Uma pesquisa de pós-graduação de Arqueologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) investiga o sepultamento da criança indígena Nimu Borum, que ocorreu entre 600 e 1300 anos atrás. O corpo que é alvo de análise foi encontrado em 2004 no sítio arqueológico Lapa do Caboclo, na cidade de Diamantina (MG) – município localizado a cerca de 295 quilômetros de Belo Horizonte (MG).

De acordo com a universidade, a criança foi sepultada com os ossos pintados de vermelho e embrulhados em uma casca de árvore. Nimu Borum está no Museu de História Natural e Jardim Botânico da instituição de ensino e sobreviveu a um incêndio que atingiu o acervo em 2020. O estudo que analisa a ossada é de autoria da pesquisadora indígena Bibi Nhatarâmiak Borun-Kren.

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Após análises de tomografia e de fotogrametria – mais de 600 fotos “feitas em altíssima resolução de diversos ângulos” – foi possível constatar que Nimu Borum tinha cerca de dez anos ao observar a mandíbula e a estrutura dentária da criança. O corpo foi enterrado em um estojo cilíndrico com 70 centímetros de comprimento e 30 de largura, composto por uma casca de árvore. Em uma das extremidades da estrutura funerária há couro e em outra, palha.

Escavação onde foi encontrado o estojo de casca de árvore com os ossos da criança (Crédito: Divulgação/Andrei Isnardis/UFMG)

De acordo com a UFMG, não se sabe se a terra que toma parte do objeto já estava presente no sepultamento ou se ocupou tal espaço com o tempo, revirando parte dos ossos. Conforme a instituição de ensino, por ser um exemplar único, Nimu Borum revela detalhes que ainda não eram conhecidos pela arqueologia brasileira.

“Aquilo que, na ciência, a gente chama de análise, eu gosto de chamar de conversa, porque os ossos falam bastantes coisas”, afirmou Bibi Nhatarâmiak sobre as pesquisas acerca de Nimu Borum. Segundo a bioarqueóloga, a tomografia foi colocada em prática para que fosse possível entender a disposição dos ossos dentro da estrutura em que a criança foi sepultada.

De acordo com a pesquisadora, o fato dela ser uma mulher indígena atribui uma premissa de “trabalho descolonial” às análises de Nimu Borum. “Eu não consigo separar da minha pesquisa e do meu ser que os esqueletos são pessoas, crianças”, ponderou Bibi, acrescentando que, durante pesquisas arqueológicas, os corpos de pessoas pretas e indígenas tendem a se tornar “materialidade”.

As análises de tomografia de Nimu Borum possibilitam que sejam observadas possíveis fraturas, doenças e marcas de crescimento nos ossos da criança.