12/08/2019 - 14:22
Em 2010, cientistas de duas empresas de sequeciamento e análise de genoma, Cofactor Genomics e Knome, retiraram amostras de sangue do lendário músico Ozzy Osbourne para tentar desvendar se havia alguma razão genética para a longevidade do músico.
Na época, Ozzy escreveu, em sua coluna no jornal inglês “Sunday Times”, que estava curioso para saber se existia alguma razão científica para ele ter sobrevivido a décadas de abuso de álcool, cocaína, morfina, remédios para dormir, LSD e tantas outras substâncias legais e ilegais ingeridas em doses cavalares.
De fato, os pesquisadores descobriram uma mutação inédita em um gene relacionado ao metabolismo do álcool no DNA do músico. Eles também encontraram variações em genes ligados a absorção de drogas e ao mecanismo do vício no organismo. Por conta dessas alterações, os laboratórios estimaram que Ozzy tem seis vezes mais risco de ser alcoólatra e 1,3 mais chance de se viciar em cocaína do que a média da população.
Essa história é contata no livro recém-lançado “Pleased to Meet Me: Genes, Germs, and the Curious Forces That Make Us Who We Are” (“Prazer em Me Conhecer: Germes, Genes e as Forças Curiosas que Fazem Quem Nós Somos”), de Bill Sullivan (Editora National Geographic), professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Indiana (EUA).
A obra se dedica a analisar a diversidade de fatores que formam um indivíduo em aspectos que vão desde as preferências por um tipo de alimento como as inclinações políticas, o tipo de pessoa pelas quais nos atraímos e nossas crenças. Todos esses fatores que formam a personalidade de alguém pode ser explicado pelo DNA, pelo ambiente e pelos micróbios.
Segundo Sullivan escreveu em um artigo, ele sempre pensou que sua preferências haviam sido formadas por meio de cuidadosas deliberações e por processos de tomadas de decisões mais racionais, de forma controlada. Mas, ao longo de suas pesquisas, ele percebeu que muitas vezes não estamos no controle.
Por exemplo, como quando pesquisou o parasita que causa a toxoplasmose e percebeu que ele pode causar alterações de personalidade nos humanos hospedeiros, como torná-los mais ansiosos. Ou quando soube que uma variação em um gene torna o sabor de verduras como o brócolis repulsivo para algumas pessoas – talvez uma solução evolutiva para que humanos evitassem algumas plantas prejudiciais à saúde.
Ou até quando uma pesquisa mostrou que alterações no gene receptor da dopamina influencia em características que são mais associadas a inclinações políticas mais liberais ou mais conservadoras.
“A verdade é que nossas ações são governadas por forças biológicas ocultas – o que significa dizer que tempo pouco ou nenhum controle sobre nossos gostos pessoais”, afirma Sullivan.
Para o pesquisador, no entanto, o resultado final de como nós somos é uma soma da genética com o ambiente. “Dentro do seu genoma existem muitas versões potenciais. A pessoa que você vê no espelho é apenas uma delas, selecionada pelos acontecimentos aos quais você tem sido exposto desde o nascimento. (…) Os genes são as teclas do piano, e o ambiente é quem toca a música”, diz Sullivan.
Para o pesquisador, saber que nossas ações e traços de personalidade estão marcados em nosso DNA pode ser desanimador, por tirar poder de ser quem desejamos ser. Mas Sullivan acredita que conhecimento é poder. “Saber as bases moleculares dos nossos comportamentos ruins pode nos colocar em uma posição melhor para remediá-los ou evitá-los”, diz. Assim, quem sabe teremos mais poder de escolha em relação ao que fazemos e como pensamos.