11/10/2025 - 8:16
Muitas famílias são vistas voltando a pé para o que restou de seus lares, e organizações alertam para necessidade urgente de entrada de ajuda humanitária. Em Israel, cresce expectativa sobre retorno de reféns.Um enorme contingente de palestinos exaustos retornam para suas casas destruídas neste sábado (11/10), um dia após o cessar-fogo entre Israel e o grupo extremista Hamas entrar em vigor.
O porta-voz da defesa civil de Gaza, Mahmud Bassal, disse que cerca de 200 mil palestinos se deslocaram para o norte do território desde a tarde de sexta. Muitas famílias fazem a pé esse percurso, ao longo da estrada costeira com vista para as praias arenosas em direção à Cidade de Gaza, a maior área urbana do enclave e uma das mais atacadas por Israel, que alega tratar-se de um bastião do Hamas.
Até a manhã de sábado, não houve relatos de quebra do cessar-fogo. O acordo, firmado entre as duas partes com a interferência do presidente americano, Donald Trump, marca um passo importante para acabar com uma guerra devastadora de dois anos, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, quando cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 251 sequestradas.
Segundo as contas do Ministério da Saúde de Gaza, que não diferencia entre civis e combatentes, 67 mil palestinos foram mortos, metade deles mulheres e crianças. Cerca de 90% da população de Gaza, de cerca de 2 milhões de pessoas, precisou se deslocar.
A agência de defesa civil de Gaza confirmou que as tropas israelenses e os veículos blindados estão se retirando das posições avançadas tanto na cidade de Gaza quanto em Khan Younis, que já foi a segunda área mais povoada de Gaza.
Mas Israel alertou os palestinos para que se mantivessem afastados de suas forças enquanto elas “ajustavam suas posições operacionais”.
O Ministério do Interior, controlado pelo Hamas, afirmou que estava enviando forças de segurança para as áreas de onde o exército israelense se retirou.
Assistência humanitária urgente
A ampliação da ajuda humanitária é fundamental neste momento, afirma Tess Ingram, gerente de comunicações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
“As pessoas me dizem: ‘casa é casa. Não importa se vou voltar para um monte de escombros ou para algo que ainda está de pé, quero voltar para onde nasci'”, disse ela à DW.
“É por isso que essa ampliação da resposta humanitária é tão importante. Se as pessoas estão voltando para a destruição que sabemos que existe, elas vão precisar de um apoio enorme. Vão precisar de água potável, vão precisar de abrigo.”
“O inverno está chegando, então os riscos são muito altos”, reforça. “Por isso, também estamos tentando trazer cobertores para as crianças, roupas de inverno e sapatos. É terrível ver tantas crianças andando descalças sobre os escombros.”
A Organização das Nações Unidas (ONU) recebeu luz verde de Israel para começar a entregar ajuda humanitária em maior escala em Gaza a partir de domingo, segundo apurou a agência de notícias Associated Press.
Israel é acusado de usar a fome como arma de guerra, o que motivou o Tribunal Penal Internacional (TPI) determinar a prisão do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e de seu ex-ministro da Defesa. Autoridades israelenses negam as acusações.
Nos últimos meses, a ONU e seus parceiros conseguiram entregar apenas 20% da ajuda necessária na Faixa de Gaza, de acordo com o subsecretário-geral da ONU para assuntos humanitários e coordenador de ajuda de emergência, Tom Fletcher.
Troca de reféns
A primeira fase do acordo entre Israel e o Hamas, proposto por Trump e negociado com a mediação de Egito, Catar e Turquia, inclui a libertação de todos os reféns em troca de presos palestinos e o recuo parcial do exército israelense.
No total, há 48 reféns detidos em Gaza, mas pelo menos 25 deles foram mortos – em 7 de outubro de 2023 ou enquanto estavam em cativeiro. Não está claro quantos dos cerca de 20 reféns restantes ainda estão vivos. Há apenas uma refém mulher, que Israel acredita ter morrido em cativeiro.
Israel deve libertar cerca de 2.000 prisioneiros palestinos em troca, entre eles 250 que cumprem longas penas em prisões israelenses e outros 1.700 detidos em Gaza durante a guerra.
Israel espera com grande comoção as libertações, que devem acontecer até esta segunda-feira (13/10). Rostos dos reféns israelenses estampam cartazes em toda esquina, agora desbotados pelo sol e rasgados. Suas histórias, contadas por familiares angustiados, são quase tão conhecidas quanto celebridades.
São civis e soldados. Alguns estavam no festival de música Nova, onde quase 400 pessoas foram mortas e dezenas sequestradas.
sf (DW, AP, ots)