09/10/2025 - 8:25
Israelenses e palestinos saíram às ruas para comemorar o primeiro passo de um acordo que pode encerrar a guerra em Gaza. Líderes mundiais e organizações também se manifestaram.Palestinos e familiares de reféns israelenses comemoraram na madrugada desta quinta-feira (09/10) a confirmação de que Israel e o grupo Hamas aceitaram o primeiro passo para alcançar um acordo de paz que que deve encerrar a guerra em Gaza. O plano prevê a libertação de todos os reféns, vivos ou mortos, e também o retorno de prisioneiros palestinos.
Em Gaza, onde a maioria das mais de 2 milhões de pessoas foi deslocada devido aos bombardeios israelenses, jovens foram avistados aplaudindo a iniciativa em meio às ruas devastadas, e mesmo com ataques israelenses seguindo ativos em algumas partes do enclave.
“Obrigado, Deus, pelo cessar-fogo, pelo fim do derramamento de sangue e das mortes. Não sou o único feliz, toda a Faixa de Gaza está feliz, todo o povo árabe, o mundo inteiro está feliz. Obrigado e todo o meu amor àqueles que estiveram ao nosso lado”, declarou Abdul Majeed Abd Rabbo, na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza.
Na chamada Praça dos Reféns, em Tel Aviv, onde parentes dos sequestrados pelo Hamas costumam se reunir, Einav Zaugauker, mãe de um refém, celebrou efusivamente: “Não consigo respirar, não consigo explicar o que estou sentindo… É uma loucura”, afirmou, enquanto fogos de artifício explodiam no céu.
“Não tenho palavras para descrever isso”, disse Omer Shem-tov, que foi refém do Hamas, quando questionado sobre como se sentia naquele momento.
Tamer Al-Burai, um empresário deslocado da cidade de Gaza, não conseguia parar de sorrir e chorar ao mesmo tempo: “Não acredito que sobrevivemos. Mal podemos esperar para voltar para casa, mesmo depois de terem sido destruídas… Voltar para Gaza, dormir sem medo de sermos bombardeados, tentar reconstruir nossas vidas”, afirmou à agência de notícias Reuters.
As autoridades de Gaza afirmam que a ofensiva israelense deixou mais de 67 mil mortos e grande parte do enclave foi destruída. Israel iniciou o conflito em resposta ao ataque terrorista do Hamas, perpetrado em 7 de outubro de 2023. O atentado deixou 1.200 mortos e 251 reféns foram levados para Gaza, de acordo com autoridades israelenses, que acreditam que 20 dos 48 sequestrados ainda mantidos em cativeiro estejam vivos.
Ceticismo também presente
O acordo sobre uma fase inicial do plano de 20 pontos proposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, é o resultado de negociações indiretas no Egito, mediadas pelo Catar, pelo Egito e pela Turquia. As negociações duraram três dias e foram apenas a fase inicial dessa proposta.
Mas, apesar do otimismo e da celebração de muitos, também há ceticismo em relação ao acordo e à volta para casa. A palestina Zakeya Rezik, de 58 anos, mãe de seis filhos está feliz pelo fato de nenhum de seus filhos ter sido morto, ela segue receosa, pois sua casa ficava em uma área fronteiriça que pode permanecer sob ocupação israelense.
“Nossa casa foi uma das primeiras a ser destruída, então, mesmo que a guerra acabe, continuaremos vivendo em barracas, talvez por anos, até que reconstruam Gaza, se o acordo for cumprido”, disse.
O gabinete de comunicação do governo de Gaza, liderado pelo Hamas, pediu à população para não regressar às suas casas até que o acordo seja oficialmente estabelecido, instando os palestinos a permanecerem fora das áreas ainda controladas por Israel.
As forças armadas israelenses também alertaram os residentes do norte de Gaza para não regressarem, afirmando que a área continuava a ser uma “zona de combate perigosa”.
Comunidade internacional comemora
Diversos países e órgãos internacionais também celebraram o primeiro passo para o acordo de cessar-fogo no Oriente Médio. O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a todas as partes para que cumpram a proposta. “Todos os reféns devem ser libertados de forma digna. Um cessar-fogo permanente deve ser garantido. O sofrimento deve acabar”, escreveu em um comunicado.
Guterres também encorajou ambos os lados a aproveitar o que chamou de “oportunidade histórica” para avançar com uma solução de dois Estados que permita que israelenses e palestinos vivam em paz e segurança. “As chances nunca foram tão altas”, afirmou.
As equipes das Nações Unidas estão “totalmente mobilizadas” para que seus caminhões possam finalmente entrar em Gaza e levar alimentos e outros itens básicos, afirmou o coordenador humanitário da ONU, Tom Fletcher, após o anúncio do acordo. “É uma grande notícia. Vamos retirar os reféns e levar a ajuda alimentar rapidamente”, acrescentou Fletcher.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou a resolução e elogiou os esforços diplomáticos de Estados Unidos, Catar, Egito e Turquia. “Agora, todas as partes devem respeitar integralmente os termos do acordo. Todos os reféns devem ser libertados com segurança. Deve ser estabelecido um cessar-fogo permanente. O sofrimento deve acabar”, escreveu na plataforma X, acrescentando que a União Europeia (UE) está preparada para seguir apoiando a entrega de ajuda humanitária e também para auxiliar na reconstrução de Gaza.
Reações pelo mundo
Em todo o mundo, líderes se manifestaram sobre o acordo. O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, também destacou os esforços principalmente de Catar, Egito e Turquia nas negociações, e escreveu que está “aliviado por saber que os reféns logo se reunirão com suas famílias. Após anos de intenso sofrimento, a paz finalmente parece tangível. O Canadá apela a todas as partes para que implementem rapidamente os termos acordados e trabalhem em prol de uma paz justa e duradoura”.
Os governos da Alemanha e Espanha demonstraram satisfação pelo acordo e o chefe de Estado francês considerou que o tratado pode ajudar a implementar a solução “dois Estados”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, saudou a “imensa esperança” suscitada pelo acordo entre Israel e o Hamas e manifestou a esperança de que o tratado permita a abertura de uma solução política baseada na solução de dois Estados. “A França está pronta para contribuir com esse objetivo”, destacou.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse que espera que o tratado “marque o início de uma paz justa e duradoura”. “Agora é o momento do diálogo, de ajudar a população civil e de olhar para o futuro. Com esperança. Mas também com justiça e memória. Para que as atrocidades que vivemos nunca mais aconteçam”, ressaltou.
Em Berlim, o chanceler federal alemão demonstrou satisfação em relação ao anúncio e manifestou confiança na implementação dos pontos do tratado. “Os acontecimentos em Israel são encorajadores. Estamos, naturalmente, acompanhando a situação”, disse Friedrich Merz numa coletiva de imprensa.
Na Argentina, o presidente Javier Milei saudou Trump: “Quero aproveitar a oportunidade para dizer que assinarei a candidatura de Donald J. Trump ao Prêmio Nobel da Paz, em reconhecimento à sua extraordinária contribuição para a paz internacional”, postou no X.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, descreveu o acordo como um “raio de esperança”, e que o anúncio trouxe “a expectativa de que, após oito décadas de conflito e terror, possamos quebrar esse ciclo de violência e construir algo melhor. Hoje, o mundo tem motivos para ter esperança”.
gb/cn (Reuters, dpa)