O Palácio de Cnossos, localizado na ilha de Creta, passou a integrar a lista de Patrimônio Mundial da UNESCO. O reconhecimento inclui outros cinco sítios minoicos (Zomintos, Mália, Festo, Zacros e Cidônia), classificados como centros palacianos da Idade do Bronze, datados entre 1900 e 1100 a.C., que desempenhavam funções administrativas, econômicas e religiosas.

Considerado o sítio arqueológico mais importante de Creta, Cnossos reúne cerca de 1.300 cômodos distribuídos em um complexo construído ao redor de um grande pátio central. As estruturas mais antigas remontam ao início do segundo milênio a.C., com ampliações sucessivas ao longo do tempo. O local foi atingido por terremotos e incêndios, que destruíram grande parte das edificações, restando apenas uma terceira fase preservada.

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A relevância histórica do palácio está profundamente ligada à mitologia grega, em especial à lenda do Minotauro. Segundo a tradição, o príncipe Minos teria obtido o direito de governar Creta após pedir auxílio ao deus Poseidon, que lhe enviou um touro branco como sinal de aprovação divina. Minos prometeu sacrificá-lo, mas descumpriu o voto, o que teria provocado a punição do deus.

Como consequência, Poseidon teria inspirado em Pasífae, esposa de Minos, uma paixão pelo animal. Dessa união nasceu o Minotauro, criatura com corpo humano e cabeça de touro. Para ocultá-lo, Minos ordenou ao arquiteto Dédalo a construção de um labirinto subterrâneo. Paralelamente, Atenas foi obrigada a enviar periodicamente sete jovens e sete donzelas como tributo, após a morte de Androgeu, filho do rei cretense.

Entre os enviados estava Teseu, filho do rei Egeu, que se ofereceu voluntariamente para enfrentar a criatura. Em Cnossos, ele contou com a ajuda de Ariadne, filha de Minos, que lhe entregou um novelo de lã para marcar o caminho de volta. Teseu matou o Minotauro e conseguiu sair do labirinto seguindo o fio, encerrando simbolicamente o domínio de Minos.

O episódio foi reinterpretado na literatura moderna por Jorge Luis Borges, que escreveu: “O sol da manhã brilhava na espada de bronze. Não restava nenhum vestígio de sangue. ‘Acredita nisso, Ariadne?’, disse Teseu. ‘O Minotauro mal ofereceu resistência.’”

A força dessa narrativa atravessou séculos e influenciou diversas manifestações artísticas. A tradição literária remonta ao poeta romano Ovídio, enquanto nas artes visuais o mito foi representado de forma marcante na pintura “Minotauro” (1885), do artista inglês George Frederic Watts, que retrata a criatura observando o mar à espera de suas vítimas.

O aspecto atual do palácio deve-se, em grande parte, ao trabalho do arqueólogo britânico Sir Arthur Evans, responsável pelas escavações e reconstruções realizadas entre o final do século XIX e o início do XX. Evans cunhou o termo “minoico”, em referência ao rei Minos, e sua atuação gerou debates sobre os limites entre conservação e reconstrução interpretativa.

Entre os elementos mais destacados do sítio estão a entrada monumental com colunas vermelhas mais largas no topo, a Sala do Trono, onde se encontra o mais antigo trono conhecido da Grécia e da Europa, e os afrescos que retratam cenas rituais, figuras humanas, animais marinhos e símbolos religiosos. Murais como “O Príncipe dos Lírios”, “Damas de Azul”, o afresco dos golfinhos e o “Salto do Touro” evidenciam a centralidade dos touros, do mar e dos rituais na cultura minoica.

Os armazéns do complexo revelam a organização econômica da sociedade. Grandes recipientes de cerâmica eram usados para armazenar grãos, azeite, vinho e outros suprimentos. Dos cerca de 240 recipientes mencionados em registros antigos, aproximadamente 150 foram localizados nas escavações.

Atualmente, apenas uma parte dos 75 hectares do sítio é aberta à visitação, que costuma durar cerca de três horas. Para complementar a experiência, o Museu Arqueológico de Heraklion reúne peças originais, esculturas e murais associados a Cnossos. Além de seu patrimônio arqueológico, Creta oferece extensas praias, lagoas e enseadas ao longo de mais de mil quilômetros de litoral, bem como cidades históricas como Chania, com seu porto veneziano, que ampliam o interesse turístico da ilha.