Se depois de ler a reportagem de PLANETA sobre os “viageiros profissionais” você ficou com vontade de arrumar as malas para sair pelo mundo, veja os conselhos de quem já vive com o pé na estrada. Se ainda não leu a reportagem, dentro de alguns dias vai poder ler o texto na íntegra aqui, e embarcar.

 

Testado e aprovado
DICA: Ter uma experiência prévia de viagem no formato que deseja realizar por longo tempo ou no estilo de vida que deseja adotar.
Antes de embarcar na aventura da sua vida, é melhor conferir ao vivo e em cores se você realmente vai se adaptar ao que escolheu – seja se mudar para um barco, passar meses acampando pelo país, viajar milhares de quilômetros de moto, etc.
Desapegar-se de coisas materiais costuma ser palavra de ordem. Em geral, será preciso lidar com uma limitação de espaço, energia elétrica e de várias comodidades. “No caso do barco, por exemplo, antes de comprar qualquer coisa, mais do que pensar em dinheiro, você precisa saber se tem lugar para guardar o objeto”, explica Cecília Passos Jorge, que morou nove anos no Planckton, veleiro de 43 pés, com o marido, Fabio, e o filho, hoje com 7 anos. Ela brinca que Fabio a enganou. “Ele me disse que íamos viver de praia em praia, tomando caipirinha, mas não é nem assim. Tudo é mais trabalhoso fisicamente no barco”, ri.

Convivência pacífica
DICA: As companhias fazem toda a diferença.
Cecília também alerta a quem planeja embarcar numa aventura acompanhado que o relacionamento marido-mulher tem de estar resolvido, e ainda assim é preciso manter boa disposição para conversar sobre as questões que surgirem. “Senão, não dá certo”, destaca. A dica também vale se a companhia for um amigo ou parente.

Penso, logo desisto?
DICA: Fazer uma avaliação crítica, fria e realista das suas próprias condições. Confrontar seu estado ao que a viagem demanda em esforço físico, conhecimento técnico, etc.
“Você pode pensar ‘é só uma caminhada’, mas se for de 100 km demanda muito mais”, comenta Johnny Mazzilli, “fotógrafo e escrivinhador”, como se define, e colaborador de PLANETA. Ele considera essencial fazer uma avaliação crítica, fria e realista das próprias condições. Mazzilli destaca ainda que é fundamental reunir informações do que será preciso para viver a aventura desejada – e sobreviver. Níveis de dificuldade do percurso, temperatura, equipamentos… Tudo!

Idade é psicológica
DICA: Para ser um aventureiro, pesa mais a situação da sua saúde, do que a sua idade.
“O físico precisa estar alinhado com o psicológico”, diz Rodrigo Fiúza, “autônomo da aventura” ou “aventureiro profissional”, como gosta de se definir. Ter mais idade até ajuda, porque o lado psicológico ajuda muito. As pessoas mais experientes saem na vantagem, segundo ele.

Nervos de aço
DICA: Preparar-se mentalmente, também.
Para Rodrigo Fiúza, que já rodou 280 mil quilômetros em moto mundo afora, uma viagem tem três fases, e o psicológico precisa se adaptar a cada uma:
1) Deixar tudo para trás e controlar a ansiedade sobre o que vai acontecer. Você provavelmente não terá mais banho gostoso, comida elaborada, festas de família e o cotidiano. “A gente não valoriza o cotidiano, mas na hora que cai na estrada sente falta dele.”
2) Aproveitar a viagem. Essa costuma ser a melhor etapa. Você já se adaptou, já se desapegou e consegue viver cada dia.
3) A reta final geralmente prega suas peças. “Quando faltam menos de 10 mil km ou 15 dias, e já dá para ver a chegada, você já não se está mais preparado para enfrentar desafios. É fácil perder a estabilidade emocional”, alerta Fiúza.

Cada coisa a seu tempo
DICA: Manter um ritmo de viagem mais leve e solto. Mantenha espaço para se desviar do caminho traçado, quando desejar.
Felipe Baenninger, fotógrafo que desenvolve o Projeto Transite, documentário fotográfico do uso da bicicleta no Brasil, sugere que se viva um dia depois do outro. “O projeto tem suas metas a serem cumpridas, mas quando segui um ritmo muito à risca, comecei a ficar desequilibrado”, conta. Depois de passar por isso, ele acredita que os segredos da viagem estão em permitir-se tempo. “Quando lidamos bem com o tempo e não somos tão rígidos, nós nos permitimos viver experiências únicas.”

Quem tem boca vai a Roma
DICA: Manter sempre alguém avisado do seu itinerário geral, da programação diária e dos seus problemas de saúde.
“É uma questão de sobrevivência deixar sempre alguém sabendo aonde você vai e que dia ou horário volta, seja alguém da família, um amigo, ou mesmo os recepcionistas do hotel”, explica Mazzilli. No caso de você ter algum problema crônico, como alergia a picadas de insetos ou pressão alta, também é importante avisar quem estiver por perto. Tenha à mão medicamentos que possa necessitar nesses casos, e aqueles que você toma regularmente.

Na medida certa
DICA: Carregue somente o estritamente necessário.
Reduzir ao mínimo sua bagagem é a melhor escolha que você pode fazer. Leve apenas o peso essencial. “Geralmente, roupa é peso em excesso, embora enjoe usar todo dia a mesma roupa.” Todos são unânimes em dizer isso.

Rico em experiências
DICA: Não espere ganhar dinheiro à base de viagens.
Mazzilli brinca – falando sério – que não dá para ter tudo nesta vida. “Você precisa escolher. Eu abri mão de dinheiro e de tudo o que poderia comprar com ele, mas não me arrependo”, avisa. Na verdade, ele se considera uma pessoa privilegiada de ter tido a oportunidade de fazer todas as viagens que fez e ter conhecido tantos lugares no mundo.
Estabilidade e salário fixo são as únicas coisas que fazem Rodrigo Fiúza se questionar “e se eu tivesse levado uma vida mais tradicional”. O “autônomo da aventura” ou “aventureiro profissional”, como gosta de se definir, garante que, até agora, não se arrependeu de optar por viver a vida sobre uma moto.