Nações acusam “valores exorbitantes” de acomodações. Governos cogitam reduzir delegações ou não comparecer. “Há uma sensação, literalmente, de revolta”, diz o presidente do evento, André Corrêa do Lago.O Brasil está sendo pressionado a realizar a conferência climática da ONU COP30fora de Belém. Parte dos 198 países esperados para participar da conferência sobre o clima em novembro expressa insatisfação com o que classificam como “preços exorbitantes” cobrados pelas acomodações na capital paraense.

Diversas delegações poderão ser reduzidas ou forçadas a não comparecer diante das diárias cobradas por hotéis, afirmam governos, a pouco mais de cem dias do megaevento, marcado para 10 a 21 de novembro.

“Há uma sensação, literalmente, de revolta dos países por essa insensibilidade, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento”, disse o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, nesta quinta-feira (31/07). “Ficou público que os países estão pedindo para o Brasil tirar a COP de Belém.”

Dois dias antes, uma reunião de emergência no “COP Bureau” do órgão climático das Nações Unidas convocada pelo Grupo de Negociadores Africanos havia endereçado o impasse, reportou a agência Reuters.

Já o jornal Folha de São Paulo teve acesso a uma carta assinada por 25 países negociadores, incluindo o Grupo de Negociadores Africanos e os Países Menos Desenvolvidos (LDC, em inglês). Entre os signatários, do texto estão também nações desenvolvidas, como Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Finlândia, Holanda, Noruega, Suécia e Suíça.

O texto pede condições mínimas de acomodação e custo, “seja em Belém ou em outro lugar”.

“Uma COP melhor”

Nesta semana, o governo brasileiro prometeu endereçar as preocupações dos países e oferecer uma resposta até 11 de agosto, de acordo com o chefe do Grupo de Negociadores Africanos, Richard Muyungi.

“O Brasil tem muitas opções para ter uma COP melhor, uma boa COP. É por isso que estamos pressionando para que o Brasil dê respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, disse ele.

A ameaça de um pedido formal pela retirada do megaevento de Belém já havia sido ventilada durante a reunião preparatória para a COP30, que aconteceu em Bonn, na Alemanha, em junho deste ano, conforme reportou o veículo Sumaúma.

Segundo Correia do Lago, o governo brasileiro está tentando convencer os hotéis a baixar os preços, mas a legislação não permite a imposição de limites. ” Os esforços continuam, mas eu acredito, talvez, que os hotéis não estejam se dando conta da crise que estão provocando,” disse o presidente da COP30.

Delegações reduzidas

À imprensa, o Brasil vem negando que considere a alteração da sede da conferência, que espera 50 mil visitantes para os dez dias de megaevento.

Autoridades de seis governos, incluindo nações europeias mais ricas, relataram à Reuters que ainda não garantiram acomodações, devido aos preços elevados em Belém. Cotações mostradas pelos países à agência giravam em torno de 700 dólares por noite (cerca de R$ 4 mil).

O vice-ministro do Clima da Polônia, Krzysztof Bolesta, afirmou no início deste mês: “Não temos acomodações. Provavelmente teremos que reduzir a delegação ao mínimo. Em um caso extremo, talvez tenhamos que desistir de comparecer.”

Já a Holanda disse que poderá reduzir a delegação, enviando menos do que os seus habituais 90 membros. A oferta e os preços das acomodações já foram um problema em outras conferências do clima.

“Na maioria das cidades onde as COPS aconteceram, os hotéis passaram a pedir o dobro ou triplo do valor. No caso de Belém, os hotéis estão pedindo mais de 10 vezes os valores normais”, disse, ainda, o embaixador Correia do Lago.

Busca por soluções

A bolha hoteleira em Belém é provocada, em parte, pela limitação na quantidade de acomodações, apesar dos esforços para gerar mais leitos para a COP30, e pelas condições precárias em várias partes da cidade. Segundo dados oficiais, em 2022 havia apenas 12,2 mil unidades habitacionais de hospedagem, dos quais 91% eram hotéis. O Brasil diz que haverá acomodação para todos os países.

No Booking.com, que fechou parceria com o governo do Pará, seis hotéis atualmente disponibilizados para as datas da conferência têm valores entre R$ 30 mil e R$ 297 mil para uma pessoa ao longo das onze noites do evento. A plataforma afirma que não interfere nos preços das reservas.

Em julho, o governo brasileiro anunciou a contratação de dois navios de cruzeiro, que disponibilizarão 3,9 mil cabines, com capacidade de até 6 mil leitos, como hospedagem temporária. Outra aposta da organização foi o aluguel por temporada, o que fez explodirem neste ano os preços em plataformas do nicho, como o Airbnb, para até milhões de reais no período da COP30.

Além disso, uma plataforma foi contratada para gerir as acomodações, uma solução já adotada em outras COPs.

Segundo a organização da COP30, a prioridade das reservas é para um grupo de 73 países composto, em sua maioria, pelos Países Menos Desenvolvidos e Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS, na sigla em inglês), com diárias de até 220 dólares. Em seguida, os demais países poderiam adquirir acomodações por até 600 dólares, disse a organização.

ht/md (Reuters, ots)