendações feitas

3% do rejeito vazado da barragem de Fundão fora retirado até junho, segundo o Ibama; em outubro, não se constataram novas retiradas e em 12% dos pontos analisados o rejeito foi incorporado ao solo

4 empresas e 22 executivos responsáveis pela barragem foram denunciados pelo Ministério Público Federal um ano após a tragédia. Entre os crimes listados na denúncia estão homicídio qualificado com dolo eventual (quando se assume o risco de matar), crimes de inundação, lesão corporal, desabamento e crimes ambientais