04/12/2024 - 16:01
Uma em cada cem pessoas sofrem com problemas estomacais em razão do glúten, muitas delas por casos atrelados a raízes genéticas. No entanto, as condições dos ambientes e modo de vida também podem impactar nas reações fisiológicas. Um novo estudo, publicado na revista Gastroenterology, liderado por uma equipe de cientistas da Universidade McMaster, Canadá, buscou entender o funcionamento das respostas inflamatórias ao glúten.
A investigação, realizada com camundongos transgênicos, revelou o papel essencial das células que revestem o intestino na reação imunológica associada à da doença celíaca, uma condição autoimune desencadeadas pela presença da proteína do glúten no organismo.
Todos os alimentos que contêm trigo, cevada ou centeio – em maioria assados, massas e pães – apresentam risco de provocar sintomas desconfortáveis como: inchaço, dor, diarreia, constipação, refluxo e vômito. Até o momento, não existe uma cura completa para a condição. A única maneira de evitar os sintomas é não consumir os alimentos e prepará-los sem o contato de outras comidas que contenham o composto.
Aproximadamente 90% da população diagnosticada com a doença possui um par de genes codificadores da proteína HLA-DQ2.5. A maioria dos 10% restantes carrega uma proteína semelhante chamada HLA-DQ8. Ambas agem da mesma forma, mantendo pedaços resistentes de glúten e atacando o próprio organismo. Segundo especialistas, porém, nem todos que possuem o gene desenvolverão o distúrbio imunológico.
Como as células que revestem as paredes intestinais são responsáveis por liberar proteínas que causam uma resposta inflamatória, os cientistas concentraram a pesquisa nesse processo devido à sua relevância para a doença celíaca. A análise examinou a expressão do sistema imunológico nas células intestinais de pessoas com a doença celíaca, tanto tratadas quanto não tratadas, além de camundongos portadores dos genes humanos para HLA-DQ2.5.
Os cientistas criaram os organoides — modelos funcionais vivos — por meio das células intestinais dos camundongos, as submetendo a gatilhos inflamatórios, assim como ao glúten pré-digerido e intacto. “Isso nos permitiu restringir a causa e o efeito específicos e provar exatamente se e como a reação ocorre”, explicou o engenheiro biomédico da McMasters, Tohid Didar.
A partir desse segundo resultado, ficou evidente que as partículas que revestem o intestino são agentes-chave no processo. Elas armazenam uma mistura de fragmentos de glúten quebrados por bactérias intestinais e transportam enzimas para células imunológicas específicas do glúten em primeira mão, impulsionando a inflamação.
O aumento do conhecimento sobre os tecidos envolvidos no sistema fornece aos pesquisadores uma nova lista de alvos para tratamentos futuros – o que permite que milhões de pessoas não tenham que continuar sofrendo com a condição celíaca.