01/08/2012 - 12:33
A tendência é que esse número cresça, inclusive no Brasil, país com um número cada vez maior de idosos.
Em primeiro lugar, uma boa notícia: a expectativa de vida dos brasileiros aumentou. Segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos 50 anos, a longevidade saltou de 48 anos para 73,4 anos. É muito provável que, em 2050, esse número chegue a 80. A idade avançada, porém, implica cuidado extra com a saúde. A prevenção da osteoporose, doença típica da terceira idade, é uma medida natural nesse sentido. Dados do Ministério da Saúde mostram que 10 milhões de pessoas já têm essa doença e que um milhão sofre fraturas osteoporóticas anualmente.
O relatório Latin America Audit, da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF, na sigla em inglês), levantou que, em 2010, ocorreram 121.700 fraturas de quadril decorrentes de osteoporose. Estima-se que em dez anos essa quantidade aumente para 140 mil e em 2050, para 160 mil. Vale lembrar que, em 97% dos casos, a fratura de quadril é cirurgicamente tratada. Há também a probabilidade de ela deixar sequelas, e alguns pacientes podem ter sua mobilidade e até mesmo sua independência física comprometida. O custo do tratamento para esse caso também varia de aproximadamente R$ 8 mil a R$ 24 mil (o último valor se refere a hospitais particulares).
A osteoporose é caracterizada pela perda de densidade óssea, causando fragilidade e, consequentemente, aumentando o risco de fraturas. Ela atinge principalmente mulheres com 50 anos ou mais, que já passaram pela menopausa. Dados atuais revelam que 30% dessas mulheres estão com osteoporose. Engana-se quem pensa que essa doença é restrita ao sexo feminino. Homens também estão sujeitos a ela, porque a descalcificação óssea é decorrente do envelhecimento. No entanto, as mulheres, durante a menopausa, perdem aproximadamente duas vezes mais densidade óssea do que os homens, fazendo com que desenvolvam osteoporose antes deles.
A osteoporose é uma epidemia silenciosa. Atinge cada vez mais pessoas e, por ser praticamente assintomática, é com frequência descoberta depois que o paciente já se machucou. “As fraturas mais comuns são as vertebrais, que são microscópicas e ocorrem sem que a pessoa perceba o que aconteceu. Há as fraturas vertebrais dolorosas, mas são minoria”, explica Bruno Muzzi Camargos, presidente da Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica (SBDENS). “Se as fraturas são silenciosas, imagine a perda óssea que as antecede.”
Tratar desde a infância
No Brasil, com o objetivo de diminuir as fraturas de fêmur e a osteoporose, o governo faz campanhas de prevenção. Na de 2011, o tema “Prevenção da osteoporose: da criança à pessoa idosa” visava estimular o consumo de cálcio e atividade física desde a infância. No entanto, segundo o levantamento do IOF, das 1.850 máquinas de densitometria óssea – aparelho necessário para se fazer o diagnóstico precoce da osteoporose – existentes no país, apenas 3% delas estão no serviço público. Para se fazer um exame de densitometria por aqui, é preciso esperar um dia em planos de saúde privados e aproximadamente seis meses por meio do sistema público. “O diagnóstico precoce da osteoporose parece não ser uma prioridade para o governo”, critica Camargos. “A população leva a doença a sério, porque muitos já tiveram ou têm parentes que, em idade avançada, apresentaram piora na qualidade de vida ou deterioração do nível de independência de terceiros para realizar tarefas do dia a dia após uma fratura osteoporótica.”
Outro dado levantado pelo relatório é a insuficiência de vitamina D na população brasileira. Essa vitamina favorece a absorção de cálcio no organismo e pode ser obtida por meio dos raios ultravioleta B presentes na luz solar e da alimentação.
Um estudo feito em 2009 apontou que no Brasil não há muitos alimentos fortificados em cálcio e vitamina D. Cerca de 60% dos adolescentes que participaram da pesquisa apresentavam insuficiência dessa vitamina. Outro estudo presente no documento do IOF mostrou que 42% das 151 mulheres que já passaram da menopausa tinham baixo nível de vitamina D no corpo. Um levantamento feito em 2006 concluiu que a deficiência dessa vitamina no Brasil é superior à apresentada em países escandinavos e no Canadá, locais em que há menos exposição ao sol. Essa pesquisa mostrou que a abundância de luz solar não previne a deficiência de vitamina D em mulheres pós-menopausa.
“Uma das dificuldades é tratar a osteoporose antes de o paciente atingir um grau acentuado de fragilidade. Além disso, a adesão ao tratamento, que dura de três a cinco anos, é fundamental”, analisa Camargos. Depois de certa idade, o número de medicações a serem tomadas aumenta. Às vezes, o paciente acaba esquecendo ou mesmo interrompendo o tratamento.
Medicamento via chip
Um experimento realizado na Dinamarca com sete mulheres na pós-menopausa, de 65 a 70 anos e com osteoporose, monitorou a ação de um chip implantado nas pacientes e pré-programado para liberar doses de medicamento. Durante o ano de observação, foi constatado que o método funciona corretamente e não prejudica a qualidade de vida das pacientes. No chip, foram colocadas doses de um medicamento com paratormônio, utilizado para tratamento de osteoporose. Pessoas que se encontram em um estágio mais avançado de osteoporose podem ter de tomar injeções diárias dele para o tratamento.
“Infelizmente, 75% dos pacientes que começam a tomar as injeções param antes que o tratamento esteja completo”, enfatiza Robert Farra, chefe da MicroChips (empresa que faz o chip) e coautor da pesquisa. A causa da desistência varia do inconveniente da injeção ao esquecimento. Além disso, a osteoporose é silenciosa. Quem a tem não consegue perceber a diminuição da densidade óssea. Desse modo, os pacientes acabam parando de tomar a medicação, muitas vezes por pensar que já melhoraram.
O chip tem o tamanho de um marcapasso e é implantado logo abaixo da linha da cintura. O procedimento para implante é simples e pode ser feito no consultório médico, com uma anestesia local. As tecnologias que compõem o chip estão voltadas a duas capacidades: a de selar hermeticamente a droga, de modo que fique totalmente isolada do corpo até o momento de ser liberada, e a de o sistema poder ser comandado a distância. A vantagem desse controle remoto é que “se o médico mudar a dose da medicação, o paciente continuará a recebê-la automaticamente, sem ter de fazer nada”, exemplifica Farra. Com o chip, é praticamente certo que a pessoa receberá o remédio na dose e hora certas, sem correr o risco de esquecimento. Assim, é mais garantido que cumpra a terapia e melhore da osteoporose.
O chip é compatível com ultrassom e raio X. No entanto, ele pode ser flagrado por detectores de metal, assim como outros dispositivos implantáveis. Os cientistas estão trabalhando em uma versão que também seja compatível com aparelhos de ressonância magnética. A redução do tamanho do dispositivo já está nas metas de evolução do próximo chip. No momento, os pesquisadores têm projetado um capaz de comportar 400 doses de medicamento – o utilizado no experimento comporta 20 – que dure 400 dias. “Também estamos trabalhando em opções com 400 reservatórios que durem 400 semanas. Depois que as doses acabarem, o dispositivo deve ser removido”, conta Farra. “Hoje, no mercado, não há um produto implantado que libere uma dose precisa de medicamento automaticamente, sem que o paciente tenha de fazer algo. Além disso, o chip permite a medicação remota.”
Existem diversos tratamentos para a osteoporose, mas o importante é identificá-la antes de uma fratura ocorrer. É importante estar atento à idade, à menopausa (no caso das mulheres), à hereditariedade e a algumas doenças e medicamentos que podem causar a perda da densidade óssea. Hábitos de vida saudáveis desde a infância são fundamentais para prevenir ou diminuir a ação da doença. Dieta rica em cálcio, exercício físico e sol nos horários indicados são peças-chave.